sábado, 1 de dezembro de 2012

Primeiro amor de minha vida.


1
I CAPÍTULO
A VOLTA ÀS SUAS ORIGENS.
A chegada de Mariana à sua cidade, de onde havia saído há muitos anos trouxe-lhe recordações do seu passado, de quando era uma mocinha cheia de sonhos e ilusões, de quando via o mundo azul e rosa. Mariana desceu do ônibus em uma avenida movimentada, seu pensamento volta como raio ao ano de 1970. Aquela rua era tão pacata, pensava Mariana, e resolveu andar um pouco mais, observando os casarões conservados por seus novos donos. Onde havia o armazém do japonês, agora se erguera um suntuoso edifício. Era o armazém onde comprava alimentos para sua mãe, e que agora está irreconhecível. Passa por ela uma senhora conversando com seu filho. Ela se lembra de sua mãe, recordando a luta diária pela educação de Mariana e seus irmãos. Chegando à rua sessenta e três, onde vivera a sua adolescência, cheia de magias, no esplendor dos seus quatorze anos, quando ainda brincava de pique-pega, e de carimbada com os meninos da rua. Quanta historia vivida naquele lugar, pensativa quase que guiada por fios invisíveis, que a unia com o passado tão distante, mas tão pungente em suas lembranças. Parou de súbito, em frente ao número 23, tudo estava tão diferente, aquela casa que antes era branca, hoje estava com a cor abóbora, aquele jardim que fora cenário de tantos sonhos lindos, não restava nada. Tinham construído um barracão para ser alugado. Onde será que foi aquela família que lá morava. Se sente zonza, um leve mal estar lhe abate, lembra que mal se alimentara. Do outro lado da rua, vê uma lanchonete, atravessa e vai ao balcão e pede uma coca-cola e uma empada. A moça pede que aguarde um pouquinho, mesinhas tinham sido colocadas na frente da lanchonete, aproveitando a sombra de uma frondosa árvore, sentou-se à mesa mais próxima da árvore, e seus olhos ansiosos procuravam por um nome que estava gravado em seu tronco. Uma lágrima escorreu em sua face, Márcio Ama Mariana, fora gravado com a ponta de uma faquinha, em uma tarde calorosa de verão. Seus pensamentos a levaram para aquele instante, em que ambos acreditavam em que nada no mundo poderia separá-los. Como amava Márcio. Lembrou-se que todos os dias os dois subiam a rua até aquela lanchonete para comprar um sonho de valsa. As lágrimas rolaram intensamente e a mulher chorou lágrimas guardadas de uma vida inteira. E Mariana se transportou para aquele passado mágico de tanto amor.
-Senhora, a sua coca-cola e sua empadinha, deseja algo mais?
Mariana volta subitamente.
-não, minha querida, está tudo bem!
-Com licença.
Começou a chuviscar e as gotas fortes bateram em seu rosto que estava úmido
ainda.
-Senhora venha para cá, esse chuvisqueiro é passageiro.
-É eu sei.
Mariana levantou e sentou em outra mesinha, que estava dentro da lanchonete, continuou a observar os pingos que caiam sobre as folhas, lembrou de uma Música dos Beatles, e seu passado começa a desfilar a sua frente.
O mês de maio já havia chegado, naquela semana havia chovido muito, tinha amanhecido o sábado com tímidos raios de sol. A criançada alvoroçada brincava no meio da rua, pareciam formigas. A Rua sessenta e três era conhecida por ter tantos meninos, era época de bolinha de gude, pique-pega, carimbada. Durante o dia sempre era festa, só se acalmando quando começava a noite.
No final da tarde do dia anterior, chegara uma mudança para o número 23.
Aquela casa branca que tinha um jardim todo verde, a família chegou logo em seguida, veio do Rio Janeiro, eram uma família numerosa, com os pais o avô e cinco filhos. Na Rua 63 havia uma peculiaridade, todos os seus moradores eram antigos, as famílias já se conheciam de longa data, menos a família que moravam na casa da esquina, que se mudara há menos de um ano para lá. Por todos se conhecerem tanto, Surgiam muitos mexericos. Bem de manhã já havia comentários entre os meninos da rua, sobre aquela família, as meninas falavam da beleza dos rapazes, modernos vindos de uma cidade grande, tão comentada que era o Rio de Janeiro.
A família que se mudara há menos de um ano para aquela esquina se diferenciava das famílias restantes. Falavam que eram distintos, e que em outras épocas, chegaram a ter posses, mas queda nos negócios perdeu tudo. e tiveram de morar naquela casa humilde de
O primeiro amor de minha vida. 2
esquina. A maioria das famílias daquela rua era de fazendeiros, com suas casas bonitas e suas mesas fartas. Dona Maria, mãe daquela prole de seis filhos, era uma mulher forte e autêntica. Procurava dar uma educação rígida para seus filhos, e não permitia que participassem de mexericos, nem os aceitava o dia inteiro na rua, como era o costume das
outras mães. Mariana, sua segunda filha estava com seus lindos quatorze anos. Bonita menina de cabelo preto e longo chamava atenção por sua desenvoltura. Todos os filhos de Dona Maria se destacavam no meio da garotada da rua. Seu José que era um pai bom e muito trabalhador procurava de todas as formas levar o sustento para sua numerosa família. Naquela manhã, Dona Maria foi até o portão chamar Dalton, seu filho mais velho, que estava jogando bolinha com os outros garotos da rua, quando sua vizinha Geralda lhe chamou:
-Dona Maria, Bom Dia!
-Bom Dia Dona Geralda! Está melhor da gripe?
- Ah! E mãe tem o direito a ficar doente?
As duas riram da realidade delas.
- Dona Maria a senhora ficou sabendo do povo que mudou ontem?
- Não, eu nem pus o nariz no portão. Lavei roupa o dia todo, enchi todos os arames do quintal, a Senhora não viu?
- Pois é eu vi sim, mas a Donana veio me falar da mudança daquele povo, até agora ninguém viu nenhum morador daquela casa, a senhora ficou sabendo de alguma coisa?
- Dona Geralda depois a gente conversa mais, estou com as panelas no fogo.
Dona Maria não gostava de fofocas, e arranjava logo uma desculpa para se afastar. Foi para o meio da rua e começou a gritar:
- Dalton, Dalton, onde esse menino se enfiou?
Mas a frente uma roda de meninos, um levantou a cabeça e gritou?
- Mãe! Já vou!
