terça-feira, 19 de maio de 2015

Colonia das Margaridas e Jasmim.

"COLONIA DAS MARGARIDAS E JASMIM". DEUS estava ali em sua fábrica, quando o Arcanjo Miguel aproximou-se com uma mensagem: -Meu senhor- chegou essa mensagem do planeta terra. -Sim... - São de uma família pedindo um menininho, pois eles já são pais de duas meninas. -Miguel,procure pelo anjo Rahahel lá na colonia das margaridas e jasmim, lá encontrará um menininho com as descrições que pedem.E Depois que encaminha-lo volte aqui, pois tenho outra missão para você. Saindo dali, e em alguns instantes estava na colônia, o alarido era grande, ao longe já se ouvia as gargalhadas, era muito o burburinho que faziam, a meninada se divertia a valer. Havia um lindo parque muito colorido,com carrocel dourado, gangorras e todo tipo de brinquedo que era natural de um parque. Marialva era a monitora chefe daquele turno, trabalhando com ela havia outras irmãs que que dividia as funções. A colonia abrigava as crianças que estavam nas fileiras da reencarnação, já estavam nos momentos derradeiros onde finalizavam seus aprendizado eram despertado naquelas crianças a criatividade, o lúdico. c e muitas alegrias, era tempo de brincar e sorrir. Arcanjo Miguel que já era muito conhecido ali, marialva indaga: -Olá miguel! digo...Arcanjo! Como vai? veio buscar outra margaridinha ou um jasminzinho. -sim...por favor pode me chamar de Miguel, Marialva ,estou vendo que tudo aqui é beleza, mas me fale, onde está o Anjo Rahahel? - está lá no pavilhão das artes cênicas. -Então é para lá que eu vou... Saindo de imediato. -Ei nem me respondeu...o que seria margarida ou jasmim...sempre apressado. A poucos minutos Miguel entra no pavilhão,de súbito uma gargalhada é tirado dele,deu de cara com um anjo vestido de palhaço que apertando uma flor que estava fixada em sua lapela espirrava água, acertando o rosto de Miguel. -Desculpe meu amigo! Mas... foi divertido?! - Sim, sim. -Estou em treinamento. Saindo correndo atrás de umas crianças,ao longe Miguel avista Rahahel e vai em sua procura. -Ei irmão, Salve! -Salve! tudo bem com você? -Sim, sim... Tenho um novo pedido. Estão pedindo um menininho. -Vamos lá. Como é as características da criança? Miguel entregou as anotações para ele ler. -Me siga... Chegaram lá na Marialva. -Marialva onde está aquele lindo memino,que estava ontem brincando com você? -É o André, ele esta ali olha... brincando com o Nestor.quer que eu o chame? - Sim. nossa ele é lindo um anjinho de cachinhos dourados. Marialva enche seus olhos de lágimas pois se afeiçoa por todos que fica sob sua guarda. -André...André? Chama Marialva, vem correndo e pula em seus braços que ela roda como uma brincadeira para e entrega-o a Rahahel dizendo: -É com você. André pergunta se estava na hora dele ir, nesse momento uma chuva de flores caem sobre todos as crianças param de brincarem e vem abanando as mãozinhas como despedidas,e há uma música celestial no ar. Rahahel pega em sua mãozinha e despedem de todos. -Agora vamos descer por esse tobogã gigante,que liga a colonia com a sua mamãe. Segure firme em minha mão. lá vamos nós! E escorregaram com uma rapidez e a hora que o médico ia puxar o bebê pela cabecinha André caiu do céu na terra dentro da barriga da mamãe. Rahahel aliviado diz: -Ufa! foi por um triz. Logo se via o medico com o bebezinho nas mãos dizendo: -Mamãe é um lindo menininho.Parabéns! Dedico essa histórinha ao meu neto Enzo que trouxe-me alegrias ao nascer. Fortaleza,19 de maio de 2015. Silvia Reis. -

segunda-feira, 18 de março de 2013

Os grandes idealistas do estado de Goiás.

Desde muito pequena que observo e guardo na memória os feitos de grandes homens que vem escrevendo a história de Goiás.Sem ter a intenção de mencionar ou enaltecer qualquer partido político. Terra dura, terra boa e fértil, terra vermelha, “Plantando aqui tudo se dá”, escutei muito essa frase na boca das pessoas,e diz o proverbio: “A voz do povo é a voz de Deus.” Escutava meu pai contando causos dos feitos do doutor Pedro Ludovico, quando ele com sua luta e coragem desbravou o coração da flor goiana,e eu ali deitada na cama só ouvindo... Quando cresci mais um pouco comecei a ouvir um grande murmurinho a respeito dos mutirões que eram liderados por Iris Rezende machado, que junto com o povo construíam suas moradias. Esse estudante ainda jovem discursava em um palanque de caixote com eloquência juvenil. E junto ao meu crescimento vi movimentos de grandes homens desta terra de Anhanguera. Hoje adulta nas minhas reminiscências, orgulho-me dos feitos dos ilustres goianos, que foram exemplo de luta e de ideal par jovens idealistas que hoje lidera, como o governador Marcone Perillo trazendo para politica do nosso estado sangue novo e novas ideias. Com sua garra, arrebanhando jovens para compartilhar das renovações que seriam implantadas, novas sementes lançadas nesse fértil solo goiano.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Primeiro amor de minha vida.


1
I CAPÍTULO
A VOLTA ÀS SUAS ORIGENS.
A chegada de Mariana à sua cidade, de onde havia saído há muitos anos trouxe-lhe recordações do seu passado, de quando era uma mocinha cheia de sonhos e ilusões, de quando via o mundo azul e rosa. Mariana desceu do ônibus em uma avenida movimentada, seu pensamento volta como raio ao ano de 1970. Aquela rua era tão pacata, pensava Mariana, e resolveu andar um pouco mais, observando os casarões conservados por seus novos donos. Onde havia o armazém do japonês, agora se erguera um suntuoso edifício. Era o armazém onde comprava alimentos para sua mãe, e que agora está irreconhecível. Passa por ela uma senhora conversando com seu filho. Ela se lembra de sua mãe, recordando a luta diária pela educação de Mariana e seus irmãos. Chegando à rua sessenta e três, onde vivera a sua adolescência, cheia de magias, no esplendor dos seus quatorze anos, quando ainda brincava de pique-pega, e de carimbada com os meninos da rua. Quanta historia vivida naquele lugar, pensativa quase que guiada por fios invisíveis, que a unia com o passado tão distante, mas tão pungente em suas lembranças. Parou de súbito, em frente ao número 23, tudo estava tão diferente, aquela casa que antes era branca, hoje estava com a cor abóbora, aquele jardim que fora cenário de tantos sonhos lindos, não restava nada. Tinham construído um barracão para ser alugado. Onde será que foi aquela família que lá morava. Se sente zonza, um leve mal estar lhe abate, lembra que mal se alimentara. Do outro lado da rua, vê uma lanchonete, atravessa e vai ao balcão e pede uma coca-cola e uma empada. A moça pede que aguarde um pouquinho, mesinhas tinham sido colocadas na frente da lanchonete, aproveitando a sombra de uma frondosa árvore, sentou-se à mesa mais próxima da árvore, e seus olhos ansiosos procuravam por um nome que estava gravado em seu tronco. Uma lágrima escorreu em sua face, Márcio Ama Mariana, fora gravado com a ponta de uma faquinha, em uma tarde calorosa de verão. Seus pensamentos a levaram para aquele instante, em que ambos acreditavam em que nada no mundo poderia separá-los. Como amava Márcio. Lembrou-se que todos os dias os dois subiam a rua até aquela lanchonete para comprar um sonho de valsa. As lágrimas rolaram intensamente e a mulher chorou lágrimas guardadas de uma vida inteira. E Mariana se transportou para aquele passado mágico de tanto amor.
-Senhora, a sua coca-cola e sua empadinha, deseja algo mais?
Mariana volta subitamente.
-não, minha querida, está tudo bem!
-Com licença.
Começou a chuviscar e as gotas fortes bateram em seu rosto que estava úmido
ainda.
-Senhora venha para cá, esse chuvisqueiro é passageiro.
-É eu sei.
Mariana levantou e sentou em outra mesinha, que estava dentro da lanchonete, continuou a observar os pingos que caiam sobre as folhas, lembrou de uma Música dos Beatles, e seu passado começa a desfilar a sua frente.
O mês de maio já havia chegado, naquela semana havia chovido muito, tinha amanhecido o sábado com tímidos raios de sol. A criançada alvoroçada brincava no meio da rua, pareciam formigas. A Rua sessenta e três era conhecida por ter tantos meninos, era época de bolinha de gude, pique-pega, carimbada. Durante o dia sempre era festa, só se acalmando quando começava a noite.
No final da tarde do dia anterior, chegara uma mudança para o número 23.
Aquela casa branca que tinha um jardim todo verde, a família chegou logo em seguida, veio do Rio Janeiro, eram uma família numerosa, com os pais o avô e cinco filhos. Na Rua 63 havia uma peculiaridade, todos os seus moradores eram antigos, as famílias já se conheciam de longa data, menos a família que moravam na casa da esquina, que se mudara há menos de um ano para lá. Por todos se conhecerem tanto, Surgiam muitos mexericos. Bem de manhã já havia comentários entre os meninos da rua, sobre aquela família, as meninas falavam da beleza dos rapazes, modernos vindos de uma cidade grande, tão comentada que era o Rio de Janeiro.
A família que se mudara há menos de um ano para aquela esquina se diferenciava das famílias restantes. Falavam que eram distintos, e que em outras épocas, chegaram a ter posses, mas queda nos negócios perdeu tudo. e tiveram de morar naquela casa humilde de
O primeiro amor de minha vida. 2
esquina. A maioria das famílias daquela rua era de fazendeiros, com suas casas bonitas e suas mesas fartas. Dona Maria, mãe daquela prole de seis filhos, era uma mulher forte e autêntica. Procurava dar uma educação rígida para seus filhos, e não permitia que participassem de mexericos, nem os aceitava o dia inteiro na rua, como era o costume das
outras mães. Mariana, sua segunda filha estava com seus lindos quatorze anos. Bonita menina de cabelo preto e longo chamava atenção por sua desenvoltura. Todos os filhos de Dona Maria se destacavam no meio da garotada da rua. Seu José que era um pai bom e muito trabalhador procurava de todas as formas levar o sustento para sua numerosa família. Naquela manhã, Dona Maria foi até o portão chamar Dalton, seu filho mais velho, que estava jogando bolinha com os outros garotos da rua, quando sua vizinha Geralda lhe chamou:
-Dona Maria, Bom Dia!
-Bom Dia Dona Geralda! Está melhor da gripe?
- Ah! E mãe tem o direito a ficar doente?
As duas riram da realidade delas.
- Dona Maria a senhora ficou sabendo do povo que mudou ontem?
- Não, eu nem pus o nariz no portão. Lavei roupa o dia todo, enchi todos os arames do quintal, a Senhora não viu?
- Pois é eu vi sim, mas a Donana veio me falar da mudança daquele povo, até agora ninguém viu nenhum morador daquela casa, a senhora ficou sabendo de alguma coisa?
- Dona Geralda depois a gente conversa mais, estou com as panelas no fogo.
Dona Maria não gostava de fofocas, e arranjava logo uma desculpa para se afastar. Foi para o meio da rua e começou a gritar:
- Dalton, Dalton, onde esse menino se enfiou?
Mas a frente uma roda de meninos, um levantou a cabeça e gritou?
- Mãe! Já vou!
- Passe logo para casa Dalton.
O menino desceu a rua correndo, falando para meninada que logo voltaria, assim que visse o que a mãe queria com ele.
- Tá vendo Dona Geralda, eles não têm nem fome quando estão brincando.
Dona Maria falando isso, entrou para sua casa.
- Mariana, vá lá no armazém do Japonês, comprar um litro de óleo para mim, mas não pare
para conversar com a Fatinha e nem com ninguém, é um pé lá e outro cá. Se não seu pai Chega para almoçar e eu nem terminei a comida.
- Tá, mãe!
Mariana penteou seus cabelos, pegou o dinheiro que a mãe lhe deu e saiu. Lá ia Mariana, com seus sonhos, subindo a sessenta e três, era muito tímida, logo avistou uns jovens, e estremeceu só de imaginar que teria de passar por eles. Em frente à casa de número vinte três, Mariana diminuiu seus passos para poder olhar entre as grades. Não viu ninguém, lembrou-se do que a mãe lhe pedira, apressou os passos, passou em frente à turma de rapazes, pôde ouvir um mais atrevido dizer:
- Eh! Mariana! Como é bonita essa menina! Ah! Se eu não fosse mais velho.
Mariana era muito desejada pelos rapazes e por isso despertava inveja e ciúme entre as meninas. Mas era muito ingênua e nem percebia. Sua mãe que já havia observado lhe avisava para tomar cuidado. Ao voltar do armazém, mudou de rua para evitar os rapazes. Ela que era uma filha carinhosa e muito responsável procurava colaborar com seus pais nos cuidados com seus irmãos, e despertando a admiração das pessoas. Desta forma, aumentava ainda mais o despeito das meninas de sua idade. Era uma época em que o país passava por grande repressão, mas os olhos de Mariana eram muito puros para ver. E sendo romântica como era não poderia compreender tais atitudes. Nos finais de tarde, os jovens da rua se reuniam em algum dos quintais de qualquer um, levavam uma radiola, outros levavam alguns discos de vinil e ficavam a ouvir os Beatles. Dançavam e sonhavam com um mundo feliz, mas nestes encontros quase nunca Mariana participava. O passeio dela era subir a sessenta e três a fim de fazer compras para sua mãe. Sempre bonita, suas roupas eram simples, e os cabelos penteados. Quando sorria, uma covinha na face direita a deixava mais encantadora.
Já havia passado uma semana da chegada dos Almeida Campos. Até aquele momento ela não tinha visto ninguém. Fatinha, sua amiga, havia lhe contado muitas histórias que ela não sabia ao certo se era fantasia ou realidade.
O primeiro amor de minha vida. 3
-Mariana aonde vai com tanta pressa?
Gritou Fátima.
-Lá no Japonês! E você? O que está fazendo?
-Nada, respondeu Fátima.
- Então venha comigo.
- Tá, só não posso demorar. Você sabe né? Meus irmãos vêm atrás de mim!
- Não. A gente não demora tá?
- Mariana, a Judite me falou que Márcio estará lá, conversando com a Turma. Quer ir?
- Quem é esse Márcio?
- Eu não te contei?
- Não. Me conta logo. O quê?
- É o garoto do Rio que se mudou lá para casa do número vinte três.
- Então você o viu?
- Sim. Só não conversei.
- E como ele é?
- Lindo! Lindo! Lindo!
- Mesmo? Não é exagero seu?
- Então vá e veja com seus próprios olhos.
- Ah! Se minha mãe deixar eu vou. Neste bate papo seguiram as meninas para o Armazém.
Nos fins de tarde sempre caia um gostoso chuvisqueiro que deixava a tarde mais bonita. Era a hora que os meninos saíam para continuarem suas brincadeiras no meio da rua. Mariana, encostada no seu portão, ficava só a observar as corridas de pique pega ou a turma que ficava brincando de carimbada. De vez em quando olhava no final da rua para ver se as meninas estavam sentadas no muro lá da casa da Judite. Mas teria que criar coragem para pedir à sua mãe, para ir lá. Quando sua mãe se aproxima suavemente.
-Mariana! O que foi minha filha? Ta aí tão quieta, pensativa.
- Mamãe, a senhora me deixa sair um pouquinho?
- Mas, aonde quer ir minha filha?
- Lá na porta da casa da Judite. A turma vai se reunir lá!
- Você sabe que seu pai não gosta de você na rua.
Dona Maria percebeu que Mariana ficou triste, e ficou com dó da menina.
- Mas veja! Vá um pouquinho lá, não demore senão seu pai se zanga. Troque de vestido.
Mariana ficou muito alegre, deu um beijo em sua mãe e saiu rapidamente para se arrumar. Logo subia alegremente a rua sessenta e três. Desde o momento em que conversou com sua amiga Fátima sobre o novo rapaz da rua, se sentia cheia de indagações. Algo lhe dizia que aquele encontro seria especial. Mariana estava usando um vestido rosa claro, de um tecido bordado de pequenas flores, cabelo solto no vento e calçava um tamanquinho branco, estava simplesmente linda. A sua doçura de menina a tornava ainda mais encantadora. Aproximou-se da roda que estava bem animada. Quando disse Boa Noite, a roda se abriu e entre os olhares admirados de todos, o seu olhar entreolhou-se com o de Márcio e logo se apaixonaram fulminantemente. Um dos meninos fez a apresentação e para os dois, não havia mais ninguém ao redor.
- Muito prazer gatinha! Eu sou o Márcio.
- O prazer é meu, Mariana.
Mariana estava com a face rosada, ficando mais atraente. Márcio se adiantou, pegou sua mão e sem se acanhar, lhe perguntou se poderia dar uma volta para conversarem. ela Ficou indecisa.
- Não sei se devo, minha mãe pode não gostar.
- Ei! Nós vamos até a pracinha!
Esta pracinha ficava na rua de cima. Lá sempre havia casais de namorado. Mariana pensou, e decidiu ir.
O primeiro amor de minha vida. 4
-Só se formos rápido. Não posso demorar.
Sob os olhares maliciosos de todos, os dois se afastaram. Mariana não acreditava que tinha tido coragem de falar e de sair sozinha, ele lhe inspirou muita confiança. O sentimento que os envolvia era inexplicável. É assunto de Deus. Como se fossem almas Gêmeas, e o encontro já tivesse marcado. Caminharam por alguns minutos, e Márcio muito falante, percebeu o quanto Mariana era ingênua, e perguntava se seria possível alguma menina assim naqueles tempos.
- Mariana, quantos anos você tem?
-Quatorze, e você?
- Dezessete anos. Fale-me de você, onde mora? Tem irmãos?
- Moro no final da rua sessenta e três esquina com a rua setenta e oito, Dalton é meu irmão mais velho, tem quinze anos. Depois de mim, tem a minha irmã Solange, depois o João Carlos, aí vem a Ana Carolina e o caçula, Diogo.
- Bastantes irmãos! Vocês se dão bem?
- Mais ou menos. Eles dão muito trabalho, e minha mãe só pode contar comigo. Tem horas que é muito difícil, mas eu os adoro. E você Márcio, por que saiu da sua cidade, e sua família, quantos são?
- Ah! Minha história é mais complicada, com meu pai, aconteceram coisas ruins nos negócios e aqui em Goiânia temos parentes com uma situação financeira muito boa. Eles incentivaram meus pais a virem. Ficou no Rio de janeiro minha irmã do meio que faz Faculdade, veio o Jobson, meu irmão mais velho, Leonardo e Ana Maria que é a caçula. Tomara que dê certo. Eu e Jobson temos de arrumar um trabalho para ajudarmos em casa, pois nem o Leonardo nem a Ana têm idade para trabalhar.
-Vai dar certo, você vai ver!
Pegando a mão de Mariana a conduziu para sentarem-se em um banco de cimento. Sentou a seu lado e carinhosamente lhe falou:
- Gatinha você é muito linda. Quer namorar comigo?
Mariana emudeceu, estava nervosa, pois nunca estivera nessa situação. Pensou em recusar por causa de seus pais, mas o seu desejo era maior.
- Eu quero. Só que você precisa ir falar com meus pais.
Márcio calou, ficando pensativo quanto àquela situação. Nunca precisou ir à casa de uma menina para pedi-la em namoro. A responsabilidade causou um certo medo.
- Mariana, não é do meu costume isso, mas menina, eu quero ficar com você, eu vou.
Os dois jovens ficaram ali mais um tempinho conversando, e a cada minuto ele se convencia que realmente ela era uma menina especial.
-estou indignado! Como existem pessoas maliciosas que vêem maldade em tudo?
-por que você esta dizendo isto?
-aqueles seus amigos falaram tão mal de você.
-Quem falou?
- Não devo pôr mais lenha na fogueira. Só te peço que tome cuidado, pelo pouco que te conheço percebo que é muito simples.
-Eu procuro evitar a maioria dos rapazes da minha rua, eles são sem respeito e atrevidos, Tenho mais amizade com Antônio e o João que é irmão da celeste. Desses dois eu gosto muito.
-Que absurdo! Pensando melhor, eu vou te dizer. Justo de quem você mais gosta. Foi o João... Que bicho falso!
Mariana ficou triste, pois acreditava em sua amizade.
-Ei! Não fique assim!
Passando o braço por seu ombro. Mariana ficou encabulada.
-Por favor, vamos embora.
-Mas por quê? Foi o que falei?
-Não, eu preciso. Prometi à minha mãe que não demoraria. Ela pode vir atrás de mim. Virgem Maria!
Márcio riu do apuro da menina, deu a mão e a conduziu.
-Vou levá-la para a casa.
-Não! Por favor, só depois que for falar com meus pais.
-Então me deixe leva-la até perto de sua casa.
O primeiro amor de minha vida. 5
-Está certo.
Quando os dois iam descendo pela cinqüenta e nove, a rua da pracinha, no trecho que estava escuro, ele aproveitou para abraçá-la e lhe dar um beijo que ela nunca havia conhecido, molhado e de língua. Ela sentiu sua cabeça zonza e um enjôo no estômago. Mariana afastou-se apressando o passo.
-Oh! Gatinha calma! Te falei, eu vou te acompanhar.
Ela fez o percurso em silêncio, e ele insistindo em conversar. Mariana ficou muito assustada, com o que estava sentindo, e com medo de alguém ter visto aquela cena. O falatório daquela gente seria terrível. Não perdoavam ninguém. Não parava de pensar.