- Passe logo para casa Dalton.
O menino desceu a rua correndo, falando para meninada que logo voltaria, assim que visse o que a mãe queria com ele.
- Tá vendo Dona Geralda, eles não têm nem fome quando estão brincando.
Dona Maria falando isso, entrou para sua casa.
- Mariana, vá lá no armazém do Japonês, comprar um litro de óleo para mim, mas não pare
para conversar com a Fatinha e nem com ninguém, é um pé lá e outro cá. Se não seu pai Chega para almoçar e eu nem terminei a comida.
- Tá, mãe!
Mariana penteou seus cabelos, pegou o dinheiro que a mãe lhe deu e saiu. Lá ia Mariana, com seus sonhos, subindo a sessenta e três, era muito tímida, logo avistou uns jovens, e estremeceu só de imaginar que teria de passar por eles. Em frente à casa de número vinte três, Mariana diminuiu seus passos para poder olhar entre as grades. Não viu ninguém, lembrou-se do que a mãe lhe pedira, apressou os passos, passou em frente à turma de rapazes, pôde ouvir um mais atrevido dizer:
- Eh! Mariana! Como é bonita essa menina! Ah! Se eu não fosse mais velho.
Mariana era muito desejada pelos rapazes e por isso despertava inveja e ciúme entre as meninas. Mas era muito ingênua e nem percebia. Sua mãe que já havia observado lhe avisava para tomar cuidado. Ao voltar do armazém, mudou de rua para evitar os rapazes. Ela que era uma filha carinhosa e muito responsável procurava colaborar com seus pais nos cuidados com seus irmãos, e despertando a admiração das pessoas. Desta forma, aumentava ainda mais o despeito das meninas de sua idade. Era uma época em que o país passava por grande repressão, mas os olhos de Mariana eram muito puros para ver. E sendo romântica como era não poderia compreender tais atitudes. Nos finais de tarde, os jovens da rua se reuniam em algum dos quintais de qualquer um, levavam uma radiola, outros levavam alguns discos de vinil e ficavam a ouvir os Beatles. Dançavam e sonhavam com um mundo feliz, mas nestes encontros quase nunca Mariana participava. O passeio dela era subir a sessenta e três a fim de fazer compras para sua mãe. Sempre bonita, suas roupas eram simples, e os cabelos penteados. Quando sorria, uma covinha na face direita a deixava mais encantadora.
Já havia passado uma semana da chegada dos Almeida Campos. Até aquele momento ela não tinha visto ninguém. Fatinha, sua amiga, havia lhe contado muitas histórias que ela não sabia ao certo se era fantasia ou realidade.
O primeiro amor de minha vida. 3
-Mariana aonde vai com tanta pressa?
Gritou Fátima.
-Lá no Japonês! E você? O que está fazendo?
-Nada, respondeu Fátima.
- Então venha comigo.
- Tá, só não posso demorar. Você sabe né? Meus irmãos vêm atrás de mim!
- Não. A gente não demora tá?
- Mariana, a Judite me falou que Márcio estará lá, conversando com a Turma. Quer ir?
- Quem é esse Márcio?
- Eu não te contei?
- Não. Me conta logo. O quê?
- É o garoto do Rio que se mudou lá para casa do número vinte três.
- Então você o viu?
- Sim. Só não conversei.
- E como ele é?
- Lindo! Lindo! Lindo!
- Mesmo? Não é exagero seu?
- Então vá e veja com seus próprios olhos.
- Ah! Se minha mãe deixar eu vou. Neste bate papo seguiram as meninas para o Armazém.
Nos fins de tarde sempre caia um gostoso chuvisqueiro que deixava a tarde mais bonita. Era a hora que os meninos saíam para continuarem suas brincadeiras no meio da rua. Mariana, encostada no seu portão, ficava só a observar as corridas de pique pega ou a turma que ficava brincando de carimbada. De vez em quando olhava no final da rua para ver se as meninas estavam sentadas no muro lá da casa da Judite. Mas teria que criar coragem para pedir à sua mãe, para ir lá. Quando sua mãe se aproxima suavemente.
-Mariana! O que foi minha filha? Ta aí tão quieta, pensativa.
- Mamãe, a senhora me deixa sair um pouquinho?
- Mas, aonde quer ir minha filha?
- Lá na porta da casa da Judite. A turma vai se reunir lá!
- Você sabe que seu pai não gosta de você na rua.
Dona Maria percebeu que Mariana ficou triste, e ficou com dó da menina.
- Mas veja! Vá um pouquinho lá, não demore senão seu pai se zanga. Troque de vestido.
Mariana ficou muito alegre, deu um beijo em sua mãe e saiu rapidamente para se arrumar. Logo subia alegremente a rua sessenta e três. Desde o momento em que conversou com sua amiga Fátima sobre o novo rapaz da rua, se sentia cheia de indagações. Algo lhe dizia que aquele encontro seria especial. Mariana estava usando um vestido rosa claro, de um tecido bordado de pequenas flores, cabelo solto no vento e calçava um tamanquinho branco, estava simplesmente linda. A sua doçura de menina a tornava ainda mais encantadora. Aproximou-se da roda que estava bem animada. Quando disse Boa Noite, a roda se abriu e entre os olhares admirados de todos, o seu olhar entreolhou-se com o de Márcio e logo se apaixonaram fulminantemente. Um dos meninos fez a apresentação e para os dois, não havia mais ninguém ao redor.
- Muito prazer gatinha! Eu sou o Márcio.
- O prazer é meu, Mariana.
Mariana estava com a face rosada, ficando mais atraente. Márcio se adiantou, pegou sua mão e sem se acanhar, lhe perguntou se poderia dar uma volta para conversarem. ela Ficou indecisa.
- Não sei se devo, minha mãe pode não gostar.
- Ei! Nós vamos até a pracinha!
Esta pracinha ficava na rua de cima. Lá sempre havia casais de namorado. Mariana pensou, e decidiu ir.
O primeiro amor de minha vida. 4
-Só se formos rápido. Não posso demorar.
Sob os olhares maliciosos de todos, os dois se afastaram. Mariana não acreditava que tinha tido coragem de falar e de sair sozinha, ele lhe inspirou muita confiança. O sentimento que os envolvia era inexplicável. É assunto de Deus. Como se fossem almas Gêmeas, e o encontro já tivesse marcado. Caminharam por alguns minutos, e Márcio muito falante, percebeu o quanto Mariana era ingênua, e perguntava se seria possível alguma menina assim naqueles tempos.