-Por que sentiu aquele enjôo? Será que ele a procuraria para namorar, depois do que aconteceu?
Aquela intimidade para Márcio, aquele beijo era muito normal, a menina que era especial! No Rio de Janeiro, as meninas eram mais modernas, e Mariana estava muito assustada. Tudo era novo.
-Chegamos boa noite minha princesa!
Quis puxá-la para dar outro beijo, Mariana afastou-se rapidamente.
-Tchau!
Márcio riu da situação, ao vê-la sair correndo.
-Que menina maluquinha! Que gracinha!
O cúpido havia acertado seu coração de cheio. Voltou para casa evitando passar
por perto daquela turma.Sentiu que o melhor a fazer era se afastar para evitar problemas.
Entrou em sua casa com o pensamento longe, sem perceber que sua mãe estava
sentada tomando um chá na cozinha. Abriu a geladeira para pegar água.
-Márcio onde estava? Seu pai perguntou por você!
-Ora! Na porta de casa, conhecendo os novos vizinhos.
-Seu pai está muito nervoso: Ele não quer ver vocês na rua.
-Mamãe! Só dei uma voltinha. Não foi nada demais.
-O seu tio falou para seu pai que está arrumando um trabalho para você.
-O meu tio falou onde?
-Márcio! Não importa. Não estamos em condições de escolher. Você melhor que ninguém, sabe das nossas dificuldades.
-Não estou criando dificuldades. Só queria saber! A senhora tem razão-
-Sabe do Jobson?
-Nem o vi sair.
-Seu avô não está se sentindo bem, agora à noite.
-O que aconteceu?
-acho que é o clima seco de Goiânia. Tinham me avisado. Mas eu não sabia que era tanto assim. Conforme o jeito que ele acordar amanhã, o levo ao médico.
-Boa noite mamãe!
Apesar dos problemas de toda sua família, Márcio não podia esquecer que aquela noite havia sido muito especial, não via a hora que amanhecesse para encontrar com Mariana, e beijar aquela boca tão doce; sentir seu cheiro suave.
No dia seguinte, logo bem cedo, Mariana aproxima-se de sua mãe com intenção de contar para ela sobre o pedido de namoro, mas sempre muito ocupada com a lida da casa, ficou por ali em volta querendo ajudá-la em tudo. Sua mãe ficou desconfiada.
-Menina, você está me deixando nervosa, fale-me!
-Como que a senhora sabe se eu quero falar alguma coisa?
-minha filha! Esqueceu que sou tua mãe? Que a conheço muito bem!
-Mãe! Ontem eu conheci um rapaz! Ele me pediu em namoro. Eu disse a ele que viesse falar com a senhora e meu pai. Ele disse que quer namorar comigo.
-Minha filha, quem é esse rapaz? Filha você é muito nova para namorar. Seu pai não vai gostar nada desta conversa. Ele não a deixa nem sair de casa!
-Ele mudou-se do Rio de Janeiro com sua família. Mamãe peça para o papai! Nós namoramos aqui, em casa.
-Mariana onde? A nossa casa é tão pequena!
Dona Maria estava assustada com esta novidade. Ela sabia que seu marido não aceitaria. Sempre foi muito ciumento, e via a Mariana como criança. O que fazer nesta situação?
-Filha, vou tentar! Não prometo nada.
O primeiro amor de minha vida. 6
Logo a Fátima gritou pela Mariana no portão. Dona Maria ralhou com a garota, pois tinha muito o que fazer.
-Menina! Não quero você no portão. Essas meninas não têm o que fazer em casa, elas são rica, você não! E se elas fizerem algo errado, a culpa vai cair sobre você, por sermos pobres.
Lá da porta da sala Mariana gritou para sua amiga que sua mãe não a deixava sair. Mariana passou o dia sem sair de casa. A todo momento, ia à sua porta uma amiga para chamá-la, e a resposta era a mesma. Todas estavam curiosas por saber o que aconteceu na conversa com o Márcio. Dona Maria estava certa em segurar sua filha em casa. Ela estava se sentindo culpada, por ter permitido que Mariana saísse naquele dia. Márcio já havia passado muitas vezes pela porta da casa dela. À tarde ficou lá em frente à sua casa, porque ficou sabendo que ela sempre fazia compras para sua mãe. Só que, naquela tarde não saíra para nenhum lugar. Márcio estava doido para vê-la e com Mariana não era diferente. O dia se passou com muita agonia para os dois e para Dona Maria que iria conversar com seu José. No almoço ela não teve coragem. Deixou para a noite, no momento de descanso na espreguiçadeira, debaixo da mangueira tocando seu cavaquinho. Mariana estava muito ansiosa depois do jantar. Foi para o quarto que dividia com seus cinco irmãos. Pegou um livro e foi lê-lo deitada em seu beliche. Seu pai chamou por ela, pedindo que levasse um café, como era hábito de ela sentar no lado deles para ouvir o pai tocar seus lindos chorinhos. Dona Maria que levou o café. Maria serviu o café em um copo, puxando uma cadeira para perto de seu marido, Sentando.
- Está bom! O seu café.
-Maria cadê os meninos? E as meninas?
-Estão todos assistindo à televisão. Menos Mariana, que está deitada.
-Mas o que foi? Está doente?
-Não Zé. Pior, está apaixonada por um rapaz que mudou aqui para a rua.
-Maria! Não me fale uma coisa dessas!
-O rapaz parece ser de bem. E ele quer te pedir permissão para namorá-la
aqui, em casa.
-Nem pensar! Nossa filha é muito nova.
-Zé. Pensa bem! Estão apaixonados. É melhor ser debaixo dos nossos olhos, do que namorando às escondidas, por aí.
-Maria! Você acha que nossa filha desobedeceria a uma ordem nossa?
-Ela sempre foi muito obediente, mas um adolescente apaixonado é muito perigoso. Vamos permitir que ele venha para que nos o conheçamos. O que você acha desta idéia?
-Na verdade não gosto nada disto. Por mim eu a trancava a sete chaves.
Seu José estava muito chateado com aquela conversa. Sabia que sua esposa tinha razão. Ficou em silêncio começando a tocar seu cavaquinho. Depois de tocar umas três musicas; Pediu outro café. Antes que a mulher saísse, disse que concordava com a sua decisão.
À noite, enquanto seu José tocava seu pequeno violão, seu Guimarães, um português,
amável e muito alegre que era casado com Franscisca, levavam duas cadeiras e sentavam
debaixo da mangueira, e a prosa animava a noite.Maria aproveitando a chegada dos
vizinhos deu uma escapulidinha para ver como os meninos estavam lá dentro, e foi ver
se Mariana estava dormindo.
-Mariana! Está dormindo?
-Não! Estou lendo, mas já vou dormir. A senhora falou com o papai?
-Sim! Depois de muitas dificuldades, ele concordou em conhecer o rapaz.
-Obrigada mamãe! Sua benção.
-Deus a abençoe e Jesus a proteja.
Maria estava preocupada com a filha. Estava crescendo muito rápido. Ela sabia que os pais criam seus filhos para um dia os verem partir. Esta é a lei da vida! Dona Maria naquele instante parou na porta do quarto e ficou olhando para sua filha que já dormia. Sua vida só estava começando. Quantas alegrias e tristezas ela iria passar por toda a vida! Recordou que naquela semana Mariana leu para ela uns lindos poemas de Gibram Kalil Gibram que tinha muito a ver com os seus pensamentos.
A noite passou como relâmpago em noite de tempestade. Amanhecendo um lindo dia cheio de esperanças. Mariana acordou com muita disposição, estava deitada ainda ouvindo os ruídos que vinha da cozinha. Já era sua mãe preparando o lanche da família. O cheiro de café
O primeiro amor de minha vida. 7
invadiu o quarto, aguçando a fome dela e de seus irmãos. O sossego da Casa acabara. Mariana resolve levantar logo que escutou sua mãe chamá-la, como era de costume! Pulou da cama, se trocou e foi para lida.
-Mariana! Vá a padaria buscar o leite e o pão.
-Mamãe, mande o Dalton.
-prefiro que você vá. O seu irmão demora.
Mariana não queria sair de qualquer jeito. Receava que fosse vista por Márcio, a vida agora era diferente! Era assim que estava se sentindo depois que saiu da padaria. Deu a volta no quarteirão só para não passar em frente à casa dele. Na noite anterior, ficou até tarde pensando naquela súbita paixão, que estava tirando seu raciocínio a sua tranqüilidade de menina. No momento em que ele a abraçou, pôde sentir seu perfume e o seu cheiro entrou em sua alma. Nunca tinha experimentado aquela sensação, e quando pensava, sentia seu corpo vibrar. A menina pensava e sonhava com o momento em que veria o seu amor. Quando chegou com o pão seu pai já tinha ido trabalhar. Ela não havia percebido que o Tempo tinha passado tão depressa.
-Minha filha! O que aconteceu? Hoje você demorou muito? Eu que não queria mandar o Dalton por ele sempre demorar!
- desculpe-me mamãe. Distraí-me!
Mariana depois do café e da bronca que levou, foi para o quarto arrumar as camas. Sua mãe levantava já agitada com uma família de seis filhos, e não faltava serviço, de lavar, limpar cozinhar. Era o seu cotidiano. A casa era pequena, com uma cozinha sala e dois quartos tão pequenos que era inconcebível caber tantas pessoas ali. Do lado de fora havia um pequeno puxado com telhado que abrigava o tanque de lavar roupas, e minúsculo banheiro.
Gritou Dona Maria lá do tanque.
-Mariana!
A menina veio correndo, pois sabia que sua mãe não tolerava demora!
-Que foi mãe?
-Solange vai ajudá-la. Ela vai varrer a casa e você, passe o pano molhado.
-mas mãe, o Dalton está lá na sala com o Paulinho e o Antônio ouvindo música. Ele me prometeu um tabefe se eu passar por lá de novo.
-Vai lá e diz para ele que vai apanhar de mim se fizer isso. E chame sua irmã para Ajudar, olhe a mala grande de roupa que vou lavar, só paro para fazer o almoço.
A manhã passou com o alvoroço dos meninos da rua, indo atrás de seus irmãos Dalton e João Carlos. Isso já não incomodava mais Mariana que antes pedia a sua mãe para deixá-la sair. Agora seu interesse era outro, preferiria sair à noite para tentar ver discretamente o menino de seus olhos.
À noite, como era esperada, Mariana pediu à sua mãe que a deixasse dar uma volta, mas sua mãe, com receio de seu marido, a proibiu. Só permitindo que ficasse no portão. Para ela isto era a morte, como veria Márcio, de qualquer forma era melhor que não sair de casa. Enfeitou-se, perfumou e foi para o portão. A meninada brincava a toda energia, estavam envoltos em uma alegria contagiante, em um encantamento que só é possível que ocorra, quando os homens ainda são crianças; vivem dentro de um mundo pueril. É deste mundo que Mariana estava se despertando e entrando de coração, corpo e alma, desnuda para vida, largando as cirandas e almejando alçar vôos a sentimentos e emoções tão desconhecidos para ela. Naquele final de tarde sua mãe só a deixou ficar no portão, com a recomendação que não saísse de lá. O desejo de Mariana era de desobedecê-la e ir ao encontro de Márcio, contudo, sempre teve a confiança de sua amada mãe. Mesmo estando apaixonada sua sensatez fez com que pensasse melhor.
-Na verdade se ele quisesse- me ver já teria me procurado. Eu não devia ter deixado que me beijasse. Virgem Maria! Se minha mãe fica sabendo de uma coisa dessas, em meio a tantas reflexões ficou triste, resolveu entrar. A noite chega, e junto a ela vem o descanso de Senhor José, com seu cavaquinho, sentado debaixo do pé de manga. O firmamento parecia um manto bordado com minúsculas estrelas, à lua estava alva e no ar tinha um cheiro de amor. Mariana pegou uma cadeira e sentou-se ao lado de sua mãe acariciando sua mão, ouvindo seu pai a dedilhar, quando um jovem entra pelo quintal adentro.
-Boa noite, Senhor José e Dona Maria! Sou o Márcio, Mariana deve ter lhes falado que eu viria...
Mariana estremeceu. Não sabia como agir. O jovem que estava aparentemente nervoso, fez com que Dona Maria tomasse a palavra.
O primeiro amor de minha vida. 8
-Minha filha, pegue um tamborete para o rapaz sentar.
Dona Maria tentava amenizar a delicadeza da situação.
-Sente aí. E sua família está gostando de Goiânia?
-está sim! Minha mãe tem achado as pessoas muito receptivas.
Mariana em silêncio, estava encabulada, mas feliz. Eles trocaram apenas um olhar entre um assunto e outro.
-Na verdade estou aqui para pedir permissão ao o senhor e a senhora, para que eu possa namorar Mariana.
O seu José sempre foi um homem muito falante, menos naquela ocasião. Depois de alguns minutos em silêncio, o suspense é quebrado.
-Olha você está demonstrando ser um bom moço, apesar de achar minha filha muito nova para namorar. Vamos dar uma oportunidade para vocês. Trate Mariana com respeito! Seu José pede sua esposa para buscar um refresco, enquanto eles estavam ali conversando. Os curiosos da vizinhança já haviam passado muitas vezes em frente da casa para descobrirem o que estava acontecendo. Dalton chega em casa e estranha à presença de Márcio.
-Oi bicho! Que está fazendo aqui?
Quando soube não gostou. Tinha medo que o nome de sua irmã caísse na boca do povo, porém nada falou. Andava um pouco retraído, pois estava adolescendo. Passado alguns dias os Dois jovens estavam mais apaixonados do que antes. E a preocupação dos pais de Márcio já havia começado. A todo o momento que procuravam por ele a resposta era a mesma. Está com Mariana. O objetivo da mudança dos Almeida Campos para Goiânia era de dar a volta por Cima. Naquela mesma semana os pais de Márcio saíram a caminhar pela rua passando em Frente à casa de Mariana. Eles a viram varrendo o quintal, absorta em seus pensamentos nem percebeu a presença deles.
-Como ela é novinha! Não está certo este namoro.
Comentou Dona Zilda com seu marido.
-Isto é coisa de rapaz! É passageiro, logo ele se cansa e arruma outra.
-E se não passar? E se ficar mais sério do que está?
-Se acalme meu bem, não fique agitada isto lhe faz mal. No momento certo eu resolvo. Esta semana chegou carta de Marília?
-Até agora não! Você sabe o que o Jobson tem feito? Nem vi a hora que ele saiu.
-Não tenho preocupação com ele. É maior de idade, sabe muito bem o que quer da vida. Zilda estou preocupado é com a saúde de meu pai. Ele tem sentido muito a mudança, acho que é o clima.
-Pode ser! Vamos dar tempo ao tempo para que ele se adapte.
O casal aproveitou o passeio para falar de assuntos domésticos, sem a presença dos Familiares. O bairro Popular, o nome já dizia tudo, popular. Com algumas casas muito boas, mas uma grande maioria era de barracões para aluguel, tinham também alguns lotes baldios. A meninada brincava, com toda energia, eles estavam envoltos em uma alegria contagiante, em um encantamento que só é possível que ocorra quando os homens ainda são crianças, vivem dentro de um mundo pueril. É deste mundo que Mariana estava se despertando e entrando de coração corpo e alma, desnuda para vida, largando as cirandas e almejando alçar vôos a sentimentos e emoções tão desconhecidos para ela. Na esquina do quarteirão de baixo que se encontrava com a avenida sessenta e sete havia uma fábrica de sorvete chamada Espumel, que era o sonho de toda garotada. Esta fábrica dava muitos empregos, com salários modestos e não faltava quem o quisesse. A rua sessenta e três estava em constante festa. Todos os dias havia feriado, pois estava acontecendo a Copa do Mundo onde os nossos ídolos entravam em campo e os verdadeiros heróis, que estavam em batalha eram encoberto por serpentinas, propositalmente jogadas sobre os olhos da população que, ingênua, se mantinha em um cabresto na sua pátria amada Brasil. É dentro desta inocência que vive Mariana e centenas de outras pessoas que se encontram alienadas sem que possam ver o resplendor da liberdade que fulgura naquele instante em raios vívidos, com o suor e sangue de gigantes que pela própria natureza escrevia mais um capitulo na Historia do Brasil. Márcio e Mariana mudaram seus hábitos. Não ficavam mais na porta da Judite com os outros jovens, às vezes passavam por eles só os cumprimentavam. De vez em quando Dona Maria deixava irem a uma festinha em um vizinho, mas sempre acompanhados por Dalton. O começo da semana na casa de Mariana foi desastroso. Logo cedo os meninos brincando de remessar dardos na árvore do meio da rua provocaram um acidente. No meio da brincadeira o Cleber, filho de Dona Neuza, passou correndo e pulou para pegar uma folha da árvore e o dardo acertou o seu olho. Foi só gritaria.
O primeiro amor de minha vida. 9
Quem atirou o dardo foi o Dalton. Dona Maria ficou desesperada, saiu à procura de arranjar um carro para levá-lo para o hospital. Dona Neuza, vizinha de dona Maria era mulher pobre e estava viúva alguns anos. Nos tempos de seu marido vivo ela tinha uma vida maravilhosa. Eles eram donos de madeireira... Com sua morte, veio a falência e a pobreza.
Aquele dia foi angustiante. O médico que os atendeu, falou que por um triz não rompeu à íris. O assunto da semana para os mexeriqueiros de plantão foi de atormentar a vida da Dona Maria. Ela que nunca gostou que seus filhos ficassem no meio da rua tinha, que passar por isso. Dona Maria que fora criada por uma família muito rigorosa deixando impressas no seu íntimo marcas profundas do tempo em que foi criança. E que deu a ela uma educação primorosa. Seu José só veio saber do ocorrido alguns dias depois. Ficou muito chateado, culpando Dona Maria. Reuniu seus filhos a noite, para dar aquela bronca.
-Dalton. Eu já falei que não quero você na rua. Você indo, seus irmãos também vão. Estão todos de castigo.
-Que é isso bem! Foi um acidente. Eles são crianças!
-se tivesse cegado o menino?
-só que isso não aconteceu! Por que dar castigo? Já se passaram tantos dias do acontecido.
-Só que me esconderam. Tenho problemas demais. Você precisa me ajudar mulher! Não deixando esses meninos irem para a rua.
-Meu bem eu não deixo! Há horas que fico com dó deles. A gente não vai com eles a nenhum lugar, por essa razão é que às vezes eu os deixo brincar um pouco na rua. Eu não contei pra você antes porque, sei que está cheio de problemas; começou a trabalhar agora nesta empresa. Você já tem muito com que se preocupar.
Dona Maria falou fundo em seu coração, lembrando o passado, quando a família vivia em condições melhores. Seu José tinha o prazer de levar sua família à missa aos domingos de manhã e, à tarde ao zoológico. Era muito difícil, pois seis filhos, não são fáceis! Aconteciam muitas brigas entre as crianças, muita choradeira, porém, mesmo assim era mágico.
-Maria está bem! Suspendo o castigo; com esse acidente foi o dinheiro todo que estava reservado para comprar a comida do mês.
-calma bem! Eu dou um jeito, compro fiado lá no seu Pedro do Mercado Popular.
Os filhos mais velhos ficaram tristes ao ouvirem aquela conversa, Dalton estava se sentindo culpado por tudo, principalmente porque sua mãe havia ido diversas vezes pedir que eles mudassem de brincadeira, pois aquela era muito perigosa. Diziam que mudaria, mas era só Dona Maria sair para que voltassem com a mesma brincadeira. Dona Maria estava pressentindo que algo estava para acontecer, ela tinha muito disso: de sonhar também com situações que viria a acontecer e como ela estava certa.
Aquele dia para Mariana findou-se triste, por tanto tumulto. Seu pai não deixou que ela encontrasse com seu lindo Márcio, a meninada foi para cama cedo, só Dalton que pegou uma velha radiola portátil, sentou-se no murinho que tinha perto da varandinha do tanque de lavar roupa. Alguns dias atrás pediu uns discos emprestados para um colega da escola. Dalton era muito tímido, e muito brigão em casa. Mas, no convívio com outras pessoas se sentia inibido, e isso ocasionaria muitos problemas que teriam conseqüências por toda sua vida. Arredio, não conseguia falar para seus pais o que magoava tanto. Nem Mariana conseguia ter essa aproximação. Eles tinham crescido tão unidos, iam sempre juntos para a igreja, confessar seus pecados. Até que um dia o padre os dispensou por falta de pecado. Passaram alguns dias para que outro mexerico surgisse e o Dalton saísse da boca do povo.
-Dona Maria!
Chama Dona Isabel lá no portão.
-Entra! Estou passando um café! Venha bebê-lo comigo.
-Oh! Vizinha, a que hora que o padeiro passa?
- Seu Manuel, sempre entre quatorze às quinze horas. Hoje a senhora quer comprar pão?
-Sim, me avise. Por favor!
Dona Isabel, se tornara uma boa vizinha, amiga e sincera. Mãe de seis filhos, três meninos e três meninas. Moravam todos juntos a sua avó materna. Dona Isabel, que fora abandonada por seu marido, sofria muito com a solidão. Durante o ano, sempre tinha crises de depressão. Por conseguinte, era internada em clínica de psiquiatria. Logo que a família de
O primeiro amor de minha vida. 10
Mariana mudou-se para lá, João Carlos um de seus irmãos se indispôs diversas vezes com Pedro, filho mais novo de Isabel.
Pedro liderava os meninos de sua idade. No mesmo dia que se conhecem, Pedro o ofende e tenta agredi-lo, na porta da escola, que ambos estudavam.
-Ei! Menino. Sabe quem manda aqui? Sou eu.