- Mariana, quantos anos você tem?
-Quatorze, e você?
- Dezessete anos. Fale-me de você, onde mora? Tem irmãos?
- Moro no final da rua sessenta e três esquina com a rua setenta e oito, Dalton é meu irmão mais velho, tem quinze anos. Depois de mim, tem a minha irmã Solange, depois o João Carlos, aí vem a Ana Carolina e o caçula, Diogo.
- Bastantes irmãos! Vocês se dão bem?
- Mais ou menos. Eles dão muito trabalho, e minha mãe só pode contar comigo. Tem horas que é muito difícil, mas eu os adoro. E você Márcio, por que saiu da sua cidade, e sua família, quantos são?
- Ah! Minha história é mais complicada, com meu pai, aconteceram coisas ruins nos negócios e aqui em Goiânia temos parentes com uma situação financeira muito boa. Eles incentivaram meus pais a virem. Ficou no Rio de janeiro minha irmã do meio que faz Faculdade, veio o Jobson, meu irmão mais velho, Leonardo e Ana Maria que é a caçula. Tomara que dê certo. Eu e Jobson temos de arrumar um trabalho para ajudarmos em casa, pois nem o Leonardo nem a Ana têm idade para trabalhar.
-Vai dar certo, você vai ver!
Pegando a mão de Mariana a conduziu para sentarem-se em um banco de cimento. Sentou a seu lado e carinhosamente lhe falou:
- Gatinha você é muito linda. Quer namorar comigo?
Mariana emudeceu, estava nervosa, pois nunca estivera nessa situação. Pensou em recusar por causa de seus pais, mas o seu desejo era maior.
- Eu quero. Só que você precisa ir falar com meus pais.
Márcio calou, ficando pensativo quanto àquela situação. Nunca precisou ir à casa de uma menina para pedi-la em namoro. A responsabilidade causou um certo medo.
- Mariana, não é do meu costume isso, mas menina, eu quero ficar com você, eu vou.
Os dois jovens ficaram ali mais um tempinho conversando, e a cada minuto ele se convencia que realmente ela era uma menina especial.
-estou indignado! Como existem pessoas maliciosas que vêem maldade em tudo?
-por que você esta dizendo isto?
-aqueles seus amigos falaram tão mal de você.
-Quem falou?
- Não devo pôr mais lenha na fogueira. Só te peço que tome cuidado, pelo pouco que te conheço percebo que é muito simples.
-Eu procuro evitar a maioria dos rapazes da minha rua, eles são sem respeito e atrevidos, Tenho mais amizade com Antônio e o João que é irmão da celeste. Desses dois eu gosto muito.
-Que absurdo! Pensando melhor, eu vou te dizer. Justo de quem você mais gosta. Foi o João... Que bicho falso!
Mariana ficou triste, pois acreditava em sua amizade.
-Ei! Não fique assim!
Passando o braço por seu ombro. Mariana ficou encabulada.
-Por favor, vamos embora.
-Mas por quê? Foi o que falei?
-Não, eu preciso. Prometi à minha mãe que não demoraria. Ela pode vir atrás de mim. Virgem Maria!
Márcio riu do apuro da menina, deu a mão e a conduziu.
-Vou levá-la para a casa.
-Não! Por favor, só depois que for falar com meus pais.
-Então me deixe leva-la até perto de sua casa.
O primeiro amor de minha vida. 5
-Está certo.
Quando os dois iam descendo pela cinqüenta e nove, a rua da pracinha, no trecho que estava escuro, ele aproveitou para abraçá-la e lhe dar um beijo que ela nunca havia conhecido, molhado e de língua. Ela sentiu sua cabeça zonza e um enjôo no estômago. Mariana afastou-se apressando o passo.
-Oh! Gatinha calma! Te falei, eu vou te acompanhar.
Ela fez o percurso em silêncio, e ele insistindo em conversar. Mariana ficou muito assustada, com o que estava sentindo, e com medo de alguém ter visto aquela cena. O falatório daquela gente seria terrível. Não perdoavam ninguém. Não parava de pensar.
-Por que sentiu aquele enjôo? Será que ele a procuraria para namorar, depois do que aconteceu?
Aquela intimidade para Márcio, aquele beijo era muito normal, a menina que era especial! No Rio de Janeiro, as meninas eram mais modernas, e Mariana estava muito assustada. Tudo era novo.
-Chegamos boa noite minha princesa!
Quis puxá-la para dar outro beijo, Mariana afastou-se rapidamente.
-Tchau!
Márcio riu da situação, ao vê-la sair correndo.
-Que menina maluquinha! Que gracinha!
O cúpido havia acertado seu coração de cheio. Voltou para casa evitando passar
por perto daquela turma.Sentiu que o melhor a fazer era se afastar para evitar problemas.
Entrou em sua casa com o pensamento longe, sem perceber que sua mãe estava
sentada tomando um chá na cozinha. Abriu a geladeira para pegar água.
-Márcio onde estava? Seu pai perguntou por você!
-Ora! Na porta de casa, conhecendo os novos vizinhos.
-Seu pai está muito nervoso: Ele não quer ver vocês na rua.
-Mamãe! Só dei uma voltinha. Não foi nada demais.
-O seu tio falou para seu pai que está arrumando um trabalho para você.
-O meu tio falou onde?
-Márcio! Não importa. Não estamos em condições de escolher. Você melhor que ninguém, sabe das nossas dificuldades.
-Não estou criando dificuldades. Só queria saber! A senhora tem razão-
-Sabe do Jobson?
-Nem o vi sair.
-Seu avô não está se sentindo bem, agora à noite.
-O que aconteceu?
-acho que é o clima seco de Goiânia. Tinham me avisado. Mas eu não sabia que era tanto assim. Conforme o jeito que ele acordar amanhã, o levo ao médico.
-Boa noite mamãe!
Apesar dos problemas de toda sua família, Márcio não podia esquecer que aquela noite havia sido muito especial, não via a hora que amanhecesse para encontrar com Mariana, e beijar aquela boca tão doce; sentir seu cheiro suave.
No dia seguinte, logo bem cedo, Mariana aproxima-se de sua mãe com intenção de contar para ela sobre o pedido de namoro, mas sempre muito ocupada com a lida da casa, ficou por ali em volta querendo ajudá-la em tudo. Sua mãe ficou desconfiada.
-Menina, você está me deixando nervosa, fale-me!