João Carlos fica assustado, pois sempre fora uma criança pacífica. Pedro está acompanhado de outros colegas, e eles partem para cima de João Carlos. Ele sai correndo. No outro dia ele novamente vai para escola. Quando termina a aula ele fica a pensar:
-“Hoje não posso fugir, tenho que enfrentar esse menino.”
Novamente na porta da escola está lá a esperá-lo, o mesmo, com os seus colegas a incentivar uma nova confusão.
-Ei! Vê se não corre.
Antes que terminasse a frase, João Carlos, o esmurrou acertando-o em seu nariz. O sangue escorreu por seu uniforme branco. Causando uma euforia em todos que os rodeava.
-Pedro! Não quero brigar mais com você. Deixe-me em paz!
Depois deste episódio ficaram amigos. E João Carlos obteve a admiração de todos os meninos da Rua Sessenta e Três.
-Dona Isabel! Quando o padeiro chegar, eu mando o João Carlos avisá-la. Está certo?
Gritou Dona Maria lá da porta da cozinha.
Quase toda à tarde, descia a rua o padeiro em uma lambreta. Carregando um grande cesto, cheio de deliciosos pães, de doce e de sal. Ana Carolina e João Carlos juntos com a meninada, desciam correndo atrás, iguais formigas em mesa de piquenique.
A vida continuou como de costume, as férias acabaram e o ritmo escolar não mudaria em nada a vida dos dois. Todos os dias ele a buscava no colégio e, nos finais de semana passava o tempo quase todos juntos. Os pais de Mariana já começavam a ficar preocupados; aos seus olhos ela era muito jovem, porém, de pouco a pouco, Márcio conquistava a confiança de todos. Os meses se passaram muito rápido, iguais a nuvens em dia de ventania. A família de Márcio se entrosou bem com os seus familiares ricos e com a alta sociedade. Portanto, não estavam vendo com bons olhos aquele namoro. Menina simples e família pobre. Márcio poupava Mariana desse assunto não queria magoá-la. Por intermédio do tio rico ele arrumou um emprego, e o mesmo tio ajudou na mudança da família para um bairro de classe alta.
Veio à formatura de Dalton. Com dificuldades Dona Maria e seu José Rodrigues prepararam todos para a cerimônia de formatura. Dalton foi presenteado por seus pais com uma viagem ao Rio de Janeiro que se realizaria na primeira semana das férias. Ir à Cidade Maravilhosa era o sonho de todo jovem daquela idade, e com a ajuda de Márcio, Dalton pode concretizar. A felicidade de seu José era enorme. Seu filho mais velho tinha terminado o curso ginasial, logo estaria fazendo uma faculdade. Chegou o dia do baile tão esperado por Dalton e os jovens da rua. Quando os enamorados se encontraram, ficaram encantados um com o outro. Márcio estava muito alinhado, vestindo um terno cinza escuro, Mariana parecia uma princesa dessas de histórias infantis, estava à mocinha mais linda da noite, e realmente era uma princesa para Márcio. Depois da entrega dos diplomas, inicia-se a valsa, e Mariana timidamente dança com seu irmão.
-Eh! Maninha não pise no meu pé!
Brincou Dalton. Ela sorriu, estranhando a descontração do irmão. As atenções de todos, estão sobre os dois. Causando ciúme em Márcio, que não quis em nenhuma hora, convidá-la para uma dança. Mariana ficou triste. Idealizara tanto aquela noite, se via rodopiando no salão nos braços do seu amor. Era seu primeiro baile. E pela primeira vez usava um vestido longo. E como era lindo o seu vestido! A todo o momento, ia ao salão da entrada para se ver em um espelho, que elegantemente ornava o ambiente. A noite foi linda! Todos dançaram principalmente o seu José com sua esposa, o Dalton bebeu champanhe e tiraram muitas fotografias, com familiares e professores para registrar aquele momento e o descontentamento que Márcio ocasionou não importava mais.
Os dias se passaram e chegou o dia da viagem de Dalton. Eles ficariam fora por duas semanas. Mariana ficou numa fossa muito grande preocupando sua mãe, ninguém nunca havia visto tamanha tristeza, nem Mariana imaginaria que se sentiria assim, parecia uma eternidade. Quando chegou o final da primeira semana, Mariana resolveu ir fazer uma visita para a mãe de Márcio, levando seu irmão Diogo junto para lhe fazer companhia. Ela estava com muita saudade,
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o seu coração estava apertado. Desde que se conheceram essa era a primeira vez que ficou longe sem se falarem. Ela nem sabia o porquê que queria ir à casa de Márcio. Em nenhum momento, a convidaram para uma visita, mas a menina foi. Talvez à procura de um aroma que pudesse amenizar aquela saudade. Mariana ficou muito decepcionada. Eles a trataram com muita indiferença. Menina de alma sensível sofreu calada, não disse nada para sua mãe e para ninguém. Sonhos primaveris só que junto chegou o medo, do que não via, mas sentia. Quando chegou em casa passou por sua mãe que estava na cozinha preparando a merenda, cumprimentou seu tio que havia chegado de uma cidade do interior de Goiás. A sua chateação era tanta que nem percebeu o saco de jabuticaba que ele trouxe especialmente para ela.
-Oh! Maria, que deu nessa menina?
-Sei lá! O compadre não se importe com isso não. Diogo conte para mamãe o que foi que aconteceu com Mariana?
-Uai! Nada!
-Compadre faz assim! Enquanto vejo se aconteceu algo com ela, você toma um banho. Deve estar cansado!
Dona Maria sai e, rapidamente volta com uma toalha.
-fique à vontade compadre Alves.
Antes de ele ir tomar banho, arrumou uma bacia da sua comadre e colocou as jabuticabas para lavá-las, porque seus sobrinhos estavam de água na boca, Ana Carolina a mais nova das meninas estava dando pulinhos de contentamento, a meninada estava alvoroçada. Ele as deixou se deliciando com aquelas frutinhas e foi para o banho. Dona Maria encontrou sua filha tristonha deitada em sua cama.
-Que foi minha filha? Você saiu daqui bem disposta! O que fizeram a você?
-Nada mamãe, estou com dor de cabeça. Acho que foi o sol quente.
-O Márcio telefonou para eles?
-Não mamãe, nenhum telefonema até agora.
-Está bem minha filha vê se descansa um pouco.
Mariana ficou pensativa, sentia-se só, não queria preocupar sua mãe. Suas irmãs eram muito novas.
-Conversar com quem? Se Márcio estivesse aqui.
Uma lágrima rolou em seu rosto, quente do sol ou estaria com febre? E com esses pensamentos dormiu.
A semana transcorreu sem nenhuma anormalidade. Mariana em casa, ajudando sua mãe, seus irmãos, às brigas de sempre, seu pai saindo de manhã voltando à noitinha, a rotina era a mesma. Assim passaram-se os dias, a rua sessenta e três fervilhava com os mexericos. Márcio já não era mais o assunto e sim Dona Neuza, aquela viúva mãe do Cleber, e morava com seus quatros filhos e os criava sozinha. Dona Neuza parecia estrangeira de olhos verdes, pele clara, cabelos pretos compridos formando ondas. Sendo alta mesmo tendo ganhado uns quilos a mais naqueles últimos anos, não a deixava feia, realmente era muito atraente. Por isso as pessoas falavam muito mal dela, levantaram a suspeita que se prostituía para sustentar seus filhos. Naquela semana os mexericos maldosos, causaram repudio em Dona Maria que entrou em sua casa indignada, falando para seu marido com a voz tão alta que Mariana pôde ouvir lá do quarto.
-Zé! A língua desse povo não cabe dentro da boca. Minha mãe já me dizia que a língua é chicote da alma.
-O que foi isso? Por que esta indignação?
-Zé! Não há de ver que estão falando mal da pobre da Dona Neuza.
-o que?
-Que ela é prostituta? Que absurdo!
-É... Nos dias de hoje, uma mulher sozinha, o povo fala mesmo!
Mariana ouvindo o assunto refletiu sobre a vida, o quanto que é necessário preservar a moral. Pensava que aquela mulher não merecia aquilo, como puderam levantar aquela calúnia? Não pensaram nem um segundo em seus filhos, que vergonha!
Quando Dalton e Marcio chegaram ainda era esse o assunto de todos. Nas semanas que vieram, logicamente, a fofoca foi à viagem ao Rio de Janeiro, o que fizeram e o que deixaram de fazer. A paixão dos jovens chegava a emocionar a todos. Mariana que estivera enciumada bastou receber carinhos, para que tudo fosse esquecido até a visita à casa de Márcio. Os meses foram se passando e voltaram às aulas. Márcio quase não buscava Mariana no colégio, sempre12
alegando falta de tempo, dizendo que estava trabalhando muito no escritório de arquitetura do amigo de seu tio. Em um belo sábado, Márcio apareceu para buscá-la. O colégio em que ela foi estudar naquele ano, ficava muito distante de sua casa, não tendo transporte ela voltava caminhando, fizera novas amizades. Sandra e João eram colegas e namorados. Márcio os encontrou no segundo quarteirão, abaixo do colégio.
-Olá minha flor!
Deu-lhe um beijo, pegou em sua mão, cumprimentou Sandra e João e continuaram a caminhar. Mariana o achou triste.
-Meu amor, por que está triste?
-Gatinha! preciso conversar com você.
- Pode falar.
Mariana estremeceu.
-Não assim não. Vamos a algum lugar.
João ouviu o que Márcio estava dizendo e fez uma sugestão:
-Ei, bicho, vamos ali no Cine Capri, àquela lanchonete que tem lá. Vocês já foram lá com a gente.
Eles já conheciam, pois algumas vezes foram para lá no final da aula, comer deliciosas empadinhas. Mariana nunca contou estas peripécias para sua mãe. Chegando lá procuraram uma mesinha mais no cantinho e Márcio carinhosamente pegou em suas mãos e as beijou com muito sentimento.
-Mariana, Você sabe que eu a amo muito, e nem sei como começar.
-Do começo, eu não estou entendendo nada. O quê está acontecendo?
-olha gatinha há muito tempo que minha família vem me pressionando para que eu ponha um fim no nosso namoro. As brigas constantes com meu pai estão me fazendo mal. Eles me acham muito jovem para namorar tão seriamente.
Mariana que escutava em silencio o interrompeu:
-você quer terminar?
As lágrimas escorriam de seus olhos, sem cessar. Márcio não conseguiu conter as lágrimas. Mariana quis argumentar, mas estava sem voz, procurando se acalmar esfregava as mãos.
-Amor você deixou de me amar?
-Nunca! Jamais deixarei de amá-la! Só que não agüento mais. São meus pais, agora até meus tios, estão me pressionando.
-É por que sou pobre?
Márcio ficou sem responder.
-Recuso em acreditar, mas é verdade. Só porque sou simples.
Ficaram por muitos minutos abraçados chorando. Mariana estava inconformada, chorava copiosamente, preocupando a Márcio que procurou reagir parando de chorar para cuidar dela. João e Sandra ficaram chateados com ele, chamando sua atenção dizendo a ele, que estava sendo um irresponsável, dando uma noticia daquela sem ao menos prepará-la antes. Márcio beijou a testa de Mariana, dizendo que a amava, mas que nunca mais voltaria. Levantou-se despediu-se rapidamente de todos e partiu sem olhar para trás. Ele sabia que se não fizesse assim, não teria coragem. Mariana chorou, chorou e chorou. João e Sandra ofereceram uma coca-cola e uma empadinha para ela. Olhando aquele refrigerante, percebeu que daquele dia até aquele momento trinta e cinco anos já se passaram, e aquela família... Tão materialista, que ironia do destino! Será que souberam da ascensão financeira dos pais de Mariana? Novamente a garçonete aproxima:
-Com licença senhora, está em busca de algo?
-Sim, estou em busca de um sonho!
Mariana enxugou seus olhos, pegou sua bolsa e despediu, e subiu a Rua Sessenta e Três. Deixando para trás as marcas gravadas nas árvores, nos muros, e no próprio calçamento, os sonhos do seu primeiro amor.
FIM
Silvia Reis
Fortaleza 04-07-08
O primeiro amor de minha vida.

Flores e Rosas para você.


Flores e Rosas Para Você 2
Na penumbra da noite Esmeralda espreitava a saída de Miguel da carroça de Rosalinda;
- Senhor Miguel...
Chama à jovem e ele se voltou com o semblante mais sereno.
-O que o senhor estava fazendo na carroça de Rosalinda?
-ah!Estava preocupado com a demora de Juan, Rosalinda estava olhando nas cartas.
-Ora seu Miguel, porque não falou comigo?
-Porque o senhor só procura por ela, Não gosta de mim?
-Não é isso não, minha filha, é que Rosalinda sempre me acalma.
-Essa Não! Eu também poderia lhe acalmar.
- Deixe de ciúmes Esmeralda, deixe de bobagem menina, venha vamos sentar com todos.
-Não, não espere... Fale-me o que Rosalinda lhe falou sobre Juan?
- Nada não, ela só me falou, que as cartas estavam mostrando, que logo ele chegaria e com boas notícias.
-Senhor Miguel será que ele vai me trazer presentes?
O velho gargalhou que chegou a tossir e disse:
- Oh! Menina vaidosa vai ver, agora deixe de tanta tagarelice e venha escutar estórias de Karam.
Ele pôs a mão enrugada em seu ombro e seguiram para perto da fogueira.
II CAPÍTULO
Histórias de Karam
A noite descera sobre a mata, com um manto bordado de estrelas, a lua cheia, deixava uma claridade sobre as árvores, que refletia no lago, que orlava o acampamento. Sentados ao redor da fogueira, a noite ia sendo vencida pelo dia; e Karam contava estórias vividas por ele quando jovem.
Karam agachado perto da fogueira, segurando um graveto de árvore, mexia nas brasas e entre uma prosa e outra, seus pensamentos procuravam por uma figura de mulher, que havia ficado guardado em sua Memória.
- E aí Karam?3
Falou Miguel.
-Ah! O quê?
- Continue... Estava falando dos cavalos!
Fala Esmeralda curiosa por saber sobre as estórias antigas.
-Ah! Pois é, naquele tempo não tínhamos tantas dificuldades em comprar cavalos, ou consegui-los,
-Aqui mesmo onde estamos acampados, era um lugar muito bonito e havia muitos cavalos selvagens. Eu e outros cavalgávamos horas e horas laçando-os. Era muito divertido. E depois de amansados meu pai e meu tio Gumercindo levavam para vendê-los nas cidades vizinhas.
- Pablo, você chegou a conhecer meu tio?
- Não, quando me ajuntei a vocês ele havia morrido. Aliás, cheguei justo no dia em que estava uma forte tempestade, se lembra desta tempestade?
- É! Tem mais ou menos 30 anos, não é?
- Isso mesmo Karam.
Falou Miguel.
- Lembra Dona Matilde, disso?
- Como posso esquecer Karam? Nunca vou esquecer
-Foi neste dia que perdi minha filha.
Matilde fez uma pausa e continuou com a triste lembrança.
-Ventava tanto que arrancou as coberturas de muitas carroças.
-Foi mesmo estou me lembrando que os cavalos assustados fugiram quase todos.
Falou Geraldo companheiro de Matilde com um tom mais baixo de voz.
- E no dia seguinte fomos atrás deles, Que trabalheira.
Karam completou a estória.
- Mas porque Karam, que você me perguntou se eu o havia conhecido?
-Ah! Porque me lembrei dele, era um bom homem, alegre, gorducho, que quando montava arriava seu cavalo.
Falou e deu uma boa gargalhada.
- Eh! No outro dia enterrei a minha filha.
- Sua filha não! Nossa filha. Você não me perdoa, não é?
- Eu pedi pra você levá-la para o doutor da cidade e você achava que era besteira.
- Minha gente o quê que é isso? Já se passou tanto tempo, pra que brigar agora?
Falou Karam.
- Foi Deus que quis assim...
- esmeralda você diz isso porque nunca teve um filho.
Flores e Rosas Para Você 4
-Oh! Dona Matilde, não deixe que estas tristes lembranças amargurem o seu coração, pois a
senhora é tão bondosa com todos nós e todos nós a temos como uma mãe, sempre zelosa e prestativa com todos.
Rosalinda que chegara intervindo com sabedoria, suavizando a conversa-Sente aqui Rosalinda, venha ficar um pouco com sua gente.
-Ora, você está aí né? Estava te procurando do Carmo.
É que eu estava sem sono e vim ouvir as estórias do senhor Karam.
Rosalinda chegou como uma estrela radiosa abaixou e pôs nas mãos de Maria do Carmo, uma pedra de cor violeta.
- Que linda? Aonde achou?
-No baú de minha mãe, eu não te disse que tinha essa pedra?
Neste instante Karam que observava as meninas, assustado perguntou a Rosalinda.
-Aonde disse que achou essa pedra?
-No baú de minha mãe, uma pedra tão linda e nunca pensei em usá-la como pingente?
-Deixe que eu veja menina.
- Rosalinda pegou a pedra que estava nas mãos de Maria do Carmo e deu ao senhor Karam, intrigada ficou com aquela pergunta.
-Por que senhor Karam?
-Não, nada não, só quero admirar essa pedra.
E ficou por alguns minutos a olhar, como se procurasse respostas.
-Pegue muito bonita mesmo.
Com a fisionomia perturbada levantou-se de súbito e saiu.
-O que deu nesse homem?
Falou Pablo:
- O Deixe, bebeu um pouco demais, é só isso.
Miguel tentando desviar as atenções sobre Karam a quem ele conhecia muito bem.
- Olha, estava tudo bem, até a princesinha aparecer... Tinha de ser você!
- Esmeralda deixa Rosalinda em paz.
- Seu Miguel, pare de defender Rosalinda.
Rosalinda nem se perturbara com o despeito que Esmeralda sentia dela. Ela estava preocupada com o que não entendera o porquê da reação do senhor Karam.
-Bem meus amigos, vou dormir, boa noite!
Maria do Carmo, a manhã eu te chamo logo ao raiar.
Flores e Rosas Para Você 5
- Ta bom! Mas não tão cedo viu?
- Ta sua dorminhoca!
Despediu-se de todos e afastou-se.
-Eu também vou dormir.
Disse Esmeralda irritada, neste momento Pablo observando as reações de Esmeralda comenta com Miguel:
- É! Senhor Miguel, Esmeralda está assim por causa de Juan, a cada hora está ficando pior.
-Será? Porque, não compreendo.
- Ora, o senhor nunca notou, ela esta apaixonada por seu filho.
- É eu também acho.
Falou Matilde.
- Falo sim, Geraldo, eu já vi muitas vezes ela de olho comprido em cima do Juan.
- é mais Juan tem olhos para Rosalinda. Só ela que não notou.
Comentou Maria do Carmo, Pablo falou rindo da situação.
-Bem, pena que meus filhos não têm idade para entrar neste páreo, também vou dormir. Boa noite!
- Boa noite!
De um a um foram despedindo-se e a fogueira ali ficou na presença do firmamento que tantos segredos guardava. Os lampiões um após o outro iam se apagando e os sons das vozes, músicas e...
As Bagunças das crianças emudeceram dando lugar ao som da noite, que zumbia com o silêncio da mata que só se fazia ouvir Rosalinda que deitava em suas almofadas e contemplava a beleza da lua, falava para
Consigo sussurrando:
-Porque as cartas não revelam quem é você?
- Dia após dia ponho as cartas e não há respostas.
-Como encontrar a outra parte que se oculta sob a luz do luar.
-Como encontrar a parte escura da lua que se esconde sob o sol.
-Como encontrar os raios do luar que fulgura no seu olhar e reflete nas águas plácidas do lago, que se
Esconde sob a escuridão da noite.
-Como revelar seu lado oculto na sabedoria de Deus.
-Como revelar seu lado oculto na magia do amor.
-Como encontrar a outra parte que comungue com meus dons...
-Como te revelar...
-Nos caminhos tão distantes, quantas pedras já pisou...
Flores e Rosas Para Você 6
-Qual o atalho que eu deveria pegar para encontrar esta estrada.
-Como alcançar os seus passos, que estão tão à frente dos meus. Como...
Adormeceu com o coração cheio de esperança e a cabeça cheia de sonhos.
III Capitulo
O Cigano Juan
OO Cigano Juan
O sol novamente se revela como um milagre da natureza e tudo se renovam.
No acampamento dos ciganos o movimento já era intenso, as mulheres descendo para o rio para lavar roupas, cães latindo correndo atrás das crianças, os homens... Uns escovando os cavalos outros jogando baralho, estava uma manhã linda e encalorada o perfume da mata se misturava com o perfume das lindas ciganazinha que rodopiavam no centro do acampamento com suas saias rodadas e coloridas, ensaiando uma dança com trejeitos de mulher.
No centro da ciranda, ora uma entrava ora outra com muita sensualidade Esmeralda dançava.
Com uma mão segurava a ponta da saia, dançando ela deixava aparecer uma parte da coxa torneada e bela, Há sua volta às ciganas entreolhavam-se como a criticar suas poucas maneiras conservadoras.
Esmeralda formosa cigana com grandes olhos negros, maliciosa, muito bonita, cabelos ondulados e pretos; corpo bem feito, trazendo muita preocupação para sua mãe Carmecita, viúva a mais de 10 anos, lutava sozinha contra as más tendências, que há muito tempo percebera em Esmeralda. Dona Carmecita, mulher alegre, que nunca deixara que as amarguras da vida lhe corroessem o coração. Com a ajuda dos ciganos ela vinha criando suas filhas. Aparecera alguns pretendentes para ocupar o lugar que Manolo deixara. Mas nunca tivera interesse por ninguém. Algum tempo que Carmecita começara a observar o senhor Miguel, braço direito de Karam, mais achava que agora já seria tarde demais para amar novamente, Miguel por sua vez nunca percebera nada, sempre zeloso com as meninas, principalmente por Carmem a caçula, pois ficara órfã muito pequena. Miguel que criara só um filho, sempre sonhava em ter uma menina, depois que a mulher lhe abandonara acomodou-se e não quis casar novamente, Carmem com sua meiguice conquistara definitivamente aquele velho coração.
À tarde se principiava já via o movimento das ciganas voltando do rio com trouxa de roupas nas cabeças, as crianças com alegres brincadeiras e as moças não cansavam de dançar, Esmeralda sempre querendo chamar mais atenção sobre ela; Manuela sua irmã do meio começara a entrar na adolescência via na irmã modelo de sensualidade e procurava imitar seus trejeitos.
- Oh Manu! Faça assim com as mãos.
Contorcendo as mãos acima da cabeça.
- Mana é assim!
-Não é assim não!
Esmeralda caia na gargalhada.
-Você sempre zomba de mim, Vou contar para minha mãe.
Manuela saiu em disparada chorando, deixando todos rindo fazendo zombarias com a menina, Rosalinda
Que vinha chegando indigna-se com o que via.
-Meninas, não façam isso! Vocês também já tiveram essa idade...
- Só podia ser a santinha para vim dando sermão.
Flores e Rosas Para Você 7
- Me admira muito você Esmeralda, pois Manuela é sua irmã, você deveria ter mais zelo por ela.
Ao meio desta discussão ninguém notara que uma pessoa puxando seu cavalo aproximara. Rosalinda foi a primeira que percebera.
-Juan, seu bandido, você chegou!
De um salto pulou e lhe abraçou e Juan feliz rodopiava segurando-a pela cintura. Esmeralda, com ódio visivelmente em seus olhos não conseguia disfarçar o seu ciúme.
Depois de alguns minutos Juan parou e ficou a observar Rosalinda fixando o olhar em seus lindos olhos, Rosalinda ficara sem jeito e se recompondo.
-Me ponha no chão, seu maroto! Seu pai sabe que você chegou?
-Não, não! Sua miragem me cegou.
-Deixe disso, eu vou avisá-lo.
E saiu correndo não dando tempo para que ele falasse mais nada. Sentindo uma emoção que nunca sentira o contato com o corpo de Juan, lhe acendera uma fagulha que a deixou nervosa, confusa.
- Seu Miguel... Seu Miguel... Seu Miguel!
- Aqui! Atrás da carroça, que gritaria é essa Rosalinda?
-Venha, venha é Juan!
-quê? O que aconteceu?
-Nada!
- Nada?
Rosalinda rindo com vontade.
- Juan chegou! Seu filho chegou!
-Meu Deus! Vamos menina.
E em disparada Rosalinda e Miguel foram para o interior do acampamento.
A alegria era geral, os ciganos eram muito unidos entre si e Juan em especial era muito querido por todos. Juan, jovem de personalidade forte, caráter correto, e um coração de menino.
A muito que conquistara a confiança do líder dos ciganos por ser justo e honesto, vindo a contrariar a fama de espertalhões que os ciganos ganharam através dos tempos, que não era a particularidade daquele bando. Karam nunca tivera um filho e via em Juan os traços firmes para liderar aquela gente quando viesse a morrer.
- Juan, meu jovem como foi a viagem?
-Melhor que esperava... Karam e como fora estes dias aqui?
Esmeralda os interrompeu.
-Juan, viu muitas coisas lindas, trouxe algum presente?
- Meu filho, que saudade... Como foi a viagem?
Flores e Rosas Para Você 8
- É!Juan desta vez até eu fiquei preocupada!
-Calma! Calma! Pessoal, não demorei tanto assim, é que em algumas cidades me demorei mais.
-Você disse que foi melhor que esperava?
- Pois é, Karam, tenho muita coisa boa para contar.
- Meu menino, me dê um abraço aqui, oh! Minha gente deixa o menino chegar! Até agora aposto que não comeu nada!
-É tem razão D. Matilde.
Dona Matilde depois de abraçar Juan reuniu-se com as ciganas.
- Mulheres! Vamos preparar uma gostosa comida, venham! Venham me ajudar!
Karam junto a todos estava feliz com aquela chegada.
- Pablo vá ao meu carroção e traga um garrafão de vinho. Vamos comemorar.
Esmeralda sugere que façam uma festa e todos concordam. Gritos de salve Juan são várias vezes ouvidos.
IV Capitulo
Recordando as voltas com o passado
Aquela noite chegara com muita alegria, o acampamento em festa, para o delírio das crianças, raspando os tachos de doces. Os homens conversando sobre negócios, as mulheres dançando ao redor da fogueira. Esmeralda se insinuando a Juan, mas ele discretamente procura com o olhar a figura linda de Rosalinda, que não se encontrava em lugar nenhum. A lua no céu estava grande e redonda, as crianças já tinham ido dormir somente Raul e Renan estavam sentados ao lado do pai, ouvindo os casos das andanças de Juan.
-Pablo, estava observando seus filhos como cresceram!
- É! Juan, daqui a pouco vão estar cuidando dos negócios.
-Uh sei, daqui a pouco vão estar muitas garotas atrás deles, o que você acha Karam?
- Como o tempo passa, olha passa tão rápido é como um meteoro. Olhando os meninos volto no tempo em que eu era criança e tinha minha santa mãezinha para me acalentar em seu colo.
Karam mudou seu semblante, que até alguns minutos estava alegre, agora ficara melancólico.
- Eu sempre sonhei em ter uma filha, mas Deus permitiu que viessem dois rapazinhos. Mas vejo as meninas dançando, todas enfeitadas e fico imaginando se alguma delas fosse minha filha.
Neste momento, Karam com a voz embargada de emoção entra no assunto:
Flores e Rosas Para Você 9
- É! Estou velho, seria bom um carinho de filhos, nunca me casei, só amores aqui e ali.
- E nesses amores senhor Karam não soube de nenhum filho?
- Não, se tive nenhuma me contou.
- Olha... Se o senhor quiser, pode me considerar como a um filho.
Karam deu gargalhada dando tapinhas nas costas de Juan.
- Mas já o considero.
- Mas mudando de assunto, quando vamos a cidade?
Senhor Karam?
Interrompe Pablo.
-No princípio do mês, temos que comprar provisões pro acampamento, já decidiu se vamos até Santa Rosa?
Karam ficou sério, por alguns minutos, pensativo...
- Ora... Vamos sim Pablo.
Com o charuto no canto da boca, Karam ficara em silêncio, pensativo, voltou uns 18 anos no tempo, quando esteve pela ultima vez naquela cidade, era um lugarejo, com uma rua principal, um comércio, algumas casas e muitas grandes fazendas ao redor. Ele falava consigo:
-Flores... Flores... Flores... Como você era linda! Como te amei! O que será que aconteceu a você? Nunca mais soube nada a seu respeito, todos que vinham por estes lados eu pedia notícias! Agora estou aqui. Será que a verei? Será que se casou? E seu pai? Aquele homem tão orgulhoso e perverso.
Seus pensamentos foram interrompidos por Miguel que assentou o seu lado.
-Aí, meu velho amigo, recordando?
- recordando o quê?
Perguntou baixinho.
- Você sabe...
- Deixe isso pra lá certo?
- Mas onde você estava agora? Você estava aqui conversando e de repente sumiu.- Ah! Eu estava com Rosalinda, àquela menina tem cada uma!
O que o senhor disse meu pai?
Todos riram, bastou ele ouvir o nome de Rosalinda para se interessar pela conversa.
-Mas Miguel o que foi que ela fez?
-Rosalinda é uma moça muito bondosa, ela quer que eu vá todas as noites a sua carroça para que ela ponha compressas feitas com ervas na minha nuca.
- Mas o que isso vai servir Miguel?
-Karam, ela pôs na cabeça que vai me ajudar palavras dela: Senhor Miguel, o Senhor não tem filha e não tem esposa, então não tem ninguém para fazer isso, e o Senhor sofre muitas dores de cabeça. Estas compressas vão te fazer bem. E não é que esta dando certo!
Flores e Rosas Para Você 10
-Papai onde ela está agora?
-Ela foi à carroça da do Carmo, olha Karam as meninas estão querendo ir com a gente até a cidade.
Neste momento Juan falou com voz imperativa:
- Nem pensar, o que você acha Pablo?
-É se levarmos uma temos que levar as outras e muitas mulheres vão querer ir também, o que você acha Karam?
- O quê, Pablo?
- Sobre as meninas irem com a gente na cidade?
- Vou pensar numa saída.
Rosalinda adentra o carroção da amiga do Carmo, que estava sentada perto do lampião, terminando de bordar um xale, assenta nas almofadas espalhadas no assoalho.
- Olá, posso entrar?
-Que pergunta! Claro, veja estou terminando o que acha?
- Maravilhoso, está lindo! É para usar na cidade?
-E, quero estar linda!
- Maria do Carmo...
- O que foi?
-Você acha que o senhor Karam vai nos deixar ir com eles?
- Não sei... Tomara... Rosa... Estava aqui lembrando de uma coisa...
- Do quê?
- Ontem a noite lembra? Você não achou esquisito o jeito que o senhor Karam ficou?
- Eu achei, depois que ele viu a pedra, ficou muito estranho.
- Você que tem estes dons! (rindo) o que acha?
- Deixe de bobagem não tenho dons, sou muito sensível. É o que eu acho, È que não acho nada.
- Ficou brava? Estava brincando.
-Do Carmo... Aconteceu umas coisas estranhas, comigo hoje...
-Não to te falando... Olha os seus dons!
- Não, não, não é isso, foi àquela hora que Juan chegou...
-Fala logo!
- Quando ele me abraçou eu senti o seu coração batendo forte. O meu corpo ficou trêmulo, fiquei assustada. Quando ele olhou dentro dos meus olhos... Nem quero dizer!
-Xi! Acho que apaixonou!
-Eu apaixonada? Ta brincando! Gosto do Juan como gosto de todo mundo.
- É sei! Fica esperta porque Esmeralda está de olho nele, aquela lá é perigosa!
Flores e Rosas Para Você 11
- Por mim ela faça o que quiser do Carmo vamos deixar isso pra lá, ontem tive um sonho estranho. O mais estranho é que estou tendo o mesmo sonho há algum tempo.
-Mas o que tem de estranho nisso? Às vezes a gente fica impressionada com algo e por isso fica repetindo.
-Não vejo dessa forma não...
- Eu acho que tudo isso é só uma brincadeira sua, para você mudar de assunto.
Rosalinda ajeitou as almofadas e aconchegou deitando a cabeça em uma delas, ficando um pouco pensativa, continuou:
-Neste sonho, estou em um lugar, que não sei aonde é. Parece um casarão, vejo moveis antigos, tudo muito bonito, cristais e prataria, no sonho abro portas, entro em quartos e de repente quando entro num salão, um homem velho, me abre os braços e sorri . Aí eu acordo.
- Credo, que esquisito! O que você acha?
- Não sei, mas antes de dormir vou olhar nas cartas, mas mudando de assunto, do Carmo viu o Tairone caindo do cavalo à tarde?
- Não eu não vi, mas me conte tudo!
- Mas onde você estava?
-Ah! Eu fui ajudar a dona Matilde lavar roupa. Bem feito!
- Bem feito por quê? Coitado, fiquei com dó.
- Pois eu não fico não Rosalinda, aposto que ele estava se mostrando.
- Acho que está com ciúme!
- Eu? Eu não, só o acho exibido!
- Sei!
- Mas deixe isso para lá.
- Vou dormir!
-Ah! Não vai não, vamos conversar mais!
- Amanhã conversaremos mais, quero olhar nas cartas antes de dormir.
- Até amanhã!
- Boa noite!
O som do violino acalentava o sono já de muitos, Rosalinda andava a passos suaves, como se não quisesse quebrar a magia daquela música, que penetrava em seu ser tão profundamente. Queria poder compreender o verdadeiro sentido da vida, de seus anseios íntimos. À noite com seus mistérios não lhe punha medo e sim aguçava seus instintos.Respirava o frescor da noite e observava as estrelas e a lua grandiosa. Aquela noite lhe era mais especial que outras, mesmo não querendo admitir. Já havia despertado dentro dela a paixão.
V Capitulo
Decisão de Karam
A primavera chegara com toda a sua plenitude como se fosse um tapete bordado com variedades de flores, de todos os matizes, a passarada fazia festa, uma cantoria que causava inveja
Flores e Rosas Para Você 12
nos cantores mais perfeitos. O mês corria com a tranqüilidade esperada: a criançada estava alegre com o nascimento de um potrinho, que chegara a parecer um bando de periquitos, ao redor do filhote, que não conseguia se pôr firmemente sobre as patas. As mães ralhavam com eles, mandando-os sair, deixar o potrinho em paz. Sentada na escada da carroça, Rosalinda olhava encantada com a beleza da natureza e os poderes de Deus. Olhando-a por trás de uma árvore, estava Juan que subitamente se atreveu a ir ao seu encontro .
- Olá!
- Olá Juan!
- Rosalinda porque está fugindo de mim?
Juan aproximou rapidamente pegando sua mão.
- É impressão sua.
- Sempre que me aproximo de você, foge arranjando uma desculpa.
- Não, sempre que o vejo está conversando com Esmeralda.
- Isso não é verdade!
Percebendo que falando assim faria com que ela se retraísse ainda mais pensou: Vou mudar minha estratégia.
- Rosalinda estava pensando, em fazer uma brincadeira à noite para escolhermos a garota que vai com a gente na viagem.
- Acho melhor assim, para não deixar ninguém triste, mais soube que você foi veemente contra nossa ida.
- Não posso negar, é verdade, mas pensando melhor estou torcendo que você vá!
-Por quê?
- Para ficarmos uns tempos juntos.
- Ora já ficamos muito juntos aqui!
- Não é verdade, estou sempre trabalhando e você sempre ocupada ajudando uma outra pessoa.
- Mas... Você se importa com isso?
Não, não é isso, é que eu fico enciumado.
Enciumado? Que bobagem!
-Gostaria que fosse eu, o merecedor de sua atenção.
O olhar de Juan encontrou com o olhar de Rosalinda, ela sentiu o ar faltando em seus pulmões, sua pele queimava, quis fugir, mais ele se aproximou mais ainda, quando seus lábios iam tocar os seus, surge correndo Maria do Carmo.
-Rosalinda, Rosalinda, Rosa... Opa desculpe-me, acho que cheguei numa hora ruim!
- Que é isso, chegou não, nos só estávamos conversando, não é Rosa?
-Claro, mas do Carmo o que aconteceu?
-Ah! Esqueci juro.
Flores e Rosas Para Você 13
- Mentira, como esqueceu? Pode dizer o que é?
- Sabe o que é? Estava pensando em ir tomar banho no rio.
- Nem pensar! Não quero vocês sozinhas- Nem pensar! Não quero vocês sozinhas por aí.
- Mas por quê? Sempre fomos ao rio.
- Só que agora não é confiável, de madrugada quando estava conduzindo os cavalos, observei uns cinco homens acampados perto do rio, fiquei sabendo que estavam atrás de caça, a época é boa para caçar, por isso não quero vocês por lá, certo? E avise as outras meninas principalmente a Esmeralda, pois sempre a vejo andando por lá sozinha.
- Não se preocupe, você tem razão. Porque então não vem com a gente? Vai ser maravilhoso, não é Rosalinda?
Encabulada Rosalinda tenta escapar da pergunta.
- Do Carmo Juan estava me falando quando você chegou, que a noite vai fazer uma brincadeira para escolher a garota que vai com o bando a cidade.
-Eh! Eh! Eu o vi te falando mesmo.
Saltando risos meios maliciosos.
- Deixe de ser maliciosa, deixe disso!
Neste momento Juan e Rosalinda entreolharam-se e houve um certo constrangimento, que foi quebrado com a chegada de Miguel e a menina Carmem.
-Rosalinda veja, toque senhor Miguel, para que eles me vejam dançar!
Miguel tirou um lenço encardido do bolso da calça e enxugou o suor da testa e ajeitou o violino no pescoço e começou a tocar uma canção muito alegre e todos acompanhando, batendo palmas compassadas. E Carmem alegremente rodava, tentando repetir o jeito que as moças dançavam. Juan observava seu pai que tocava alegre e olhava para a menina com seu olhar carinhoso de um pai orgulhoso.
Neste momento aproximaram daquele grupo Matilde e Esmeralda. Esmeralda, já chegou rodopiando roubando o brilho da menina. Carmem garota melindrosa sentiu ofendida e se acanhou perto da carroça, Esmeralda não se dando por satisfeita, tirou o lenço que amarrava seus cabelos, dançando enlaçou o pescoço de Juan.
- Venha Juan dançar comigo.
E se insinuando sobre ele, deixando Rosalinda enciumada, Juan sem saber o que fazer dançava.
- Esmeralda, não sou bom com isso...
Esmeralda aproveitando do acanhamento de Juan se enroscou em seu pescoço, Rosalinda fez menção de sair correndo, Matilde segurou seu braço, percebendo que Esmeralda tentava mais uma vez intrigar com Rosalinda.
Juan? O Geraldo esta te chamando agora, ele está precisando de você, ele esta lá no cercado dos cavalos.
Juan agradeceu e mais que depressa saiu correndo, para se livrar da situação, mas antes olhou para Rosalinda, Esmeralda meio sem graça ralhou com Matilde.
-Há! Não dona Matilde, porque a senhora fez isso comigo?
-Olha menina, não fiz nada, só dei o recado.
Flores e Rosas Para Você 14
-Você é que é oferecida demais.
Rosalinda chama a atenção da amiga.
- Que é isso, do Carmo?
- Deixa de ser falsa. Você bem que gostou que essa encrenqueira falasse assim...
A essa altura da discussão, Miguel parou de tocar e com o olhar contrariado falou energeticamente com todas.
-Chega, chega... Vocês não podem nem um minuto ficar juntas sem se ofenderem desta forma? Que
coisa feia, e você Esmeralda não se preocupa com Carmem que saiu daqui triste? Quer saber? Não toco mais pra ninguém pra mim chega!
E falando assim saiu pisando duro, e foi ao encontro dos outros que estavam perto dos cavalos.Rosalinda que sempre fora muito sensata ponderou:
-Esmeralda por que essa agressividade? Quando éramos crianças, já fomos muito unidas. Se lembra?
- Isso foi antes, hoje eu sei que você é dissimulada, falsa santinha, só para conquistar o Juan.
- Não, não é verdade isso...
Rosalinda com os olhos marejados de lágrimas se calou e Matilde entrou na conversa pondo um final.
- Pare agora mesmo com isso Esmeralda, vou contar tudo isso a sua mãe.
- Pois conte vá lá...
- Esmeralda você esta indo longe demais... Você está faltando com respeito à dona Matilde.
- Ah! Do Carmo, cale você também.
Do Carmo fez menção de avançar para Esmeralda, mais Rosalinda a impediu.
- Oh! Minha amiga, não vê que é isso que ela quer? Vamos sair... Bora!
- Oh! Maninha, para com isso venha vamos sair daqui.
- Você viu o que causou santinha, você me paga. Tomara que você não vá a essa viagem.
Falando aos gritos pegou a mão de Carmem e saiu empurrando tudo pela frente.
- Rosalinda ela não sabe que não é pra ir para o lado do rio.
- Vá do Carmo, vai falar com o senhor Karam.
Do Carmo saiu em disparada para avisar dos destemperos de Esmeralda.
Karam logo que ficou sabendo deu ordens a Gustavo, Pablo e Tairone que fossem buscar a ciganazinha rebelde. Mais a frente Esmeralda já estava diante dos forasteiros que se surpreenderam com a súbita chegada da jovem cigana.
Aqueles homens rudes de cidades vizinhas, não tinham respeito por ciganos, achava-as pessoas fora da lei, dos homens “ditos” de bem. Por essa razão que Juan temia o confronto.
-Que belezinha olha aí!
Flores e Rosas Para Você 15
Levantando e partindo para cima de Esmeralda, do meio da mata saiu mais três homens que escutando a voz do amigo, voltaram para ver o que estava acontecendo.
- Vejam amigos! De onde surgiu este anjo?
- Ah! Deixe-me em paz.
- Por que em paz, nós não estamos fazendo guerra.
Falando assim tentou pegar seus cabelos.
Esmeralda assustada tentou se livrar correndo e os outros quatro a cercaram, neste momento, do meio do mato surge os ciganos empunhando facões, Pablo se adianta aos gritos.
- Epa! O que pretendem fazer, correndo atrás da menina?
- Tairone pegue Esmeralda.
- Venha Esmeralda me dê à mão, monte aqui.
Com um forte puxão Tairone levantou Esmeralda sobre o cavalo, colocando-a em sua garupa.Gustavo com
Voz em tom imperativa falou quase gritando:
-A limitação de vocês é daqui para trás.
- Quem é você para me dar ordem?
Os outros começam todos a falarem ao mesmo tempo.
- Essas terras não têm dono, e muito menos são suas.
Os ânimos estavam exaltados e Pablo com um aceno chamou-os para voltarem ao acampamento encerrando assim aquela discussão deixando para trás homens visivelmente irritados. A chegada estava sendo já esperada, com uma certa preocupação por todos principalmente por Karam, que conhecia muito bem a violência e intolerância daquele povo. E às vezes ficava a questionar se fora correto em conduzir o seu povo para aquele lugar. Karam sentado sobre um tonel de madeira, com um cigarro no canto da boca esperava com ansiedade os quatros chegarem, para conversar com a cigana Esmeralda. Passaram alguns minutos para que ouvisse o trote dos cavalos.
- Esmeralda... Venha sente aqui... Vocês deixem a sós com ela.
Todos em silêncio se retiraram, deixando a cigana aos cuidados do chefe.