-Como que a senhora sabe se eu quero falar alguma coisa?
-minha filha! Esqueceu que sou tua mãe? Que a conheço muito bem!
-Mãe! Ontem eu conheci um rapaz! Ele me pediu em namoro. Eu disse a ele que viesse falar com a senhora e meu pai. Ele disse que quer namorar comigo.
-Minha filha, quem é esse rapaz? Filha você é muito nova para namorar. Seu pai não vai gostar nada desta conversa. Ele não a deixa nem sair de casa!
-Ele mudou-se do Rio de Janeiro com sua família. Mamãe peça para o papai! Nós namoramos aqui, em casa.
-Mariana onde? A nossa casa é tão pequena!
Dona Maria estava assustada com esta novidade. Ela sabia que seu marido não aceitaria. Sempre foi muito ciumento, e via a Mariana como criança. O que fazer nesta situação?
-Filha, vou tentar! Não prometo nada.
O primeiro amor de minha vida. 6
Logo a Fátima gritou pela Mariana no portão. Dona Maria ralhou com a garota, pois tinha muito o que fazer.
-Menina! Não quero você no portão. Essas meninas não têm o que fazer em casa, elas são rica, você não! E se elas fizerem algo errado, a culpa vai cair sobre você, por sermos pobres.
Lá da porta da sala Mariana gritou para sua amiga que sua mãe não a deixava sair. Mariana passou o dia sem sair de casa. A todo momento, ia à sua porta uma amiga para chamá-la, e a resposta era a mesma. Todas estavam curiosas por saber o que aconteceu na conversa com o Márcio. Dona Maria estava certa em segurar sua filha em casa. Ela estava se sentindo culpada, por ter permitido que Mariana saísse naquele dia. Márcio já havia passado muitas vezes pela porta da casa dela. À tarde ficou lá em frente à sua casa, porque ficou sabendo que ela sempre fazia compras para sua mãe. Só que, naquela tarde não saíra para nenhum lugar. Márcio estava doido para vê-la e com Mariana não era diferente. O dia se passou com muita agonia para os dois e para Dona Maria que iria conversar com seu José. No almoço ela não teve coragem. Deixou para a noite, no momento de descanso na espreguiçadeira, debaixo da mangueira tocando seu cavaquinho. Mariana estava muito ansiosa depois do jantar. Foi para o quarto que dividia com seus cinco irmãos. Pegou um livro e foi lê-lo deitada em seu beliche. Seu pai chamou por ela, pedindo que levasse um café, como era hábito de ela sentar no lado deles para ouvir o pai tocar seus lindos chorinhos. Dona Maria que levou o café. Maria serviu o café em um copo, puxando uma cadeira para perto de seu marido, Sentando.
- Está bom! O seu café.
-Maria cadê os meninos? E as meninas?
-Estão todos assistindo à televisão. Menos Mariana, que está deitada.
-Mas o que foi? Está doente?
-Não Zé. Pior, está apaixonada por um rapaz que mudou aqui para a rua.
-Maria! Não me fale uma coisa dessas!
-O rapaz parece ser de bem. E ele quer te pedir permissão para namorá-la
aqui, em casa.
-Nem pensar! Nossa filha é muito nova.
-Zé. Pensa bem! Estão apaixonados. É melhor ser debaixo dos nossos olhos, do que namorando às escondidas, por aí.
-Maria! Você acha que nossa filha desobedeceria a uma ordem nossa?
-Ela sempre foi muito obediente, mas um adolescente apaixonado é muito perigoso. Vamos permitir que ele venha para que nos o conheçamos. O que você acha desta idéia?
-Na verdade não gosto nada disto. Por mim eu a trancava a sete chaves.
Seu José estava muito chateado com aquela conversa. Sabia que sua esposa tinha razão. Ficou em silêncio começando a tocar seu cavaquinho. Depois de tocar umas três musicas; Pediu outro café. Antes que a mulher saísse, disse que concordava com a sua decisão.
À noite, enquanto seu José tocava seu pequeno violão, seu Guimarães, um português,
amável e muito alegre que era casado com Franscisca, levavam duas cadeiras e sentavam
debaixo da mangueira, e a prosa animava a noite.Maria aproveitando a chegada dos
vizinhos deu uma escapulidinha para ver como os meninos estavam lá dentro, e foi ver
se Mariana estava dormindo.
-Mariana! Está dormindo?
-Não! Estou lendo, mas já vou dormir. A senhora falou com o papai?
-Sim! Depois de muitas dificuldades, ele concordou em conhecer o rapaz.
-Obrigada mamãe! Sua benção.
-Deus a abençoe e Jesus a proteja.
Maria estava preocupada com a filha. Estava crescendo muito rápido. Ela sabia que os pais criam seus filhos para um dia os verem partir. Esta é a lei da vida! Dona Maria naquele instante parou na porta do quarto e ficou olhando para sua filha que já dormia. Sua vida só estava começando. Quantas alegrias e tristezas ela iria passar por toda a vida! Recordou que naquela semana Mariana leu para ela uns lindos poemas de Gibram Kalil Gibram que tinha muito a ver com os seus pensamentos.
A noite passou como relâmpago em noite de tempestade. Amanhecendo um lindo dia cheio de esperanças. Mariana acordou com muita disposição, estava deitada ainda ouvindo os ruídos que vinha da cozinha. Já era sua mãe preparando o lanche da família. O cheiro de café
O primeiro amor de minha vida. 7
invadiu o quarto, aguçando a fome dela e de seus irmãos. O sossego da Casa acabara. Mariana resolve levantar logo que escutou sua mãe chamá-la, como era de costume! Pulou da cama, se trocou e foi para lida.
-Mariana! Vá a padaria buscar o leite e o pão.
-Mamãe, mande o Dalton.
-prefiro que você vá. O seu irmão demora.
Mariana não queria sair de qualquer jeito. Receava que fosse vista por Márcio, a vida agora era diferente! Era assim que estava se sentindo depois que saiu da padaria. Deu a volta no quarteirão só para não passar em frente à casa dele. Na noite anterior, ficou até tarde pensando naquela súbita paixão, que estava tirando seu raciocínio a sua tranqüilidade de menina. No momento em que ele a abraçou, pôde sentir seu perfume e o seu cheiro entrou em sua alma. Nunca tinha experimentado aquela sensação, e quando pensava, sentia seu corpo vibrar. A menina pensava e sonhava com o momento em que veria o seu amor. Quando chegou com o pão seu pai já tinha ido trabalhar. Ela não havia percebido que o Tempo tinha passado tão depressa.
-Minha filha! O que aconteceu? Hoje você demorou muito? Eu que não queria mandar o Dalton por ele sempre demorar!
- desculpe-me mamãe. Distraí-me!
Mariana depois do café e da bronca que levou, foi para o quarto arrumar as camas. Sua mãe levantava já agitada com uma família de seis filhos, e não faltava serviço, de lavar, limpar cozinhar. Era o seu cotidiano. A casa era pequena, com uma cozinha sala e dois quartos tão pequenos que era inconcebível caber tantas pessoas ali. Do lado de fora havia um pequeno puxado com telhado que abrigava o tanque de lavar roupas, e minúsculo banheiro.
Gritou Dona Maria lá do tanque.
-Mariana!
A menina veio correndo, pois sabia que sua mãe não tolerava demora!
-Que foi mãe?
-Solange vai ajudá-la. Ela vai varrer a casa e você, passe o pano molhado.
-mas mãe, o Dalton está lá na sala com o Paulinho e o Antônio ouvindo música. Ele me prometeu um tabefe se eu passar por lá de novo.
-Vai lá e diz para ele que vai apanhar de mim se fizer isso. E chame sua irmã para Ajudar, olhe a mala grande de roupa que vou lavar, só paro para fazer o almoço.
A manhã passou com o alvoroço dos meninos da rua, indo atrás de seus irmãos Dalton e João Carlos. Isso já não incomodava mais Mariana que antes pedia a sua mãe para deixá-la sair. Agora seu interesse era outro, preferiria sair à noite para tentar ver discretamente o menino de seus olhos.
À noite, como era esperada, Mariana pediu à sua mãe que a deixasse dar uma volta, mas sua mãe, com receio de seu marido, a proibiu. Só permitindo que ficasse no portão. Para ela isto era a morte, como veria Márcio, de qualquer forma era melhor que não sair de casa. Enfeitou-se, perfumou e foi para o portão. A meninada brincava a toda energia, estavam envoltos em uma alegria contagiante, em um encantamento que só é possível que ocorra, quando os homens ainda são crianças; vivem dentro de um mundo pueril. É deste mundo que Mariana estava se despertando e entrando de coração, corpo e alma, desnuda para vida, largando as cirandas e almejando alçar vôos a sentimentos e emoções tão desconhecidos para ela. Naquele final de tarde sua mãe só a deixou ficar no portão, com a recomendação que não saísse de lá. O desejo de Mariana era de desobedecê-la e ir ao encontro de Márcio, contudo, sempre teve a confiança de sua amada mãe. Mesmo estando apaixonada sua sensatez fez com que pensasse melhor.
-Na verdade se ele quisesse- me ver já teria me procurado. Eu não devia ter deixado que me beijasse. Virgem Maria! Se minha mãe fica sabendo de uma coisa dessas, em meio a tantas reflexões ficou triste, resolveu entrar. A noite chega, e junto a ela vem o descanso de Senhor José, com seu cavaquinho, sentado debaixo do pé de manga. O firmamento parecia um manto bordado com minúsculas estrelas, à lua estava alva e no ar tinha um cheiro de amor. Mariana pegou uma cadeira e sentou-se ao lado de sua mãe acariciando sua mão, ouvindo seu pai a dedilhar, quando um jovem entra pelo quintal adentro.
-Boa noite, Senhor José e Dona Maria! Sou o Márcio, Mariana deve ter lhes falado que eu viria...
Mariana estremeceu. Não sabia como agir. O jovem que estava aparentemente nervoso, fez com que Dona Maria tomasse a palavra.
O primeiro amor de minha vida. 8
-Minha filha, pegue um tamborete para o rapaz sentar.
Dona Maria tentava amenizar a delicadeza da situação.
-Sente aí. E sua família está gostando de Goiânia?
-está sim! Minha mãe tem achado as pessoas muito receptivas.
Mariana em silêncio, estava encabulada, mas feliz. Eles trocaram apenas um olhar entre um assunto e outro.
-Na verdade estou aqui para pedir permissão ao o senhor e a senhora, para que eu possa namorar Mariana.
O seu José sempre foi um homem muito falante, menos naquela ocasião. Depois de alguns minutos em silêncio, o suspense é quebrado.
-Olha você está demonstrando ser um bom moço, apesar de achar minha filha muito nova para namorar. Vamos dar uma oportunidade para vocês. Trate Mariana com respeito! Seu José pede sua esposa para buscar um refresco, enquanto eles estavam ali conversando. Os curiosos da vizinhança já haviam passado muitas vezes em frente da casa para descobrirem o que estava acontecendo. Dalton chega em casa e estranha à presença de Márcio.
-Oi bicho! Que está fazendo aqui?
Quando soube não gostou. Tinha medo que o nome de sua irmã caísse na boca do povo, porém nada falou. Andava um pouco retraído, pois estava adolescendo. Passado alguns dias os Dois jovens estavam mais apaixonados do que antes. E a preocupação dos pais de Márcio já havia começado. A todo o momento que procuravam por ele a resposta era a mesma. Está com Mariana. O objetivo da mudança dos Almeida Campos para Goiânia era de dar a volta por Cima. Naquela mesma semana os pais de Márcio saíram a caminhar pela rua passando em Frente à casa de Mariana. Eles a viram varrendo o quintal, absorta em seus pensamentos nem percebeu a presença deles.
-Como ela é novinha! Não está certo este namoro.
Comentou Dona Zilda com seu marido.
-Isto é coisa de rapaz! É passageiro, logo ele se cansa e arruma outra.
-E se não passar? E se ficar mais sério do que está?
-Se acalme meu bem, não fique agitada isto lhe faz mal. No momento certo eu resolvo. Esta semana chegou carta de Marília?
-Até agora não! Você sabe o que o Jobson tem feito? Nem vi a hora que ele saiu.
-Não tenho preocupação com ele. É maior de idade, sabe muito bem o que quer da vida. Zilda estou preocupado é com a saúde de meu pai. Ele tem sentido muito a mudança, acho que é o clima.
-Pode ser! Vamos dar tempo ao tempo para que ele se adapte.