- Menina preste muita atenção, no que eu vou lhe falar: você hoje quase causou uma desgraça entre o nosso povo. Por esta maneira estúpida de ser. Você age só pelos instintos, sempre, sempre criando problemas para todos. Eu prometi a Manolo, seu pai, que zelaria por vocês, mas não aceita ordens, assim é difícil protegê-la.
Pensando sobre o assunto, resolvi que quando voltarmos arranjar-lhe-ei um casamento. Vou pensar em alguém que lhe ponha limites. Você me compreende? E se criar maiores problemas, que Manolo me perdoe, mas... Vou ter que tomar outras atitudes.
- Senhor Karam, Eu quero me defender.
-Não, pense sobre tudo em que lhe falei, agora vá procurar sua mãe, que ela está preocupada.
Os comentários entre os ciganos do fato ocorrido logo foi encerrado pelos mais velhos, que com a sabedoria do tempo, sabia que tem certos assuntos que são melhores esquecidos.
Flores e Rosas Para Você 16
VI Capitulo
O amor está no ar
A tarde findara com a alegria costumeira entre os jovens ciganos.Havia muitos jovens enamorados, cheios de sonhos, ciumentos por natureza, cercavam suas eleitas com gentilezas e serenatas. Tairone amigo íntimo de Gustavo, que em anos passados tivera como melhor amigo a Juan, mas com tantas responsabilidades que Karam atribuía a ele, os jovens se distanciaram, mas a lealdade continuaria a mesma.
Tairone era considerado pelas moças, um cigano sedutor e mulherengo, causava um certo temor entre as mães, elas diziam que ele teria que mudar seu temperamento para fazer uma moça feliz. Os dois amigos sentados debaixo de uma árvore, traçavam planos para aquela noite.
- Gustavo, a Maria do Carmo não sai do meu pensamento, que morena bonita!
- Eh! Amigo você suspira pela Maria do Carmo e eu aqui morrendo de amores pela Esmeralda.
- Só que a Esmeralda, esta arrastando uma asa para Juan.
- é... Eu sei, mas eu conquisto essa mulher.Juro-te, ela vai ser minha.
-Estava pensando em fazer uma serenata para do Carmo, o que você acha?
- Ótimo eu lhe ajudo, você sabe, a minha voz é mais bonita que a tua!
Caindo na gargalhada.
- Que nada, deixe de ser exibido, pode deixar que eu mesmo canto.
- Está com medo da concorrência?
Levantando e exibindo seu corpo musculoso.
- Estou achando que não foi boa idéia essa da serenata.
- Deixe de ser bobo estou brinca- Gustavo, a Maria do Carmo não sai do meu pensamento, que morena bonita!
- Eh! Amigo você suspira pela Maria do Carmo e eu aqui morrendo de amores pela Esmeralda.
- Só que a Esmeralda, esta arrastando uma asa para Juan.
- É... Eu sei, mas eu conquisto essa mulher. Juro-te, ela vai ser minha.
-Estava pensando em fazer uma serenata para do Carmo, o que você acha?
- Ótimo eu lhe ajudo, você sabe, a minha voz é mais bonita que a tua!
- Que nada, deixe de ser exibido, pode deixar que eu mesmo canto.
- Está com medo da concorrência?
- Estou achando que não foi boa idéia essa da serenata.
- Deixe de ser bobo estou
ndo, mas que noite vamos fazer a serenata?
- Hoje... Depois que todos forem dormir.
Flores e Rosas Para Você 17
Durante à tarde as ciganas tinham por hábito de fazer uma sesta. Elas diziam que era o sono da beleza, o acampamento ficava em silencio nem a gritaria da criançada era ouvida.
Rosalinda aproveitava o frescor da tarde, para pensar e colocar cartas para si. Algo lhe preocupava, ela havia percebido que, depois que Karam viu a pedra em sua mão, ele ficara intrigado, percebera que em alguns momentos ele a observava com olhar de indagação, e isto a deixava confusa.
- Vejamos o que tem aqui para mim...
Cautelosamente, Rosalinda vai arrumando de uma a uma as cartas do tarô.Elevou seus pensamentos a Deus e fez uma rápida prece à Santa Sara que era conhecida como sendo a santa dos ciganos.
- Deus que a tudo ouve e a tudo vê, me instrua como melhor devo me portar nessa minha vida. Esclareça-me sobre essas coisas que perturbam os meus pensamentos e que anda tirando a paz do meu espírito. Que tudo seja por sua vontade. Amém!
Ela depois da prece se sentia forte e equilibrada, foi virando as cartas, falava com voz meio baixa como só a ela importasse aquele assunto.
- Mulher jovem, no passado. Proteção de um homem mais velho. Será que é o homem do meu sonho?
E essa mulher jovem? E no passado?Esta tão confusa as cartas! Será que não estou sabendo perguntar? Engraçado, hoje amanheci lembrando de minha mãe, de quando eu lhe perguntava, quem era meu pai e ela dizia que ele havia ido embora, e me lembrei de minha avó dizendo porque não conta à verdade para essa menina? Ela só respondia mamãe, mamãe! E eu não compreendia nada. Ai o tempo passou, ela morreu minha avó também, Chegou um tempo que parei de perguntar, pois as respostas eram confusas, Tem dia que sinto tanta solidão!
Rosalinda aconchega sobre as almofadas, e duas lágrimas como perolas rolaram de seus olhos. Ela não compreendia tanto sofrimento, de repente, percebeu que tudo aquilo que estava sentindo estava guardado nos seu mais profundo íntimo. Ela ansiava por respostas, que estavam a sua frente e sempre estiveram, aproximava o dia do acerto, do confronto do passado com o presente. Rosalinda deu um profundo suspiro e se entregou ao sono. O perfume das flores da noite envolve o acampamento misturando com o aroma das gostosas comidas que estavam sendo preparadas para festa de logo mais. Miguel conversava alegremente com as cozinheiras que preparavam os alimentos em panelões sobre fogareiro antigo. Carmecita comentava sobre a época em que seu Manolo ainda estava entre eles. Como ele gostava de sua comida e a conversação ia e vinha Matilde ajudando a descascar batatas e cebolas, só observando que Miguel sempre puxando assunto com Carmecita, às outras nada falavam, só prestavam atenção nas histórias.
-Tem muito tempo que Manolo se foi, nunca pensou em casar-se novamente?
- Quem poderia querer casar com uma cigana velha?Antes era jovem e com filhos pequenos, agora já não sou tão jovem assim para isso.
-Mais há de ter uma pessoa que também não seja tão jovem e que goste da senhora.
-Ora, seu Miguel, onde está, que até agora não vi ninguém.
.
Miguel ansioso em dizer, em gritar, sou eu este homem.Queria falar o que guardou por toda a vida, do seu amor, de sua admiração por sua coragem. Mas se intimidou, achou que o momento não era adequado.
- Aí? Ta vendo, quase que deixei queimar o ensopado, vá, senhor Miguel o senhor esta me distraindo com essa conversa mole.
- Não liga não Miguel, ela está fazendo de desentendida.
-Eu desentendida? Que nada, Matilde está com prosa.
Miguel meio que sem graça saiu sem dizer nada. E as duas amigas continuaram a conversar:
Flores e Rosas Para Você 18
.
-Carmecita, somos amigas há muito tempo, e nunca falei nada a você, mas... Já não é hora de você pensar na sua vida?
-Ah! Não sei, tenho medo de não ser feliz.
- Não ser feliz? Veja bem estou com Geraldo há quantos anos? Já fui feliz e agora não sou feliz.
- Mas o seu caso é diferente, pois você não consegue perdoá-lo.
- Eu tento, mais quando lembro de minha filha, volta todo o rancor.
- Geraldo é um bom homem.
- E você? Porque não dá uma chance para o Miguel? Pense nisso Carmecita.
-Sabe Matilde, tem as meninas, tenho medo que elas não aceitem.
- Porque não aceitariam, Miguel sempre cuidou e zelou pelas três.
- Vou pensar, sério, vou pensar, Matilde já que estamos conversando um assunto tão pessoal, já é hora de por uma pedra sobre o passado, não acha?
- Você diz assim, porque você não perdeu nem uma filha!
- Eu imagino que seja a pior situação para uma mãe passar, mas acredito em Deus e sempre soube que tudo é quando ele quer.
Matilde não querendo aceitar o que a amiga lhe aconselhava mudou rapidamente de assunto.
- Onde estão as meninas, para nos ajudar, já, já o pessoal começa a gritar pela comida.
As ciganinhas depois da sesta vespertina se uniram no propósito de enfeitar o acampamento para a festa de logo mais. Aquelas carroças velhas que tantas guerras já assistiram, foram todas orladas por cordões de flores, colhidas com carinho pelos mais novos. Aquele povo sofrido que já passaram tanta fome fugiu de tantas pestes, já foram tão perseguidos por tantos lugares. Sempre acusados de roubo, não demorava em lugar nenhum tinham que sempre sair às pressas, pois o medo das pessoas era muito grande, o preconceito já passado de geração a geração, distanciava a cada hora mais as pessoas, a virem conhecê-los e admirá-los como gente comum, com sonhos, dores, alegrias, fome.
Quem os verem, não como pessoas mundanas, se encantariam com as suas maneiras místicas, com a liberdade que eles carregavam como estandarte. Carroças floridas e iluminadas, a cantoria já estava animada. As ciganas jovens se enfeitavam na barraca de dona Matilde, pois ela tinha um grande espelho que podiam se mirar a todo corpo, a excitação era geral, davam gritinhos e risinhos ao arrumar os cachos de cabelos, colocando flores, pentes com pedras, outras colocavam rendas muito finas, cada moça tinha um ornamento diferente e cada uma com sua beleza.
Miguel sentado em um tronco de uma árvore tombada tirava já uns acordes no violino, barbeado com os cabelos bem penteados para trás, todo risonho, esperando que fosse uma noite especial. Senhor Karam saíra para cavalgar nos arredores, para observar se tudo estaria calmo, em sua companhia estava Juan e andando ao seu lado seu fiel cachorro.
Karam porte altivo não parecia ser um homem do povo, ouvira sem ter ninguém para provar que ele seria de origem nobre da França e que muito jovem quase menino, fugira de seu País para não ser mandado para guerra e uniu a um bando de ciganos e adotara seus modos de viver para nunca mais largar.
De longe poderia ser ouvida a música que estava sendo tocada no acampamento, ora era alegre, ora sonhadora, falando de um amor, ou falando das aventuras. Os dois cavalheiros absortos pelo silêncio da mata, não se atreviam a nada dizer, para não quebrar aquela harmonia que estavam sentindo, só escutavam os ruídos das ferraduras sobre as pedras. De repente se escuta um tiro vindo de dentro da mata.
-Juan, olha! Escuta... Está parecendo tiro de espingarda devem ser os caçadores, é melhor voltarmos daqui.19
-Tem razão senhor Karam, eles estão só caçando.
Pararam de súbito e voltaram dali mesmo para o acampamento. Ao redor da fogueira todos vestidos a caráter para aquela festa, A criançada correndo de um lado para outro, as moças saindo da barraca de dona Matilde, todas lindas, Karam e Juan, chegaram neste momento e Juan estava muito bonito com um lenço ao redor de sua cabeça vestindo uma camisa branca com mangas bufantes, nem chegara a descer de seu cavalo quando depara com Rosalinda saindo da barraca.
- Meu Deus! Como ela está linda!
Rosalinda ao ver Juan, seus olhos se enchem de brilho, caminha em sua direção tomando coragem lhe diz:
- Juan... Hoje dançarei para você!
Juan não acreditara no que acabara de ouvir e pensava:
Ela me ama, ela me quer, como eu a quero para ser minha para sempre.
Sorriu para ela descendo logo do cavalo, aproximou-se mais ainda, podendo sentir o perfume de seus cabelos e o hálito de sua boca.
- Você está mais linda Rosalinda! Se isso é possível.
- Obrigada você também!
Juan amarrou seu cavalo e deu sua mão para Rosalinda que hesitou, mais depois aceitou. Nem só de paz e alegria viviam aqueles ciganos, havia famílias que tinham muitas desavenças entre seus membros.
Trazendo preocupação para Karam. Ermínia esposa de Pablo, sofria com as agressões constantes do marido.
Pablo era uma grande contradição, serio e gentil com todos, mas na família era violento. Karam supunha que fosse por ciúmes, Ermínia, cigana amorosa com sua família, só possuía uma ambição, em ver seus dois filhos crescerem fortes e com paz. Raul seu filho mais velho era sempre o motivo de discórdia entre o casal, trazendo muito amargor em sua vida. Ela não compreendia tantas implicâncias, tanto ciúme, Raul por sua vez tudo fazia para agradar o pai.
Renan, o caçula, não sofria a nenhuma perseguição, o pai o adulava com mais freqüência. Todos estavam já festejando, mais Pablo com sua família não havia chegado, Karam pediu que Carmem fosse até lá chamá-los. Rosalinda que estava preocupada com as brigas que ouviu no final da tarde intervém:
-Pode deixar senhor Karam, eu mesma vou.
Saindo com passos suaves, aproximou-se da barraca de Pablo e pôde ouvir uma discursão entre o casal.
-Ermínia você vai me dizer que eu sou o errado?Quanta vez já te falei que não quero que Raul ponha as mãos em meus pertences?!? Quantas? Não foi uma não! Foram mil! E o que você fez? Nada, por isso ele merece que eu bata nele.
- Meu amor, não, não faça isso, ele é só uma criança e todo filho gosta do que é do pai, isso é normal.
Então quer dizer que eu não sou normal?
- Não disse isso! Só acho que você está exagerando.
- Você sempre fica do lado do Raul!
- Não é isso não, eu nunca dou razão a ele, só acho que não é com violência, que deva proceder.
Neste momento, ouve-se a voz suave de Rosalinda.
Flores e Rosas Para Você 20
- Pablo... Ermínia... Posso entrar?
Falando assim, foi afastando o pano que fazia de porta e entrou, com a intenção de por um final naquela briga, Observou as crianças no fundo da barraca, abraçados um ao outro, os olhinhos arregalados pareciam bichinhos assustados.
-Pablo... Senhor Karam esta lhe chamando.
- Diga a ele que vou mais tarde!
- Olha parece que é serio, ele disse “agora”.
Pablo olhou Ermínia com um olhar furioso, olhou para Raul voltando o olhar para Rosalinda, como a dizer, você venceu, mas só agora, mais tarde tem mais, E saiu.
- Oh! Ermínia eu sinto tanto, todo dia acontece algo para deixá-lo assim.
- Rosalinda, eu não sei até quando vou agüentar tudo isso, o ciúme dele é absurdo.
- Deus vai lhe abençoar, vou pedir a “Ele” por vocês.
- Ermínia, não deixe esta contrariedade abatê-la, você sempre foi tão forte. Deixa pra lá, vamos para perto da fogueira, nos juntar com todos, os meninos devem estar com fome.
- Não sei se devo, tenho receio que Pablo ache que estou afrontando-o.
-Pablo... Senhor Karam esta lhe chamando.
- Diga a ele que vou mais tarde!
- Olha parece que é serio, ele disse “agora”.
- Rosalinda, eu não sei até quando vou agüentar tudo isso, o ciúme dele é absurdo.
- Deus
- Ermínia, não deixe esta contrariedade abatê-la, você sempre foi tão forte. Deixa pra lá, vamos para perto da fogueira, nos juntar com todos, os meninos devem estar com fome.
- Não sei se devo, tenho receio que Pablo ache que estou afrontando-o.
- Não tenha medo, ele nunca faria nada na presença do senhor Karam.
-É você tem razão... Mas e se mais tarde vier a bater no Raul?
- Acredito que não, logo acalmará, deixe-o na companhia do senhor Karam pra você ver.
- É então vamos meninos, Rosalinda tem razão.
As crianças se animaram ao lembrar das deliciosas comidas. Ao meio da alegria contagiante das moças podia se observar olhares apaixonados meio que roubados. Do Carmo, menina sapeca saltitava em meio de uns e outros, Tairone tentava chegar perto, mas ela muito arisca, fugia.Juan encostado em uma árvore, ria das meninices de Tairone tentando conquistar Maria do Carmo. Rosalinda ia passando ao lado dele e ele a segurou pela mão. Ela se voltou.
- Você disse que irá dançar para mim?
Sorrindo saiu correndo e ele a seguiu, Miguel e os outros ciganos tocavam uma linda canção de amor e
Flores e Rosas Para Você 21
Rosalinda encantou a todos dançando, todas foram parando e abrindo espaço para o brilho dela
expandir. Juan apaixonado, não escondia seu amor, Sorriso estampado no rosto, e um lindo brilho no
olhar, em um momento da dança Rosalinda com a mão o chama e Juan sem pestanejar pula para o centro da roda e se uni ao seu par. Eles se afastavam e se uniam em uma linda dança, quando estava terminando ele a enlaçou em seus braços e a beijou, Rosalinda esquecendo de seus temores se entregou ao beijo com paixão. Todos aplaudiram, ela sem graça saiu às pressas. Ele pôs a mão no coração fazendo graça, fingia que estava desmaiando, Gustavo todo eufórico dava tapinhas nas costas de Juan. Gustavo sentia encorajamento, pois pensava: se Juan declara seu amor a Rosalinda, Esmeralda estaria livre para ele. Esmeralda que havia perdido aquela linda cena foi avisada em sua barraca por sua irmã Manuela.
- Esmeralda, venha, você perdeu não viu o que aconteceu.
-Ah! Eu vim arrumar meus cabelos, perdi meu pente com flores. O que menina, diga logo o que perdi?
- Juan beijando Rosalinda na boca!
- Deixe de mentira Manuela!
-Não estou mentindo, pode perguntar pra quem quiser.
-Meu Deus um minuto que descuido acontece tudo isso?
-Venham todos, vamos ver quem vai à viagem! Venha Juan você faz a escolha na brincadeira.
Karam falando alto reuniu todos num grande circulo. As moças todas eufóricas com a possibilidade de passear na cidade.
-Vamos logo com essa brincadeira, por favor, escolha rápido para acabar com essa agonia.
Gritou uma cigana e todos riram, então fizeram a tão esperada brincadeira. Para delírio de Juan, Rosalinda foi à vencedora, Esmeralda ficou inconformada, dizendo que foi falso, que não valeu. Karam intervém a favor de Rosalinda, ficando assim resolvido que ela irá à viagem. Rosalinda se recolheu a sua carroça mais cedo estava com a cabeça cheia, com tudo que havia acontecido durante a festa.
- Rosalinda, porque você saiu da festa, estava tão divertido!
-Ah! Do Carmo estou cansada, quero pensar um pouco, entre.
- Não depois eu volto, pois o Tairone esta me esperando.
-Você e o Tairone vão dar em namoro!
-Bem que era isso que eu queria, mas eu não confio nele não. Eu sei que em todos os lugares que ele vai ele deixa uma namorada.
- Ora, isso foi antes de gostar de você!
-Será? Mas deixa-me ir pra lá.
Ficando Rosalinda, com seus pensamentos, lembrando do beijo do Juan, seu coração batia tão forte. Seu rosto pegava fogo. Pensava em Juan, de quando sentiu que o amava e a expectativa da viagem a deixava tonta, tanta providência a tomar, Rosalinda não conseguia compreender o porquê de tanta ansiedade por uma simples viagem, já os acompanhou várias vezes a muitos lugares. E sempre achou muito cansativo, pois a intenção dos ciganos era comercializar os cavalos. Mas esta viagem lhe era diferente, não sabia, o porque, ela supunha que fosse pela aproximação com Juan.
Mas o destino tem seus meios de unir o passado com o presente e ligá-lo com futuro, e dele ninguém pode escapar.
Flores e Rosas Para Você 22
VII Capitulo
Flores
A noite estava agradável, na imensidão do céu se perdia o olhar de Karam, que mais reservado estava das pessoas, Karam absorto em suas angustias, renovara o desejo de ter notícias de seu grande amor. Fumando seu charuto, puxou um caixote vazio de madeira e sentou encostado em uma árvore. O vento batia em seu rosto trazendo doces lembranças de uma época que o amor era presente em sua vida, aquela música dos violinos, fez recordar da noite em que conhecera flores. Fora mergulhando no passado, em busca de minúcias de sua história de amor. O ano era de 1812, Sevilha havia se livrado da ocupação napoleônica, tantos anos de sofrimento e guerras.
Mas todos festejavam, mesmo estando feridos, maltrapilhos festejavam, o bando de ciganos passavam por Sevilha e entre eles estava Karam e sua família, pensaram em acampar pelos arredores da cidade, quando aproximaram das carroças alguns fidalgos.
Perguntando se entre eles haviam músicos, tendo a resposta afirmativa, fizeram uma proposta aos ciganos músicos para tocar a noite inteira por alimentos para todos. Foi quando Karam conhecera Flores. Fora amor à primeira vista, como uma flecha fumegante a penetrar em seus corações. Flores que acompanhava seu pai a recepção, Não conseguia tirar os olhos daquele cigano maravilhoso ele estava tocando o seu violino junto aos outros e ele conseguia tirar as notas mais fantásticas. Questões de horas já estavam conversando as escondidas no jardim. A menina Flores apesar da pouca idade era dotada de muita personalidade e determinação. O sentimento de amor havia unido para sempre aqueles jovens.
De Sevilha a Santa Rosa, nada poderia deter aquele amor. Assim supunha Karam e Flores, que mergulhados na paixão não tiveram o cuidado necessário em esconder.
Eram jovens com pouca idade não observavam que pessoas que os cercavam estavam sempre espreitando para descobrir algo. E aconteceu o que não devia logo o segredo chegou aos ouvidos do pai de Flores, que tudo fizera para por um final no romance. Floriano um aristocrata orgulhoso não admitiria nunca aquela união. Desejava um casamento de rico interesse para sua filha que já estava em idade de casamento. Floriano viúvo cuidara de seus dois filhos com esmero, com ajuda da governanta Ana, sendo sempre abnegada, sentia verdadeiro amor pelos jovens Antonio e Flores, que depois da morte de dona Antônia no parto do caçula, ela assumiu a maternidade sem nunca ter conhecido um casamento. Floriano depois de tentar separá-los de todos os modos, ameaçou incendiar o acampamento se eles não fossem embora. Karam não querendo por todo o bando em perigo resolveu ir embora, mas combinaram Karam e Flores dela fugir e encontrar com ele em determinado lugar. Ele esperou meses após meses e ela nunca apareceu foram obrigados a seguir viagem. Mas antes de partir ainda tentou ter notícias de Flores mais foi em vão. Floriano era um homem poderoso e muito temido por todos. Miguel tocou de leve no ombro de Karam, obrigando-o a voltar a sua realidade.
- O que foi Miguel?
-Ah! Você se ausentou fiquei preocupado, O que aconteceu?
-Ah! Miguel há horas que não consigo compreender a tramas do destino.
-Você esta se referindo a Flores?
- É... O que aconteceu com ela?
- Karam, eu acho que ela pensou melhor!
-Nunca! Nós nos amávamos
- Me diga Karam o que vai adiantar para você ficar se consumindo assim? Já se passaram tantos anos.
- Para mim não, é como se tivesse sido ontem. Nunca a esqueci e nem esquecerei.
Karam lembrando da pedra que ela usava pendurada em seu pescoço numa corrente de ouro.
- É exatamente igual a que Rosalinda guarda.
Flores e Rosas Para Você 23
- é também fiquei intrigado, é lógico que a natureza não faria apenas uma pedra daquela cor, mais duas exatamente iguais isso é impossível.
- Pois é, concordo Karam.
Neste instante aproximam-se Juan e Gustavo.
- Hei! O que vocês estão fazendo aqui? Venham para perto da fogueira, venham assentar com a gente? Pai, Gustavo e eu apostamos com Pablo e Tairone que ganharemos a corrida na chegada da cidade. O que vocês acham?
- É temos que ver, pois as duas duplas são boas. Não é Miguel?
-Mas senhor Karam em qual dupla o senhor aposta?
- Xii! Pegaram-me!
- Olham moçada, todos são bons, não eu não vou fazer nenhuma aposta.
Um pouco abatido levantou e sem dizer nenhuma palavra saiu.
- Papai o que aconteceu com ele? Ele estava tão bem, uns instantes atrás.
- Juan é uma longa historia, um dia ele lhe fala, é que às vezes as lembranças machucam o coração, mais, depois ele recupera, deixe-o sozinho.
-Ta certo, ta certo pai, então vamos Gustavo, venha também pai, vamos lá no Tairone.
-Vão indo vocês vou ficar aproveitando a brisa da noite. Quero pensar um pouco.
Afastando os dois jovens ciganos comentavam o quanto Karam e Miguel estavam esquisitos.
Miguel assentou no mesmo lugar que seu amigo estava e ficou recordando aquele tempo em que ambos eram jovens e cheios de sonhos, veio a sua memória o sofrimento em que o amigo passara. E o quanto tentou ajudá-lo, a fisionomia de Flores, veio a sua lembrança, ao mesmo tempo começou a pensar na pedra que Flores usava e começou a ver na tela de sua mente a figura de Rosalinda com a pedra.
-Que mistério era esse...
Ele pensava.
Pois pensando em Flores e pensando em Rosalinda, não sei...
Mas, pensando bem uma lembra a outra, nas maneiras, um pouco nas feições. Meu Deus, que tolice que estou pensando? O que uma tem a ver com a outra? Nada! Rosalinda é filha de Maria e o pai ninguém soube, pois a cigana Maria não era um exemplo de comportamento. Quanto ao nascimento dela, na época eu estava ausente junto com Karam. Quando chegamos já havia nascido o bebê. Mas o que esta acontecendo comigo.
E desta forma ficou resmungando consigo, fumando seu cachimbo sentado de baixo da árvore olhando para o céu, contemplando a lua. Já estava tarde e os jovens encontraram ânimo para conversar e namorar contra os gostos dos mais velhos, que a todo o momento chamavam por suas filhas. Esmeralda agachada perto da fogueira com um olhar tristonho, inconformada com tudo que havia acontecido naquela noite.
-Esmeralda?
Gustavo aproveitando a solidão da cigana aproximou-se.
- O que você quer Gustavo
.
-Conversar com você.
Falando com voz doce agachou ficando ao seu lado.
-Você não percebeu que não quero conversar que eu quero é ficar sozinha.
-Ô sua tonta até quando você vai me desprezar, Até quando você vai se humilhar para Juan?
Flores e Rosas Para Você 24
Você não vê que ele não te quer? Ele ama a Rosalinda e pelo que vimos ela também o ama.
- O que você tem com isso. Deixa-me em paz, você que é um tonto, pois eu não te quero. Não gosto de você.E vamos ver se Rosalinda vai ficar com Juan.
-Esmeralda me dê uma chance. Tenho certeza que a farei feliz.
-Hum! Você?
Levantando e empurrando o Gustavo saiu pisando duro. Decepcionado Gustavo ficou por alguns minutos pensativo, balançou de forma negativa e falou a si.
-Um dia você é que vai me pedir uma chance...
Levantando foi se juntar aos outros.Tairone planejava fazer uma serenata naquela noite, Estava esperando que Maria do Carmo fosse dormir. Gustavo não quis ficar junto com a turma, ficara chateado como que acabara de acontecer.Estava com muitas idéias que precisaria falar com Karam ainda naquela noite e saiu a procurá-lo. Karam já tinha entrado em sua barraca, quando ouvira Gustavo lhe chamar.
- Senhor Karam... Preciso falar-lhe.
- Pois então entre Gustavo.
-Senhor Karam o senhor sabe de meu amor por Esmeralda?
-Hã! O que tem isso?
- Pois é eu fiquei sabendo que depois da viagem o senhor vai escolher um marido para ela.
-É verdade!
- Por isso que eu estou aqui, quero lhe pedir que me escolha.
- Não sei, não Gustavo. Esmeralda precisa de um homem com pulso forte para dominá-la. E você me parece que a ama muito e você é muito bondoso com ela.
- Mas senhor tenho certeza que com o tempo eu conquistarei aquela mulher. Eu preciso que o senhor me ajude.
-Vou pensar e depois eu lhe falo.
Agora vá dormir. Sossegue este coração meu rapaz.
Pondo a mão sobre o ombro de Gustavo com tom de carinho. Karam compreendia profundamente o que Gustavo estava sentindo. Aquele gesto do líder dos ciganos tocara fundo em seu coração. Sentindo uma tranqüilidade em seu íntimo. Saiu e foi a procura de Tairone para ajudar na serenata na hora marcada. Durante a madrugada fizeram uma apaixonada serenata, e todo acampamento pôde ouvir. Rosalinda na sua carroça, ouvindo sonhava acordada com seu amor, Juan encostado do lado de fora da carroça de Rosalinda pensava nela. Aquela noite se pudesse receber um nome seria certamente do amor.
VIII Capitulo
A viagem
A madrugada já rompia o dia, o sol começava a dar os primeiros sinais de sua grandeza, os pássaros assanhados cantavam e alimentavam seus filhotes e o orvalho da noite ainda escorria das folhas verdolengas. No acampamento dos ciganos, já se notava um forte movimento, Os preparativos da saída, alvoroçava até os que não iam. Esmeralda não quis sair da cama, o despeito que sentia a consumia, Rosalinda estava linda que encantava a todos, já na saída Pablo anunciou que levaria seus filhos Renan e Raul, causando uma certa preocupação para Ermínia, Na saída Rosalinda lhe procura.
- Ermínia, confie em Deus e tudo dará certo.
Flores e Rosas Para Você 25
- Obrigada Rosalinda, por seu apoio você sempre tem razão Deus os olhará.
E todos partiram e os que ficaram, saudaram segurando lenços coloridos nas mãos. Os ciganos têm suas tradições eles são rigorosos e cheios de encantamentos. Quando viajavam para vender os cavalos, suas mulheres ficavam alucinadas de ciúmes, pois sabiam que as suas entradas nas cidades, causam um grande rebuliço em todos, principalmente nas mulheres que sentiam um misto de medo e desejo. Medo por tudo que era falado de pai para filho, que os ciganos roubavam cavalos, mulheres e crianças. Desejo pela beleza e liberdade a qual lhes demonstravam. Karam tinha o desejo de ir a Santa Rosa, mas se tudo desse certo, chegaria a Sevilha, pois havia já se passado 20 anos, desde a noite que conhecera Flores. Os caminhos da vida quem poderia conhecer, somente a Deus pertenciam àquelas respostas. Com olhar taciturno Karam prosseguia, de vez em quando Miguel observava um certo brilho em seu olhar, que só quando jovens ele tinha visto.
A viagem decorria tranqüila, Rosalinda na carroça que levava as crianças iam alegres cantando. Juan ia à frente com os outros a cavalo. Pernoitariam para seguir viagem na madrugada seguinte, estavam todos cansados, as estradas não estavam boas. Passaram por lugares belíssimos que encantavam o olhar de todos. Pararam as margens de um rio, dos quais as águas eram cristalinas, o sol já estava se pondo e refletia sobre as águas um tom róseo. Rosalinda com as crianças desceram da carroça, foram até a margem do rio, com os pés dentro da água se encantou com a limpidez, dava para ver as pedras brancas no fundo do rio, cardume de pequenos peixes fugiam rápido com medo do seu contato. Estava maravilhada com tanta beleza! Chamou pelos meninos que estavam correndo pela relva verde, o primeiro dia de viagem passaram o dia todo dentro da carroça os deixando muito cansados. Os meninos refrescaram com um banho rápido que foi seguido por Rosalinda. No céu aparecera à primeira estrela, Rosalinda falou em voz alta:
-Minha avó dizia que quando vimos à primeira estrela poderíamos fazer um pedido, que se realizaria.
Juan que se aproximava perguntou-lhe:
- Qual seria esse pedido?
-Gostaria de ser feliz com quem eu amo.
- E quem você ama te ama também?
-Não sei só perguntando a ele.
- Então, pergunte para mim? E eu lhe responderei que eu a amo demais, como nunca amei ninguém.
Rosalinda que estava toda molhada tremia de frio e paixão. Juan aproximou-se mais ainda e a abraçou.
- Oh! Meu amor, você esta trêmula deixe-me aquecê-la.
Rosalinda reagiu empurrando-o.
- O que é isso? Você está indo depressa demais.
-Ta certo, me desculpa?
Rosalinda chamou as crianças que estavam mais à frente brincando de pegar peixinhos, assim que chegaram, voltaram para perto das carroças, para trocarem de roupa e aguardar o jantar. Todos reunidos em volta da fogueira conversando animadamente sobre as peripécias da viagem, Depois da refeição Rosalinda se despedem de todos e junto com as crianças vai para o carroção. Estava uma noite agradável, o céu cheio de estrelas e a aragem morna. Karam se mantivera em silêncio quase toda noite, ele que é um homem prosador, era de se admirar, ele estava muito observador, atento a tudo e a todos. Os ciganos jovens estavam animados com a expectativa da venda dos animais. Faziam muitos planos, Karam pigarreou e todos olharam.
-Juan, Eu estou ficando preocupado com a rapidez que você tem levado as coisas.
- Que coisas que o senhor esta se referindo?
Flores e Rosas Para Você 26
- Bem, o rumo que você esta levando o relacionamento com Rosalinda.
- Não estou entendendo?
- Ora, Juan você é homem, você entende sim, Rosalinda é menina pura. Tenho receio que a magoe.
- Olha senhor Karam, o que eu sinto pela Rosalinda nunca senti por ninguém é sério e por toda a vida.
- Como pode afirmar que será por toda a vida? Quem é que sabe?
-Ninguém, mais eu sei o que eu estou sentindo dentro do meu coração, eu sei que é sério, e temos que acreditar que tudo vai dar certo! Nunca farei mal a ela.
Neste momento todos ouviram em silêncio, Miguel intervém:
.
- Juan, compreenda o Karam ele está no lugar de pai, confesso que no início eu também fiquei preocupado.
Agora não estou mais. O Karam está certo de estar apreensivo, Rosalinda é uma menina muito sensível, ela é quase filha de todo mundo, pois sempre está ao lado de todos nos momentos que precisamos.
E todos opinaram quebrando o gelo, dizendo que concordava com a opinião de Miguel.
-Ei, ei que é isso minha gente, não precisam se preocupar, a minha intenção com Rosalinda é de casamento.
- E Rosalinda sabe disso?
- Não sabe ainda, mas Karam pode ficar tranqüilo que vou logo dizer.
Neste mesmo instante, Rosalinda começou a cantar uma linda canção de amor, mas não era amor de um homem por uma mulher, e sim de pai para uma filha. Todos ficaram emocionados, e também impressionados com a coincidência de estarem todos, naquele momento falando sobre ela, com o sentimento de pai.Pablo vai até a carroça buscar fumo e chegando pode ouvir uma conversa das crianças com Rosalinda,
Pablo ficou em silêncio.
-Rosalinda sorte a sua de não ter conhecido o seu pai.
- Porque você diz isso Raul.
- Por que meu pai não gosta de mim, por qualquer coisa ele me bate.
- -Mas Raul? Deixa eu te explicar, o seu pai te ama muito, ele briga com você, porque ele quer que você cresça um homem bom. Sinceramente eu acho que você não deveria se sentir assim não!
- Mas Rosalinda? Ele só implica comigo, com o Renam é diferente ele o trata bem. Sabe, às vezes quero ficar perto dele e ele me manda embora.
- Oh! Meu menino bonito, não fique triste assim não, Não é Renam? Você está tão caladinho, não disse nada?
- Xi! Ele dormiu, Mas Raul, Fique feliz meu menino, triste é não ter um papai. Às vezes a noite ficava sozinha pensando nele, pensando como seria maravilhoso se ele estivesse comigo, me afagando os cabelos ou mesmo ralhando comigo, não tive nada disso. Agora vai dormir, descanse amanhã vai ser um novo dia para todos nós.
Flores e Rosas Para Você 27
Do27
Do lado de fora da carroça, Pablo com os olhos cheios de lágrimas, não sabia o que pensar viu que seu ciúme estava indo longe demais e que ele amava seu filho. Com a demora de Pablo, Gustavo veio a sua procura.
- Ei... O que foi?
- Nada, parei aqui para pensar.
- Mas, você não tinha vindo buscar o fumo?
-Ah! Sim, mas eu não trouxe, procurei e não achei.
- Então vamos voltar, venha ficar com a gente a conversa está animada.
Um pôs a mão no ombro do outro e se foram, Pablo tentava conter sua emoção para que ninguém visse. Karam desde a hora em que ouviu Rosalinda cantar ficou com o seu coração amargurado, ele não conseguia compreender este sentimento, ele começou a pensar em flores e na sua lembrança a imagem daquela jovem, sonhadora e meiga.
-Como amei Flores, acho que até hoje a amo, porque não veio ao meu encontro naquela noite... Por que?
- Falou comigo Karam?
-Ah! Não Miguel! Pensei alto.
- Porque você anda amargurado?
- Não sei Miguel, mas a minha volta a Santa Rosa, está mexendo com os meus sentimentos.
- É, eu posso imaginar.
- Karam venha vamos andar um pouco, quero conversar a sós com você.
Juan estava sentado em uma árvore caída, tocando seu violino, os outros ciganos estavam pensativos, ouvindo a musica que estava sendo tocada tão lindamente.
- Tairone? O que será que a Esmeralda está fazendo lá no acampamento há esta hora?
- Boa pergunta, do jeito que é aprontadeira de confusão.
Tairone falou rindo, Depois ficando sério e com olhar apreensivo.
- Olha Gustavo, pensando bem, é de causar preocupação o acampamento nos cuidado dos mais velhos.
-É você tem razão, mas eles têm experiência.
Juan parou de súbito de tocar.
- Ei o que vocês estão dizendo aí?
-Juan, é que Tairone comentou de sua preocupação com as mulheres no acampamento.
-Pois é gente, bem pensado saímos todos e esquecemos dos perigos que por ventura venham a passar.
Neste momento Pablo intervém:
Flores e Rosas Para Você 28
- Ô minha gente, deixa de pessimismo, quantas viagens como essa, nós já fizemos? Essa não é a primeira e nem vai ser a ultima, certo? E digo mais: nossas mulheres sabem se defender muito bem.
Mesmo que Pablo tenha razão os jovens ciganos ficaram com uma certa preocupação, tentaram disfarçar para que Karam e Miguel não percebessem nada.Aquele céu límpido e cheio de estrelas, uma linda lua cheia clareava a margem do lago, que naquele instante servia de cenário para os dois velhos amigos conversarem seriamente.
-Mas Miguel me diz o que você gostaria de me falar?
-Bem, é muito sério, parece loucura, em nem se deveria falar.
- Vamos me diga e eu decido se é loucura.
-Karam, de algum tempo para cá, um pensamento não sai da minha cabeça.
-Que pensamento?
- Flores... E Rosalinda.
-Como? Não estou entendendo...
-Karam algum tempo que estou pensando na semelhança de Rosalinda e Flores.
- Miguel que pensamento é esse?
-Ah! Pode até parecer loucura, mas sempre que eu olho uma lembro da outra, o jeito de falar, o sorriso, o olhar.
- É mesmo...O olhar é isso, é muito parecido.
-outro fato que me deixou intrigado.
- que é Miguel?
- a pedra que flores usava é a mesma que Rosalinda tem.Eu afirmo isso Karam, pois existem pedras parecidas mais não idênticas!
- Que mistério é esse? Miguel, você lembra do nascimento de Rosalinda?
-Olha Karam, de alguma coisa, mas podemos descobrir mais detalhes, Carmecita era muito amiga da mãe de Rosalinda.
-E tem a Matilde.
Os dois velhos amigos ficaram com o coração apertado, mas silenciaram.
-Karam, vamos descansar, Amanhã será outro dia e longo.
-depois disto aqui, mais longo vai ficar.
O torvelinho de emoções já começara a se desenrolar. Nada que tenha sido feito sob aquele céu ficaria esquecido e perdoado.Os dois amigos levantaram e voltaram, chegando lá encontraram a turma lutando contra o sono.
- turma vai dormir.
- Vambora
Flores e Rosas Para Você 29
Todos se levantaram, cada um foi indo para sua carroça.As vozes silenciaram e podia ser ouvido os coaxar dos sapos junto com o som da noite.A madrugada passou lentamente acalentada pelos pensamentos e sonhos de todos. Veio a manhã ensolarada e cheia de esperança de um novo porvir. Depois de um reforçado cafés, levantaram acampamento e seguiram os seus destinos.
IX Capitulo
Aquele caminho de Santa Rosa, até as pedras tinha estórias para contar, se pudessem falar. Enquanto os ciganos iam alegremente para o seu destino, no mesmo instante outras tramas estavam sendo articuladas lá no acampamento.
-to com saudades dos meninos.
- eu também manu.
- será que chegaram na cidade.
- Não sei!
- Vamos perguntar para Esmeralda?
- Então vamos
.
As meninas saíram em disparada, gritando por Esmeralda, passaram pelo senhor Geraldo que estava escovando seu cavalo.
- Senhor Geraldo viu a Esmeralda?
- Oh! Ah! Eu a vi perto das barracas conversando com do Carmo.
A agitação das ciganinhas estava engraçada, elas correndo de um lugar para outro. Correndo pra lá e pra cá, todo lugar que chegavam Esmeralda havia acabado de sair,Maria do Carmo estava sentada em um balanço bordando, Manuela e Carmem foram ao seu encontro.
- Do Carmo, onde está a nossa irmã?
- Hora, tava agorinha aqui, será que não está junto da sua mãe fazendo comida?
- Esmeralda ajudando minha mãe? Ora veja!
-é do Carmo, Manu te razão.
- Mas meninas o que de urgente vocês tem para falar com ela?
- Ah! Na verdade, não é Carmem, não é nada sério.
Carmem riu sem graça.
Flores e Rosas Para Você 30
- Não é nada não, só queríamos saber se os meninos estão perto de chegar.
- Aqui?
- É...
- Meninas eles saíram há alguns dias. Agora que devem estar chegando lá, mas me digam, porque este interesse, heim?
Encabuladas começaram a rir.
- Ah... Do Carmo não é nada disso que você está pensando.
- Manu vamos, mamãe está nos gritando.
E saíram correndo uma puxando a outra.
Do Carmo ficou pensativa:
- Como será que esta a Rosalinda, o que será que estará acontecendo? E o Tairone será que estará comportado? Sei! Comportado...
Senhor Geraldo passou por Do Carmo e ela nem percebeu.
- Ta com a cabeça no mundo da lua?
E ela nem ouviu, quem respondeu foi Matilde que vinha chegando do rio com uma trouxa de roupas na cabeça.
- Deixa a menina meu velho.
- Ah! O que falei de mais?
- Você não sabe que as meninas nessa idade são sonhadoras?
- Não faz tanto tempo assim,que você era uma menina.
- Ora meu velho, ta enamorado de mim depois de tanto tempo?
-Engano seu, sempre fui, ora, mulher ficou vermelha?
- Ah! Deixe de bobagem, se esqueceu que estava debaixo do sol lavando roupa?
Falando assim saiu meio bronqueada, pois a vida toda se mantivera na defensiva do marido, mais com o tempo estava amolecendo aquele coração, endurecido pelos sofrimentos que a vida lhe causara. Matilde seguiu para o fundo do acampamento. Com a trouxa de roupa na cabeça, as ciganas estavam alegres cantando e fazendo comida.