O casal aproveitou o passeio para falar de assuntos domésticos, sem a presença dos Familiares. O bairro Popular, o nome já dizia tudo, popular. Com algumas casas muito boas, mas uma grande maioria era de barracões para aluguel, tinham também alguns lotes baldios. A meninada brincava, com toda energia, eles estavam envoltos em uma alegria contagiante, em um encantamento que só é possível que ocorra quando os homens ainda são crianças, vivem dentro de um mundo pueril. É deste mundo que Mariana estava se despertando e entrando de coração corpo e alma, desnuda para vida, largando as cirandas e almejando alçar vôos a sentimentos e emoções tão desconhecidos para ela. Na esquina do quarteirão de baixo que se encontrava com a avenida sessenta e sete havia uma fábrica de sorvete chamada Espumel, que era o sonho de toda garotada. Esta fábrica dava muitos empregos, com salários modestos e não faltava quem o quisesse. A rua sessenta e três estava em constante festa. Todos os dias havia feriado, pois estava acontecendo a Copa do Mundo onde os nossos ídolos entravam em campo e os verdadeiros heróis, que estavam em batalha eram encoberto por serpentinas, propositalmente jogadas sobre os olhos da população que, ingênua, se mantinha em um cabresto na sua pátria amada Brasil. É dentro desta inocência que vive Mariana e centenas de outras pessoas que se encontram alienadas sem que possam ver o resplendor da liberdade que fulgura naquele instante em raios vívidos, com o suor e sangue de gigantes que pela própria natureza escrevia mais um capitulo na Historia do Brasil. Márcio e Mariana mudaram seus hábitos. Não ficavam mais na porta da Judite com os outros jovens, às vezes passavam por eles só os cumprimentavam. De vez em quando Dona Maria deixava irem a uma festinha em um vizinho, mas sempre acompanhados por Dalton. O começo da semana na casa de Mariana foi desastroso. Logo cedo os meninos brincando de remessar dardos na árvore do meio da rua provocaram um acidente. No meio da brincadeira o Cleber, filho de Dona Neuza, passou correndo e pulou para pegar uma folha da árvore e o dardo acertou o seu olho. Foi só gritaria.
O primeiro amor de minha vida. 9
Quem atirou o dardo foi o Dalton. Dona Maria ficou desesperada, saiu à procura de arranjar um carro para levá-lo para o hospital. Dona Neuza, vizinha de dona Maria era mulher pobre e estava viúva alguns anos. Nos tempos de seu marido vivo ela tinha uma vida maravilhosa. Eles eram donos de madeireira... Com sua morte, veio a falência e a pobreza.
Aquele dia foi angustiante. O médico que os atendeu, falou que por um triz não rompeu à íris. O assunto da semana para os mexeriqueiros de plantão foi de atormentar a vida da Dona Maria. Ela que nunca gostou que seus filhos ficassem no meio da rua tinha, que passar por isso. Dona Maria que fora criada por uma família muito rigorosa deixando impressas no seu íntimo marcas profundas do tempo em que foi criança. E que deu a ela uma educação primorosa. Seu José só veio saber do ocorrido alguns dias depois. Ficou muito chateado, culpando Dona Maria. Reuniu seus filhos a noite, para dar aquela bronca.
-Dalton. Eu já falei que não quero você na rua. Você indo, seus irmãos também vão. Estão todos de castigo.
-Que é isso bem! Foi um acidente. Eles são crianças!
-se tivesse cegado o menino?
-só que isso não aconteceu! Por que dar castigo? Já se passaram tantos dias do acontecido.
-Só que me esconderam. Tenho problemas demais. Você precisa me ajudar mulher! Não deixando esses meninos irem para a rua.
-Meu bem eu não deixo! Há horas que fico com dó deles. A gente não vai com eles a nenhum lugar, por essa razão é que às vezes eu os deixo brincar um pouco na rua. Eu não contei pra você antes porque, sei que está cheio de problemas; começou a trabalhar agora nesta empresa. Você já tem muito com que se preocupar.
Dona Maria falou fundo em seu coração, lembrando o passado, quando a família vivia em condições melhores. Seu José tinha o prazer de levar sua família à missa aos domingos de manhã e, à tarde ao zoológico. Era muito difícil, pois seis filhos, não são fáceis! Aconteciam muitas brigas entre as crianças, muita choradeira, porém, mesmo assim era mágico.
-Maria está bem! Suspendo o castigo; com esse acidente foi o dinheiro todo que estava reservado para comprar a comida do mês.
-calma bem! Eu dou um jeito, compro fiado lá no seu Pedro do Mercado Popular.
Os filhos mais velhos ficaram tristes ao ouvirem aquela conversa, Dalton estava se sentindo culpado por tudo, principalmente porque sua mãe havia ido diversas vezes pedir que eles mudassem de brincadeira, pois aquela era muito perigosa. Diziam que mudaria, mas era só Dona Maria sair para que voltassem com a mesma brincadeira. Dona Maria estava pressentindo que algo estava para acontecer, ela tinha muito disso: de sonhar também com situações que viria a acontecer e como ela estava certa.
Aquele dia para Mariana findou-se triste, por tanto tumulto. Seu pai não deixou que ela encontrasse com seu lindo Márcio, a meninada foi para cama cedo, só Dalton que pegou uma velha radiola portátil, sentou-se no murinho que tinha perto da varandinha do tanque de lavar roupa. Alguns dias atrás pediu uns discos emprestados para um colega da escola. Dalton era muito tímido, e muito brigão em casa. Mas, no convívio com outras pessoas se sentia inibido, e isso ocasionaria muitos problemas que teriam conseqüências por toda sua vida. Arredio, não conseguia falar para seus pais o que magoava tanto. Nem Mariana conseguia ter essa aproximação. Eles tinham crescido tão unidos, iam sempre juntos para a igreja, confessar seus pecados. Até que um dia o padre os dispensou por falta de pecado. Passaram alguns dias para que outro mexerico surgisse e o Dalton saísse da boca do povo.
-Dona Maria!
Chama Dona Isabel lá no portão.
-Entra! Estou passando um café! Venha bebê-lo comigo.
-Oh! Vizinha, a que hora que o padeiro passa?
- Seu Manuel, sempre entre quatorze às quinze horas. Hoje a senhora quer comprar pão?
-Sim, me avise. Por favor!
Dona Isabel, se tornara uma boa vizinha, amiga e sincera. Mãe de seis filhos, três meninos e três meninas. Moravam todos juntos a sua avó materna. Dona Isabel, que fora abandonada por seu marido, sofria muito com a solidão. Durante o ano, sempre tinha crises de depressão. Por conseguinte, era internada em clínica de psiquiatria. Logo que a família de
O primeiro amor de minha vida. 10
Mariana mudou-se para lá, João Carlos um de seus irmãos se indispôs diversas vezes com Pedro, filho mais novo de Isabel.
Pedro liderava os meninos de sua idade. No mesmo dia que se conhecem, Pedro o ofende e tenta agredi-lo, na porta da escola, que ambos estudavam.
-Ei! Menino. Sabe quem manda aqui? Sou eu.
João Carlos fica assustado, pois sempre fora uma criança pacífica. Pedro está acompanhado de outros colegas, e eles partem para cima de João Carlos. Ele sai correndo. No outro dia ele novamente vai para escola. Quando termina a aula ele fica a pensar:
-“Hoje não posso fugir, tenho que enfrentar esse menino.”
Novamente na porta da escola está lá a esperá-lo, o mesmo, com os seus colegas a incentivar uma nova confusão.
-Ei! Vê se não corre.
Antes que terminasse a frase, João Carlos, o esmurrou acertando-o em seu nariz. O sangue escorreu por seu uniforme branco. Causando uma euforia em todos que os rodeava.
-Pedro! Não quero brigar mais com você. Deixe-me em paz!
Depois deste episódio ficaram amigos. E João Carlos obteve a admiração de todos os meninos da Rua Sessenta e Três.
-Dona Isabel! Quando o padeiro chegar, eu mando o João Carlos avisá-la. Está certo?
Gritou Dona Maria lá da porta da cozinha.
Quase toda à tarde, descia a rua o padeiro em uma lambreta. Carregando um grande cesto, cheio de deliciosos pães, de doce e de sal. Ana Carolina e João Carlos juntos com a meninada, desciam correndo atrás, iguais formigas em mesa de piquenique.
A vida continuou como de costume, as férias acabaram e o ritmo escolar não mudaria em nada a vida dos dois. Todos os dias ele a buscava no colégio e, nos finais de semana passava o tempo quase todos juntos. Os pais de Mariana já começavam a ficar preocupados; aos seus olhos ela era muito jovem, porém, de pouco a pouco, Márcio conquistava a confiança de todos. Os meses se passaram muito rápido, iguais a nuvens em dia de ventania. A família de Márcio se entrosou bem com os seus familiares ricos e com a alta sociedade. Portanto, não estavam vendo com bons olhos aquele namoro. Menina simples e família pobre. Márcio poupava Mariana desse assunto não queria magoá-la. Por intermédio do tio rico ele arrumou um emprego, e o mesmo tio ajudou na mudança da família para um bairro de classe alta.
Veio à formatura de Dalton. Com dificuldades Dona Maria e seu José Rodrigues prepararam todos para a cerimônia de formatura. Dalton foi presenteado por seus pais com uma viagem ao Rio de Janeiro que se realizaria na primeira semana das férias. Ir à Cidade Maravilhosa era o sonho de todo jovem daquela idade, e com a ajuda de Márcio, Dalton pode concretizar. A felicidade de seu José era enorme. Seu filho mais velho tinha terminado o curso ginasial, logo estaria fazendo uma faculdade. Chegou o dia do baile tão esperado por Dalton e os jovens da rua. Quando os enamorados se encontraram, ficaram encantados um com o outro. Márcio estava muito alinhado, vestindo um terno cinza escuro, Mariana parecia uma princesa dessas de histórias infantis, estava à mocinha mais linda da noite, e realmente era uma princesa para Márcio. Depois da entrega dos diplomas, inicia-se a valsa, e Mariana timidamente dança com seu irmão.
-Eh! Maninha não pise no meu pé!
Brincou Dalton. Ela sorriu, estranhando a descontração do irmão. As atenções de todos, estão sobre os dois. Causando ciúme em Márcio, que não quis em nenhuma hora, convidá-la para uma dança. Mariana ficou triste. Idealizara tanto aquela noite, se via rodopiando no salão nos braços do seu amor. Era seu primeiro baile. E pela primeira vez usava um vestido longo. E como era lindo o seu vestido! A todo o momento, ia ao salão da entrada para se ver em um espelho, que elegantemente ornava o ambiente. A noite foi linda! Todos dançaram principalmente o seu José com sua esposa, o Dalton bebeu champanhe e tiraram muitas fotografias, com familiares e professores para registrar aquele momento e o descontentamento que Márcio ocasionou não importava mais.
Os dias se passaram e chegou o dia da viagem de Dalton. Eles ficariam fora por duas semanas. Mariana ficou numa fossa muito grande preocupando sua mãe, ninguém nunca havia visto tamanha tristeza, nem Mariana imaginaria que se sentiria assim, parecia uma eternidade. Quando chegou o final da primeira semana, Mariana resolveu ir fazer uma visita para a mãe de Márcio, levando seu irmão Diogo junto para lhe fazer companhia. Ela estava com muita saudade,
O primeiro amor de minha vida. 11
o seu coração estava apertado. Desde que se conheceram essa era a primeira vez que ficou longe sem se falarem. Ela nem sabia o porquê que queria ir à casa de Márcio. Em nenhum momento, a convidaram para uma visita, mas a menina foi. Talvez à procura de um aroma que pudesse amenizar aquela saudade. Mariana ficou muito decepcionada. Eles a trataram com muita indiferença. Menina de alma sensível sofreu calada, não disse nada para sua mãe e para ninguém. Sonhos primaveris só que junto chegou o medo, do que não via, mas sentia. Quando chegou em casa passou por sua mãe que estava na cozinha preparando a merenda, cumprimentou seu tio que havia chegado de uma cidade do interior de Goiás. A sua chateação era tanta que nem percebeu o saco de jabuticaba que ele trouxe especialmente para ela.
-Oh! Maria, que deu nessa menina?
-Sei lá! O compadre não se importe com isso não. Diogo conte para mamãe o que foi que aconteceu com Mariana?
-Uai! Nada!
-Compadre faz assim! Enquanto vejo se aconteceu algo com ela, você toma um banho. Deve estar cansado!
Dona Maria sai e, rapidamente volta com uma toalha.
-fique à vontade compadre Alves.
Antes de ele ir tomar banho, arrumou uma bacia da sua comadre e colocou as jabuticabas para lavá-las, porque seus sobrinhos estavam de água na boca, Ana Carolina a mais nova das meninas estava dando pulinhos de contentamento, a meninada estava alvoroçada. Ele as deixou se deliciando com aquelas frutinhas e foi para o banho. Dona Maria encontrou sua filha tristonha deitada em sua cama.