- Matilde você viu Esmeralda por aí?
Perguntou Carmecita.
- Oh! Cita eu vi aquela moleca indo sozinha pro rio.
- Pro rio? Sozinha? Já falei para essa menina que não a quero andando sozinha por aí...
- Pois é, eu a chamei, mas ela me deu de ombros.
- Menina atrevida! Mas eu vou atrás dela. Ela me paga!
Carmecita saiu bufando de raiva da filha, passou por todos bradando em voz alta.
Flores e Rosas Para Você 31
- Essa menina, ta cansada de saber que não é pra sair do acampamento sozinha, Karam não vai gostar disso quando souber.
Alguns metros a mãe encontrara Esmeralda despeça, sentada sobre uma pedra emburrada.
- Minha filha!
- Ai que susto mãe!
- Estava preocupada, o que faz aqui sozinha?
Esmeralda soltou um suspiro profundo.
- Pensando na vida mamãe, no Juan.
- Minha filha, já te falei tanto sobre isso, minha querida, o Juan, gosta de Rosalinda, não sou eu e nem é você que vai mudar isso.
- Eu não aceito, vou arrumar um jeito.
- Esmeralda porque não aceita a realidade como ela se apresenta, tem o Gustavo que é um menino bom, gosta tanto de você. Por que não lhe dá uma chance?
- Porque não gosto dele! Gosto do Juan.
Os gritos de Esmeralda continuavam
- É tão difícil para você compreender mamãe?
Carmecita passou a mão sobre a cabeça de Esmeralda, com a testa enrugada de preocupação, e o coração amargurado por sua filha, se calou e ficou a mirar aquelas águas claras e calmas, tão diferente do coração tumultuado de sua filha. E seus pensamentos viajaram no tempo.
- (...) Pobrezinha a vida já lhe tirou o pai, agora, infelizmente, minha filha é que quer lhe tirar o amor.
- Mamacita o que foi?
Carmem desanuviou o seu semblante, tentando disfarçar, aquela emoção que aflorava tão subitamente.
- Filha minha, a morte do seu pai, você ainda era muito pequena, ele era um pai muito amoroso. Se ele estivesse vivo hoje, ele ficaria muito triste em ver você tão revoltada, filha escuta sua mãe. Quando tinha a sua idade eu cometi o mesmo erro que você está querendo fazer.
- Como assim? Fale-me mamacita!
- Eu forcei seu pai a um casamento, ele amava uma outra cigana, mas essa cigana era muito leviana, por esta razão ele não acreditou que o filho que ela estava esperando fosse dele. Mas,... Hoje eu acho, que ele acabaria ficando com ela mesmo assim. Mas eu entrei na história e o roubei para mim, eu acreditava que com o tempo ele me amaria, mais isso não aconteceu, e ele se tornou um homem infeliz, e o contato diário com a mulher que ele amava levou-o a loucura.
- Quem era essa mulher mamãe?
- Não importa mais!
- Me fale, se não importa, o quê tem demais de me contar?
- Ora, ora. Era a Maria Hernandez.
- A mãe de Rosalinda?
Quando Carmecita se deu conta já havia revelado o seu passado, pensando que estava ajudando sua filha a ver um possível erro. Mais ao saber destes fatos tristes, Esmeralda ficou ainda mais revoltada.
- Mamãe, Rosalinda é minha irmã?
Carmecita emudeceu, pois não poderia revelar realmente a verdadeira história.
- A cada hora eu a odeio mais. Ela só veio para destruir minha vida.
- Esmeralda o que é isso? Porque esse ódio.
Rosalinda não tem culpa de nada.
- Não venha você defendê-la, por favor, assim é demais.
- Esmeralda?
- Me deixe me paz.
Esmeralda se levantou e saiu correndo. Carmem ficou sem ação mediante a essa reação.
Como contar a história sem se sujar mais ainda perante sua filha? Se a verdadeira história viesse à tona como encarar Karam?
Ele fora o maior prejudicado, pois sua filha cresceu ao seu lado e ele nada sabia.
- Porque fora tão longe com esse terrível segredo?
Pensativa ainda continuou sentada, inerte a beira do rio. Quando Matilde tocou seu ombro.
- Ah! Que susto Matilde!
- O que está acontecendo?
Passei pela Esmeralda e ela me pareceu transtornada.
Flores e Rosas Para Você 32
- O pior Matilde, aconteceu o pior.
- O quê?
- Matilde, Esmeralda soube um pouco da historia de Rosalinda.
- Mas porque você contou? E o que você contou?
- O pior de tudo, que Esmeralda esta pensando que Rosalinda é sua irmã!
- Meu Deus o que você vai fazer?
- Não sei, sinceramente não sei.
Esmeralda entra em sua tenda chorando com muito ódio, suas irmãs estavam sentadas brincando com pedras, um jogo de criança.
- O que aconteceu Esmeralda?
- Nada.
- Mais você está chorando?
- Eu já disse nada! E saiam daqui!
As meninas saíram feito ventania. Quase derrubaram Carmecita.
- Que meninas! Sempre correndo!
- Mamãe!
- O que foi Esmeralda?
- Quando eles voltarem vou contar para o Karam... Bem mamãe eu vou lutar contra tudo e contra todos, se for necessário,para ter Juan comigo, se for preciso...
- O quê?
- Farei o que a mãe de Rosalinda fez com meu pai, ou melhor, farei o que você fez. Você não roubou meu pai dela?
- Mais minha filha é isso que estou tentando lhe falar, este tempo todo.Não vale a pena.
- Que não vale a pena? Você conseguiu
- Minha filha...
Sem parar para raciocinar nas palavras de sua mãe Esmeralda continua.
- Mãe quando o senhor Karam chegar eu vou dizer que eu estou grávida e que Juan é o pai, e que Juan não quer saber de casar comigo.
- Esmeralda você não pode fazer isso com Rosalinda!
- Rosalinda, Rosalinda! É nela que você pensa.
Essa miserável teve o amor de meu pai era a ela que ele queria criar como filha.
Eu fui uma idiota esse tempo todo.
Esmeralda tomada por um profundo sentimento de ciúme com a mente confusa não parava para analisar aquela estranha história que sua mãe lhe contara.
- Esmeralda você está louca.
- Pare de defender essa fulana.
- Esmeralda espere me escute. A verdade minha filha... É que Rosalinda não é sua irmã. Agora como eu não posso te contar.
- Há! Vai me contar sim. Você começou agora vai terminar.
Esmeralda falou com tom ameaçador.
- Pois bem Esmeralda, o filho de Maria morreu e ela pos outra criança em seu lugar.
- Então... Espere, não estou te entendendo.
Se ela trocou, por que não continuou afirmando isso?
- Porque eu a chantagiei.
- Chantageou? Com o que? Porquê?
- Não vou falar mais nada, não posso.
- Ora mamãe seja como for, eu vou fazer Karam acreditar em mim.
- Não vou deixar você fazer isso.
- Você não pode me impedir!
- E vamos encerrar este assunto, eu preciso pensar.
Esmeralda pegou seu xale e saiu desorientada da barraca e Carmecita ficou sozinha, consumida pela amargura e remorso, ela precisava achar uma saída para evitar uma nova tragédia, que se iniciava em sua vida e na de todos.
Absorta em seus pensamentos se encolheu no canto da barraca e pouco a pouco se reportou para aquela noite em que tudo aconteceu.
Flores e Rosas Para Você 33
Com a velocidade da luz ela encontrou uma mulher jovem em trabalho de parto e outra mais velha a lhe amparar.
- Minha filha! Que dó!
- O que foi mãe?
- Ele nasceu morto era um menino.
A cigana jovem começou a chorar e a gritar. A mãe para controlar a situação dá-lhe um tapa em seu rosto.
- Se acalme Maria, reaja!
Soluçando Maria responde:
- Mãe não é possível! O que vou fazer agora, vou perder ele , agora ele não vai se casar comigo
- Porque tudo dá errado em minha vida?
- Fique quieta! Você está fraca, fique deitada que vou dar um jeito de enterrar este menino.
Aquela velha com jeito rude pegou um lampião, enrolou o bebe já sem vida em alguns panos e saiu do carroção as pressas.
Do lado de fora no escuro uma mulher misteriosa a espreitava em silêncio como uma raposa traiçoeira pronta para assaltar sua vítima.
Em silencio a velha era seguida pela mulher misteriosa, andaram por alguns minutos até chegar em uma abertura da mata perto da estrada. A velha, pois a criança no chão sem nenhum carinho e como uma louca começou a cavar, removendo a terra úmida das chuvas que há dias caiam com breves intervalos.
Depois de terminar ela parou de súbito pois ouviu ruídos vindo da estrada, a velha pega o lampião e se põe no meio da estrada, logo surge lá na curva uma charrete. A mente maquiavélica da velha já se punha a maquinar algo que viesse a beneficiá-la.
A charrete parou em frente a cigana e lá de dentro uma voz se faz ouvir.
- Dona Carmecita!
A velha se assusta.
- Epa! Quem esta me chamando?
- Quem está aí?
de dentro da charrete aparece uma senhora com um bebe nos braços e segurando uma trouxinha branca.
- Não se lembra de mim? Sou a ama da menina Flores, fui com ela muitas vezes no acampamento para ela ver o jovem Karam, se lembra?
- Sim, sim, me lembro é claro!
- Mas o que faz por essas paragens?
- Preciso ver o jovem Karam
- Mas ele não está no acampamento, foi com o pai em uma viagem.
- Meu Deus! O que farei agora? Não posso demorar por aqui.
- Mas mulher... Diga-me o que é, quem sabe eu não posso te ajudar?
- Não sei se devo, o que fazer meu Deus!
- Mulher deixa disso, pode confiar!
- É acho que não tem outro jeito, olha, por favor, entregue a Karam a sua linda filha, Flores quer que o pai leve o bebe, mais aqui tem uma carta que Flores explica tudo.
- Nossa! Mas, me diga, Karam sabia que Flores esperava um filho seu?
- Não, não deu tempo, não se lembram, vocês tiveram que fugir de Santa Rosa. Olha nessas trouxinhas tem roupinhas do bebezinho, da nossa Rosalinda.
A ama não tendo alternativa abraça o bebezinho e o coloca nas mãos de Carmelita e sai rapidamente.
A velha cigana com os olhos esbugalhados ria sozinha e freneticamente como a engendrar maldades para o futuro. Via ali a sorte de sua filha mudar. Sumiu pela mata escura de volta ao acampamento, diferente agora com um bebe vivo. E saber uma mulher sempre lhe seguindo.
A velha entrou ofegante e quase histérica no carroção.logo que tomou fôlego pos a filha a par daquela louca historia.
- Mas mãe que vamos fazer com essa menina?
- Vamos criá-la no lugar do seu filho.
- Mas, mãe Karam vai ficar sabendo.
- Não vai não, por que vamos levantar acampamento assim que voltassem dessa viagem.
Flores e Rosas Para Você 34
- Mamãe, você é diabólica, a senhora me salvou, é isso mesmo eu vou ficar com ela para mim. E tudo vai dar certo, o meu amor vai ser meu para sempre.
De repente uma mulher entra no carroção.
- NãoDe repente uma mulher entra no carroção.
- Não vai voltar não?
- Carmecita? O que faz aqui?
- Eu vi tudo sei que este bebe é a filha de Karam.
E se continuarem com tanta trama, eu falo tudo a Karam. E vocês sabem como é a nossa lei,é morte.
As duas atônitas se desesperaram.
- Sua cadela! Eu a odeio!
- Pode me odiar, sabe o castigo de vocês?
Vai ser,criá-la sem ter benefício com isso.
E ele vai ficar é comigo.
Carmecita sai do carroção deixando mãe e filha desesperadas sem saber o que fazer.
Pois tudo que fizeram não deu certo, toda aquela maquinação do mal ao invés de beneficiá-las, fez as duas de prisioneiras para sempre.
Carmecita aos poucos volta para o momento atual de sua vida em que tudo estavam prestes a desmoronar. Continuou por alguns minutos ainda agachada, inerte, sem forças para reagir, sabendo que agora era questão de dias. Carmem entra correndo dentro da tenda e se assusta ao ver Carmecita agachada.
- Mamacita o que esta fazendo aí?
- Nada não, minha filha eu estava pensando na vida, e me distrai. Ajuda-me aqui, menina... Dê-me a mão.
Carmem achando isso tudo muito estranho deu a mão para ajudar sua mãe.
Carmecita apoiando em sua filha saiu da tenda para se ajuntarem com os outros perto da fogueira.
À noite caira sem ser notada, com a rapidez de um meteoro. O céu estrelado mantinha bem lá no alto, e aquele mesmo céu, era admirado pelos nossos andarilhos a quilômetros de distancia do acampamento, que sentados ao lado de uma fogueira, traçavam os últimos planos para a entrada na cidade, o dia havia sido exaustivo, os cavalos estavam cansados. O sol naquela estação do ano era muito quente. As crianças reclamavam o dia todo do calor, da poeira, para Rosalinda, que ria a cada reclamação, ela sempre respondia da mesma forma:
- Crianças, paciência, a noite a aragem é deliciosa, pois fica bem fresquinho. Já chegaremos ao um lugar para descansarmos. Renam vamos cantar!
- Não, não. Conte uma historia para nós.
- Ta bem!
- Era uma vez...
E assim prosseguiram em frente até o anoitecer. Depois que pararam como de costume perto de um rio, Rosalinda se refrescou com um banho juntamente com as crianças enquanto os homens tiravam as celas dos cavalos. Rosalinda buscou uma manta dentro da carroça e cobriu Raul e Renam.
- Durante o dia reclama do calor e a noite o frio, que os meninos reclamões. Afagou os cabelos de cada um e sentou em um pequeno tronco ao lado dos meninos. Juan sentado ao longe a observava com um olhar apaixonado se assustou ao ouvir Pablo:
- Vai ser uma ótima mãe! Não acha Juan?
- Com toda certeza Pablo.
Karam ouvindo este comentário interou:
- Essa menina sempre bondosa e carinhosa, engraçado sempre que a observo vem em minha lembrança uma jovem que tive o privilegio de conhecer um dia.
Rosalinda continuava absorta a olhar para as estrelas, sem ao menos supor que era o alvo de comentários.
- De que o senhor está falando?
- Ah! Juan! É de Flores!
Miguel ficou assustado arregalando os seus olhos, pois nunca ouvira Karam mencionar aquela historias.
Karam como que estivesse abrindo uma porta que desse acesso ao passado, meio emocionado e aliviado, relata com voz embargada, a todos que quisessem ouvir a sua linda e triste história de amor.
Menos Rosalinda que estava mais afastada com as crianças, absorta olhando as estrelas supunha que fosse pela expectativa da chegada, Juan se aproxima mansamente e toca seus cabelos, Rosalinda tenta se esquivar, se levanta e afasta das crianças em direção das carroças,Juan a segue e antes que
Flores e Rosas Para Você 35
ela se refugie, ele a segura pela mão e a beija, e ela cansada de tentar fugir deste sentimento, que esta lhe sufocando, se entrega de corpo e alma,naquele beijo terno e com paixão
- Rosalinda case-se comigo? Eu amo como nunca amei outra mulher! Diga por favor, que se casa comigo.
Rosalinda com os olhos marejados de lágrimas, meio que atordoada, diz sim.
- Viva! Viva! Eu a amo!
Ele a toma nos braços, e a ergue rodopiando, por um lado e depois por outro.
Todos vêm correndo quando escutam essa gritaria.
- O que foi meu filho? Juan o que aconteceu?
- Minha gente ela me ama!
- Ela aceitou casar comigo!
- Pare! Pare! Deixe eu também abraçá-los, vamos comemorar, Miguel abra um garrafão de vinho, vamos brindar a felicidade de nossos meninos, Juan e Rosalinda, que as estrelas de vocês brilhem juntas para sempre. E com os copos de vinho nas mãos todos entoaram cânticos de amor cigano. Karam se aproximou de Rosalinda, ela sorriu ternamente para aquele homem que fora em sua vida a imagem perfeita de um pai, passou a mão em seu cabelo e Rosalinda o abraçou se aconchegando em seus braços.
- Querida, que a sorte brilhe para você e que Juan te faça feliz e te dê muitos filhos.
- Obrigada Sr.Karam, eu acredito que a sorte já brilhou para mim, por ter o Sr. Sempre a me proteger e a me guiar, sempre como um pai zeloso para com a sua filha, e agora serei mais feliz, pois tenho o amor de Juan.
- Isso mesmo minha Rosa... Linda!
Juan gargalhando com vontade, pois estava muito feliz ele a puxa pela mão dançando no meio da roda que se formou. Ao som de violinos a comemoração se estendeu pela noite, Renam e Raul estavam loucos para dormir ficavam perturbando Rosalinda.Então ela despediu-se de todos e levou os meninos para dormir. Nessa viagem Renam e Raul aproximou muito de seu pai,o Pablo. Ele percebendo que seus filhos já tinham adormecido carregou um a um. Os outros ciganos colocaram mais madeira na fogueira e foram dormir um a um.Mais um dia se passara nas vidas dos andarilhos, aproximando muito rapidamente com a tão esperada chegada. Mais um dia de galope e sim, entraria em Santa Rosa.A ansiedade invadia o coração de Rosalinda e de Karam.
X Capitulo
SANTA ROSA
Santa Rosa se tornara uma linda cidadezinha, aquela manhã havia despertado com um sol esplendoroso.
Os moradores começaram logo cedo a enfeitar suas ruas para a procissão da padroeira. As mocinhas alegres por causa da festa da igreja, haveria quermesse e venda dos beijos das moças. As senhoras traziam cestas cheias de flores feitas de papel colorido e bandeirolas com as cores do manto da padroeira azul e branco. As ruazinhas estreitas com seu calçamento de pedra escondiam muitas histórias de amor e de guerra. Aquela cidade com seus habitantes não eram indiferente ao drama vivido por Karam e Flores.Mas silenciara pó medo. O nome de Floriano Galhardo era pronunciado com respeito e temor.
Flores e Rosas Para Você 36
Ele era a lei do poder contra aquela gente simples. A morte de sua esposa havia entristecido e enfraquecido aquela temerária família. Na rua principal já estava toda enfeitada com bandeirolas, lá estava reunido todo o comercio, quitandas, armazéns, igreja, bar, estábulos e tudo que é típico de uma cidade pequena, bastante florida com lindas moças nas janelas, a observar os moços casadores. Neste cenário que adentram os nossos encantadores ciganos com suas belezas e alegria contagiante, desfilaram pela rua principal os seus carroções com seus lindos cavalos, a intenção de Karam, não era ficar ali e sim deixar os cavalos nos estábulos, e acampar mais pelas redondezas. Raul e Renam estavam entusiasmados com as pessoas, com as casas. Rosalinda emocionada com tudo, como se algo inesperado a aguardasse.
Mais a frente dos rapazes, estava Karam ao lado de Miguel, montando um lindo cavalo malhado, sempre altivo mais tristonho, a volta a Santa Rosa, depois de tantos anos era muito doloroso, mas com o coração sangrando se mantinha firme. As pessoas saiam nas portas das casas com curiosidades e preocupação pela fama, às vezes injustas de desonestos. Karam procurava tranqüilizar seus companheiros quanto àquela situação. Chegando às estrebarias, enquanto os homens tratavam de negócios, Rosalinda conversava com Raul e Renam, quando aproximou três mocinhas meio encabuladas, uma delas falou:
- Oh!... Ciganinha... Qual é o seu nome?
- Rosalinda, esse é Renam e aquele garoto é Raul apontando mais a frente.
- Você lê nossas mãos?
- Olha, eu leio, não sei se devo!...
- Há! Porquê? Não tem nenhum problema uma das jovens era mais afoita elegante de tez alva com bochechinhas rosadas, deu a mão para que Rosalinda lesse o seu destino, ela devia ter seus 16 anos, mais a sua atitude demonstrou determinação e essa atitude encorajou Rosalinda.
- Pois bem, então vou ler.Descendo da carroça arrumou os cabelos e pegou a mão fria da mocinha.
- Qual é o seu nome?
- Antônia e minhas amigas são Amália e Rosa.
- Pois bem... Ler as linhas das mãos é uma das nossas tradições, mas leio também através das cartas que é o tarô, mas vou ler...Vejamos:
Olhando a mão tão suave passou o dedo pela linha, fechando os olhos por alguns segundos como a se intuir, começou a falar suavemente.
- Antônia, sua linha da vida, veja é essa central...
- Sim, estou vendo, o que tem?
- Ela me mostra que você vai ter uma vida longa. Essa aqui do lado é a do coração é a que fala do amor...
- Diz... o que tem ela ?
A mocinha estava com os olhos arregalados, ansiosos.
- Você vai encontrar no seu destino sua alma gêmea.
- Quando?
- Não vai ser agora, não vai demorar, ta cedo ainda.
- Cedo nada! Já estou com 16 anos.
- Mais o amor não depende da idade.Ele vem de longe e vocês vão se conhecer.
- E aí diz se meu pai vai consentir?
- Rosalinda riu da ingenuidade da menina.
-Não, não diz mais vejo muitos obstáculos a serem vencidos.Vejo também muitas mudanças.
- Será que vamos embora?
- Não é esse tipo de mudança, é assunto de família. - Só se for alguma coisa sobre meu avô.
- Vou te dizer o que meu coração esta sentindo que você vai ser muito feliz.
Antes que pudesse ler das outras, Karam chegou e todas saíram correndo assustadas.
- Rosalinda o que deu em você? Não sabe que não deve?
- Mas Sr.Karam foram elas que me pediram!
Flores e Rosas Para Você 37
- Querida eu sei, mais essa cidade, ela é muito preconceituosa, e se espalha que os ciganos estão explorando as pessoas... Você não poderia avaliar o estrago... Que poderiam fazer em nossas vidas.
- O Sr. fala como se tivesse tido alguma má experiência com essas pessoas?!
- Oh! Menina você nem imagina... Vou lhe contar...Há muitos anos atrás, estivemos nesta cidade. Neste instante a fisionomia de Karam que sempre demonstra serenidade se torna taciturna.
- Rosalinda há uns vinte anos passados eu e o nosso povo estivemos aqui, com os mesmos propósitos de agora, mas você sabe às vezes o destino nos traz surpresas boas e também ruins.
Fazendo uma pausa, para ganhar mais forças continua.
- Conheci Flores, moça linda, pela qual me apaixonei prontamente e fui correspondido de imediato, mas a maldade das pessoas é tão imensa, que nem pensaram senos fariam sofrer, se destruiriam nossas vidas.
- Mas...O quê aconteceu a Flores?
- Não sei... Até hoje me faço essa pergunta. Onde estará o meu amor? O que aconteceu a ela?
Karam passa a mão por seus cabelos grisalhos, e continua a narrativa.
- O pai de flores era um homem muito poderoso e orgulhoso era temido por todos, e não admitia nunca sua filha se casar com um cigano, o qual ele julgara e condenara a uma vil sentença de morte. E todos ou por medo ou porque também pensavam como ele concordou.
Foi horrível minha filha, naquela noite eles entraram mata adentro com a intenção de me enfocar usando o argumento de que eu teria roubado em sua fazenda cavalos e jóias. Algumas das mulheres da cidade se uniram a eles dizendo serem defensoras do lar. Fomos pegos de surpresa, que absurdo essas mesma mulheres que dias atrás iam atrás das ciganas para lerem sua sorte, estavam naquele momento a bater e puxar seus cabelos.
- Rosalinda que não continha as lágrimas que teimosamente desciam de seus olhos.
- Mas como o senhor conseguiu fugir?
- Meu pai e meu tio me obrigaram a fugir, vivi um verdadeiro pesadelo, tive que sair as pressas não pude despedir de Flores.
Novamente faz uma pausa, tira um lenço do bolso enxuga o suor da testa, era visível o seu nervosismo
- Foi horrível, horrível, os fazendeiros no meio da noite invadiram o acampamento batendo quebrando como eu já lhe disse nos pegou de surpresa. Eles se defendiam como conseguiam.
Um tiro foi dado para o alto, era o pai de Flores,todos pararam ele gritou:
- Eu quero o jovem cigano para enforcar aonde esta este miserável? Meu pai que no meio da confusão obrigou-me a fugir respondeu que eu já havia partido a alguns dias e que ninguém sabia ao certo aonde eu teria ido.
- Bando de mentirosos e ladrões.
Vou dar uma lição para que ninguém nunca se esqueça de quem eu sou, e quem manda por aqui.
- Eu estava escondido no meio da mata pude ver em meio às ramagens, ele pondo fogo em tudo com a ajuda dos outros fazendeiros batendo nas crianças e nos velhos. O meu pai e o meu tio estavam amarados para intimidar o restante. Lá no meio da mata só se ouvia era choro e grito, depois de algum tempo eles permitiram que todos partissem com a promessa de não mais voltar.
- Então, porque voltamos ? Porquê ?
Que lugar horrível, que pessoas más!!
- Rosalinda os tempos são outros e as pessoas mudam!
- Por que ninguém nunca me falara sobre isso ? Porquê?
- Bem !! Na época, meu pai proibiu a todos de falar , ele queria que todos esquecessem aquele triste episodio, meu pai se sentira humilhado para me proteger ele não pudera reagir. E o tempo foi passado e tudo foi se modificando ou quase tudo, o meu amor é o mesmo por Flores, não tenho mais ódio do sr. Floriano o pai da mulher que sempre amei.
- Que história triste, eu sinto tanto, meu coração esta doente.
Flores e Rosas Para Você 38
Rosalinda ficou inconsolável, lágrimas continuaram a escorrer de seus olhos, ela sempre foi muito sensível, Karam não supunha o quanto àquela história a tocara tão profundo em seu coração. Karam percebeu naquele momento a sua dor.
- Xi! Xi! Rosalinda, oh minha menina, já passou! Venha não chores mais, venha aqui sente ao meu lado.
Puxando-a pelo braço sentou-a sobre um caixote de madeira.
- Veja olhe ao seu redor a cidade é a mesma, os tempos são outros e eu acredito que as pessoas mudaram.
Afagou os cabelos de Rosalinda, aconchegou-a em seu peito procurando acalmá-la.
- está melhor ?
- Sim!
- Então vou deixá-la, tenho que encontrar com os rapazes, vai ficar bem com os meninos.
- Sim, pode ir tranqüilo, vou ficar passeando com eles por aí.
- Eh! Não se afaste muito daqui, certo ?
- Certo! Boa sorte!
- Pra vocês também!
Rosalinda ficou observando aquele homem se afastar com passos firmes e rápidos.
Encostou-se à árvore e ficou a pensar naquela história linda e triste e ao mesmo tempo horrível, quando foi sacudida, tendo que voltar para o momento de agora.
- Ei que susto Raul, quer me matar do coração ?
- Ah! Ah ! Ah!
- É ria, você vai ver vou te assustar também. Aonde esta seu irmão ?
- Está ali atrás brincando com os meninos.
- Meninos daqui ?
-Éh ! Ficou doida se nós somos os únicos meninos ciganos que chegaram na cidade é o que eu acho? Mas você ficou preocupada por quê ?
- Ah! Na é por nada não, preocupação boba, mais vamos lá chamá-lo para darmos uma volta, o que você acha?
- Eu vou se você comprar doces para nós.
- Lá vem você barganhar.
- Compra, compra ?
- Ta bom, vamos logo.
Rapidamente eles saem ao encontro de Renam.
Santa Rosa estava movimentada com os preparativos da festa da padroeira. As crianças estavam encantadas com tudo que viam, como prometido Rosalinda comprou doces dos quais enfiaram tudo na boca.
- Meninos que maneiras feias, não ponham tudo na boca.
- Hum , hum que delícia!!
Os irmãos exclamavam ao mesmo tempo, com a boca cheia de doces.
- Não fale com a boca cheia Renam, e você Raul, já pensaram o que a mãe de vocês falaria se visse isso, tenho certeza que diria, sermos simples não é feio, mais sermos mal educados isso não.
A meninada começou a rir, até o dono do empório achou graça.
Rosalinda chamou as crianças e saíram a passear. Neste momento uma charrete se aproxima, e uma jovem risonha grita chamando atenção de todos em volta.
- Ciganinha, ciganinha...
- Olá! Dona Antônia – Rosalinda meio surpresa responde.
- O que vocês acham de irem comigo para um passeio
- Ah! Não devemos...
- Por que não ? Desculpe-me mas... qual é o seu nome ? Quando eu a conheci fiquei um pouco nervosa, me esqueci.
- Rosalinda é o meu nome, este é Renam é o mais velho.
A criançada ficou animada com o convite.
- Vamos Rosalinda! Renam animado fala.
- O que tem de ruim, é só um passeio! Diz Raul tentando convencer Rosalinda.
- É que o senhor Karam disse que não afastássemos dos carroções.
Flores e Rosas Para Você 39
- Prometo que voltaremos logo.
Falando assim Antônia com os dedos forma uma cruz, levando naFalando assim Antônia com os dedos forma uma cruz, levando na boca selando com beijinhos. Rosalinda sorriu com o gesto da jovem menina.
- Está bem todos me convenceram,então vamos.
Assim os três subiram na charrete e seguiram para o passeio.
- Juanito siga para a fazenda
- Sim senhora.
- Mas você disse que seria um breve passeio.
- Calma e será, olha gostei de você e quero oferecer uma deliciosa merenda preparada pela minha querida Na.
- E pra nós nada? Perguntou Raul meio desapontado. Todos riram.
- Claro crianças para vocês também o passeio seguia com tranqüilidade Antônia mostrando a eles os locais predileto por ela.
- Eu sei que curiosidade é feio, mas Rosalinda me responda, como é a vida de vocês? Como é viver em acampamento? Desculpe-me tanta pergunta.
Rosalinda sorriu com seu jeito de menina compreensiva.
- É normal, não se preocupe.
- É porque nunca conheci pessoas como vocês, quero dizer cigano.
Ficando sem jeito se calou, Rosalinda riu da situação.
- Bem dona Antônia...
- Por favor não me chame de dona
- Está certo, Antônia a nossa vida...
E assim iam os cinco a caminho da fazenda conversando, rindo e as crianças se divertindo. Enquanto isso na cidade de Santa Rosa, vamos encontrar Karam no Empório de Artuzito.
- Bom dia , o que vocês desejam por essas bandas?
- Comercio de cavalos, respondeu Karam.
- Parece que não recorda mais de mim?
- Sou Artuzito, filho de Arturo.
- Não sei... É mais sua fisionomia não é estranha.
- É os anos me modificou, ganhei uma barriga e cabelos brancos, mais você continua quase o mesmo de 20 anos atrás, é isso não é ?
Vinte anos.
- Eh! Estou recordando de você sim, eh! Tem uns 20 anos.
- Pois é Karam chegaram em boa hora no domingo os fazendeiros vão fazer uma feira de compra e venda de cavalos.
- Parece que sim. Gustavo entrou na conversa.
- Sr. Karam temos que comprar fumo e corda.
- Pegue aí, quanto é Artuzito ?
- Vamos logo com isso, estou preocupado com Rosalinda e os meninos.
Neste momento Artuzito comenta meio que surpreso.
- Ei! Vi uma ciganinha e dois meninos sair com dona Antônia de charrete.
- Mas quem é essa dona Antônia?
- Você não vai acreditar!
- Me diga logo você ta me deixando preocupado.
- Se prepare, é a neta do sr. Floriano.
- Raios !!!
Esbravejou Karam.
- Calma sr. Karam, me diga o que esta acontecendo?
Não estou entendendo mais nada.
- Gustavo larga tudo ai e vai avisar o Miguel que vá com todos para o acampamento eu explico depois, vou atrás de Rosalinda antes que seja tarde demais.
- Tarde demais??!? Porquê ??? Como ?!?!
- Já falei depois explico tudo, mas agora vá.
Flores e Rosas Para Você 40
- Artuzito, viu que rumos tomaram?
- Rumo a fazenda.
Karam estava atormentado.
- Bem Artuzito, depois nos falamos.
Karam transtornou, como se todos os fantasmas do seu passado estivessem naquele momento o atormentando. Montou em seu cavalo, sem olhar para trás, saiu em disparada em direção a fazenda. Seu pavor era tamanho que nem se dava conta que aqueles caminhos fora os mesmos que outrora, jovens enamorados, sem medo por eles passeavam.
Os jovens já chegaram a fazenda, a mesa de quitutes, quitandas, doces e bolos estavam maravilhosamente colocada em baixo de uma frondosa árvore tudo aos cuidados da habilidosa Jandira cozinheira de longas datas da fazenda.
As crianças corriam embaixo de árvores que cuja copas que com tantas frutas arrastavam ao chão. Mangueiral florido e perfumado, laranjeiras, limoeiros a perder de vista, para os meninos não havia paisagem mais apetitosa.
Rosalinda estava encantada com a beleza do casarão antigo, cuja majestosa arquitetura transpunha o século. Antônia se pusera a disposição par contar-lhe as histórias ouvidas de seus pais e de velhos criados.
- Rosalinda, venha vamos entrar quero que você conheça a minha casa e quero apresentá-la ao meu avô.
- Venham crianças.
- Deixe-nos aqui brincando.
Ta bom mais se comportem.
- Rosalinda é impressão minha ou você esta preocupada?
- Não é impressão não, estou realmente preocupada.
- Ma por quê?
- É que o sr. Karam me pediu que não afastássemos dos carroções.
- Ei não fique assim, já voltaremos a cidade.
Não percamos mais tempo vamos entrar.
As meninas adentraram por um salão bonito e elegante, mas com uma atmosfera tristonha, lindos quadros embelezavam o ambiente, os olhos ávidos de Rosalinda percorriam tudo, objetos que pareciam valiosos. Tudo lhe era belo mais a cada hora, seu coração apertava mais e uma agonia invadia a sua alma, trazendo uma intranqüilidade que não lhe era peculiar. Sentado em uma poltrona confortável, estava o avô de Antônia, calado com olhos baixos, fumando seu cachimbo.
- Vovozinho...vovô
- Olá minha querida, venha até aqui, quem é essa mocinha, aproxime-se.
- Vovô ela se chama Rosalinda, venha Rosalinda
Rosalinda meio encabulada aproxima-se
- Flores ?!?!
- O que o senhor esta dizendo? O sr se enganou ela se chama Rosalinda.
- Me desculpe, por um instante pensei que estivesse na presença de sua tia Flores.
Neste momento entra Ana a velha governanta da família.
- Nah, venha conhecer minha mais nova amiga.
Ana com passos trôpegos se aproxima.
- Meu Deus uma ciganinha?!?!?
- Cigana?
Nervoso sr Floriano indaga a sua neta
- O que significa isso Antônia ?
- Por favor vovô se acalme.
Ana se aproxima de Rosalinda trêmula pergunta:
- Menina qual o seu nome?
- Rosalinda.
- Meu Deus, minha menina!!!
Lágrimas e soluços encharcava o seu peito, lavando sua alma. Ana se aproximou ainda mais e tocou o pingente que ornamentava o pescoço de Rosalinda.
Flores e Rosas Para Você 41
- Oh ! Meu Deus eu acreditava que a tinha perdido pelo mundo, eu pedia a Deus todos os dias por este momento. Neste meio prazo ouviu-se um tropel, e um homem invade o salão.
Ana de frente a Karam, começa a passar mal, e é amparada por Antônia que puxa uma cadeira e a senta abanando com a mão o seu rosto.
Rosalinda esta perplexa, sem compreender nada. O sr. Floriano grita estupefato diante da situação.
- O que significa isso ? Como se atreve a entrar em minha casa?
- Sr. Karam o que faz aqui? Rosalinda pergunta.
- Eu é que te pergunto eu não te falei que não afastasse do carroção?
Antônia que pensava estar fazendo algo de bom, levando sua nova amiga para que seu avô a conhecesse, diante de tanta confusão se calou. Rosalinda estava assustada responde:
- Bem, mais.... Desculpe-me.
Neste momento entra na sala um empregado da fazenda.
- Sr. Floriano esta precisando de alguma coisa?
- Acompanhe este cigano para fora de minhas terras.
- Antes que eu saia eu quero perguntar a essa senhora o que estava falando quando entrei na sala
Ana se levanta e caminha para perto de Karam.
- Meu filho não se lembra de mim ?
- Sou Ana, criei a menina Flores.
Karam estava pálido.
- Se cale Ana, nem uma palavra a mais, por culpa deste homem perdi minha filha.
- Me perdoe meu senhor mais não posso mais me calar diante desta situação. Desde aquela noite em que levei em meus braços para você Karam sua linda filhinha que não durmo em paz.
- Minha filhinha, como ?!?!? O que sta me dizendo mulher?
Karam ao ir buscar Rosalinda acreditava que estaria salvando-a de um constrangimento não imaginaria que a vida com seus desígnios estaria reparando os erros. Ana que estava em silêncio pensativa começa uma triste narrativa:
- A vinte anos mais ou menos, em uma noite fria e escura, a pedido de minha menina Flores, eu levei em meus braços a filha que Flores dera a luz para entregá-la a você Karam, criar sua filha até que ela fosse ao seu encontro, como você estava fora do acampamento viajando com seu pai, entreguei nas mãos daquela velha cigana que se chamava Maria. Junto com o bebe deixei uma carta, roupinhas e a corrente com o pingente que Flores usava, na carta Flores contava para Karam do nascimento de sua filha que ela sabia que ele nem desconfiava de sua gravidez.
Ana de repente emudeceu, a emoção tomou a todos ali presentes, o silêncio foi quebrado por Karam.
- Eu juro que não sabia que tínhamos uma filha.
- Não houve tempo para que ela lhe falasse. Vocês foram expulsos daqui e foram embora. Eu procurei notícias e soube onde vocês estavam acampados. Flores com medo do pai escondeu sua gravidez o quanto pode. Quando o sr. Floriano descobriu, ficou vigiando a chegada do nascimento para tomar-lhe o bebê. Quando aproximou a data Flores fugiu e refugiou no convento das Carmelitas. Mas com medo que seu pai fosse ao convento ela mandou me chamar e me entregou sua filha com essa missão.
- Mas o que aconteceu com minha filhinha?
- Aí está sua filha Karam, não sei o que houve, mais Rosalinda é sua filha, foi o nome que Flores escolheu para ela, que era a rosa mais linda que já tinha visto, e basta olhar para essa menina e ver a semelhança com a mãe.
Todos olhavam para Rosalinda que corava copiosamente, Karam aparentemente muito emocionado lhe dá um forte abraço.
- Meu Deus, minha filha, filha do meu único amor, este tempo todo ao meu lado e eu nem sabia.
Floriano que tudo ouvira em silêncio com voz tremula, chama por Flores.
- Flores minha filha o que fiz a você?
- Foi tudo culpa sua, seu miserável, eu devia era ter lhe matado por sua causa minha filha morreu. Saiam daqui, antes que eu o mate com minhas próprias mãos
- Basta, o sr não compreende nada, não é ?
Não adiantou ter nos separado, aqui esta a nossa filha, por sua culpa, de seu orgulho, sua prepotência, de sua maldade que Flores morreu.
Mas não conseguiu destruir o nosso amor aqui esta a prova estampada em seu rosto.
Pegando as mãos de Rosalinda as beijou suavemente.
- Seu poder de maldade não tem mais força sobre mim, não sou mais aquele menino.
Flores e Rosas Para Você 42
Não vou permitir que o sr faça alguma maldade com Rosalinda.
Neste momento Antônia aproxima-se de Floriano põe a mão sobre seu ombro.
- Vovozinho, Rosalinda é sua neta, ela tem o meu sangue, o nosso sangue.
Ruborizado Floriano levanta seus olhos e fita profundamente os olhos de sua neta Antônia.
- Você é muito jovem para compreender essa situação.
- Não vovô o sr me desculpe, sou jovem não nego, mais é engano do senhor, pensar que compreendo o senhor, e toda esta situação, cresci vendo o senhor sofrendo.
Antônia se volta e pega a mão de sua prima.
- Você deveria ter lido em minha mão que éramos primas.
- Nem tudo nos é revelado.
- Venha Rosalinda, vamos embora.
Naquele salão uma tristeza imensa invadira os corações de todos os presentes, Ana chorava baixinho as crianças entraram de súbito.
- Rosalinda... você não vai comer doce ?
Raul pergunta alegremente, Rosalinda que ainda chorava tenta disfarçar o embaraço do momento.
- Venham meus queridos, outro dia eu experimento os doces, agora precisamos ir.
Rosalinda pegou-o pelas mãos e saíram, Antônia saiu logo atrás.
- Esperem, esperem, vou mandar levá-los.
- Não precisa damos um jeito de voltarmos.
- De maneira nenhuma mandarei levá-los sim, subam na charrete.
Neste meio tempo mandou que preparasse uma cesta com doces e bolos para as crianças levarem.
- Vão com Deus!
-Até mais Antônia.
Karam montou rapidamente o seu cavalo e foi acompanhando a charrete até a cidadezinha.
A tarde já estava caindo quando chegaram no acampamento, Miguel juntamente ao restante dos homens estavam aflitos, aguardando a chegada de Karam.
- Miguel… ?!?!?
- Mais o que aconteceu Karam? Diga-me porque demoraram tanto ? Parece que viu fantasma !
- É que…
- Desembucha homem!!
Por fim Karam respira fundo
- Miguel você estava certo havia um mistério ao redor de Rosalinda.
- Como assim?
- Ela é minha filha e de Flores
- Como soube disso ?
- Venha vamos nos sentar que vou contar a todos o que aconteceu, mais antes me sirva um vinho para recobrar as energias.
Gustavo buscou vinho para todos e sentaram todos ao redor de Karam, Rosalinda chegou , e cumprimentou a todos Karam se acomodou,bebeu uma boa golada de vinho e relatou a todos o que havia acontecido.
Rosalinda se encontra sozinha dentro da carroça entre suas almofadas, lágrimas escorriam em seu rosto
- Meu Deus !! Parece que o mundo esta caindo sobre os meus ombros!? Que história mais louca. Quem era minha mãe ? O tempo todo ao lado de meu pai sem saber que ele era o meu verdadeiro pai ? meu Deus.
- Rosalinda? Rosalinda? Posso entrar?
A entrada de súbito de Karam faz com que Rosalinda sufoque seus soluços e enxugue seus olhos rapidamente.
- Pode entrar!
- Minha filha… posso falar com você…
- Claro sr. Karam… sente aqui.
Ajeitando algumas almofadas, Karam entrou e sentou por alguns minutos ficou em silêncio.
- Rosalinda eu imagino como você esteja sentindo, filha! Como puderam fazer isso conosco ?
- Sr. Karam?? Digo pai !!
- Eu sei Rosalinda é difícil, é tudo novo para nós.
Flores e Rosas Para Você 43
- Sim o sr tem razão, mais a verdade é que sempre lhe amei como se fosse meu pai, o que mudou é que agora sei que é verdade.
- Mais senhor estava pensando em minha verdadeira mãe, como ela deve ter sofrido!!
- Eu também penso nisso!!
- O sr sabe como ela morreu?
- Isso par mim é um mistério, mais eu vou descobrir, olha minha filha eu aceitei as imposições sem lutar .
- Mais o sr foi obrigado e tinha que proteger