-Que foi minha filha? Você saiu daqui bem disposta! O que fizeram a você?
-Nada mamãe, estou com dor de cabeça. Acho que foi o sol quente.
-O Márcio telefonou para eles?
-Não mamãe, nenhum telefonema até agora.
-Está bem minha filha vê se descansa um pouco.
Mariana ficou pensativa, sentia-se só, não queria preocupar sua mãe. Suas irmãs eram muito novas.
-Conversar com quem? Se Márcio estivesse aqui.
Uma lágrima rolou em seu rosto, quente do sol ou estaria com febre? E com esses pensamentos dormiu.
A semana transcorreu sem nenhuma anormalidade. Mariana em casa, ajudando sua mãe, seus irmãos, às brigas de sempre, seu pai saindo de manhã voltando à noitinha, a rotina era a mesma. Assim passaram-se os dias, a rua sessenta e três fervilhava com os mexericos. Márcio já não era mais o assunto e sim Dona Neuza, aquela viúva mãe do Cleber, e morava com seus quatros filhos e os criava sozinha. Dona Neuza parecia estrangeira de olhos verdes, pele clara, cabelos pretos compridos formando ondas. Sendo alta mesmo tendo ganhado uns quilos a mais naqueles últimos anos, não a deixava feia, realmente era muito atraente. Por isso as pessoas falavam muito mal dela, levantaram a suspeita que se prostituía para sustentar seus filhos. Naquela semana os mexericos maldosos, causaram repudio em Dona Maria que entrou em sua casa indignada, falando para seu marido com a voz tão alta que Mariana pôde ouvir lá do quarto.
-Zé! A língua desse povo não cabe dentro da boca. Minha mãe já me dizia que a língua é chicote da alma.
-O que foi isso? Por que esta indignação?
-Zé! Não há de ver que estão falando mal da pobre da Dona Neuza.
-o que?
-Que ela é prostituta? Que absurdo!
-É... Nos dias de hoje, uma mulher sozinha, o povo fala mesmo!
Mariana ouvindo o assunto refletiu sobre a vida, o quanto que é necessário preservar a moral. Pensava que aquela mulher não merecia aquilo, como puderam levantar aquela calúnia? Não pensaram nem um segundo em seus filhos, que vergonha!
Quando Dalton e Marcio chegaram ainda era esse o assunto de todos. Nas semanas que vieram, logicamente, a fofoca foi à viagem ao Rio de Janeiro, o que fizeram e o que deixaram de fazer. A paixão dos jovens chegava a emocionar a todos. Mariana que estivera enciumada bastou receber carinhos, para que tudo fosse esquecido até a visita à casa de Márcio. Os meses foram se passando e voltaram às aulas. Márcio quase não buscava Mariana no colégio, sempre12
alegando falta de tempo, dizendo que estava trabalhando muito no escritório de arquitetura do amigo de seu tio. Em um belo sábado, Márcio apareceu para buscá-la. O colégio em que ela foi estudar naquele ano, ficava muito distante de sua casa, não tendo transporte ela voltava caminhando, fizera novas amizades. Sandra e João eram colegas e namorados. Márcio os encontrou no segundo quarteirão, abaixo do colégio.
-Olá minha flor!
Deu-lhe um beijo, pegou em sua mão, cumprimentou Sandra e João e continuaram a caminhar. Mariana o achou triste.
-Meu amor, por que está triste?
-Gatinha! preciso conversar com você.
- Pode falar.
Mariana estremeceu.
-Não assim não. Vamos a algum lugar.
João ouviu o que Márcio estava dizendo e fez uma sugestão:
-Ei, bicho, vamos ali no Cine Capri, àquela lanchonete que tem lá. Vocês já foram lá com a gente.
Eles já conheciam, pois algumas vezes foram para lá no final da aula, comer deliciosas empadinhas. Mariana nunca contou estas peripécias para sua mãe. Chegando lá procuraram uma mesinha mais no cantinho e Márcio carinhosamente pegou em suas mãos e as beijou com muito sentimento.
-Mariana, Você sabe que eu a amo muito, e nem sei como começar.
-Do começo, eu não estou entendendo nada. O quê está acontecendo?
-olha gatinha há muito tempo que minha família vem me pressionando para que eu ponha um fim no nosso namoro. As brigas constantes com meu pai estão me fazendo mal. Eles me acham muito jovem para namorar tão seriamente.
Mariana que escutava em silencio o interrompeu:
-você quer terminar?
As lágrimas escorriam de seus olhos, sem cessar. Márcio não conseguiu conter as lágrimas. Mariana quis argumentar, mas estava sem voz, procurando se acalmar esfregava as mãos.
-Amor você deixou de me amar?
-Nunca! Jamais deixarei de amá-la! Só que não agüento mais. São meus pais, agora até meus tios, estão me pressionando.
-É por que sou pobre?
Márcio ficou sem responder.
-Recuso em acreditar, mas é verdade. Só porque sou simples.
Ficaram por muitos minutos abraçados chorando. Mariana estava inconformada, chorava copiosamente, preocupando a Márcio que procurou reagir parando de chorar para cuidar dela. João e Sandra ficaram chateados com ele, chamando sua atenção dizendo a ele, que estava sendo um irresponsável, dando uma noticia daquela sem ao menos prepará-la antes. Márcio beijou a testa de Mariana, dizendo que a amava, mas que nunca mais voltaria. Levantou-se despediu-se rapidamente de todos e partiu sem olhar para trás. Ele sabia que se não fizesse assim, não teria coragem. Mariana chorou, chorou e chorou. João e Sandra ofereceram uma coca-cola e uma empadinha para ela. Olhando aquele refrigerante, percebeu que daquele dia até aquele momento trinta e cinco anos já se passaram, e aquela família... Tão materialista, que ironia do destino! Será que souberam da ascensão financeira dos pais de Mariana? Novamente a garçonete aproxima:
-Com licença senhora, está em busca de algo?
-Sim, estou em busca de um sonho!
Mariana enxugou seus olhos, pegou sua bolsa e despediu, e subiu a Rua Sessenta e Três. Deixando para trás as marcas gravadas nas árvores, nos muros, e no próprio calçamento, os sonhos do seu primeiro amor.
FIM
Silvia Reis
Fortaleza 04-07-08
O primeiro amor de minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário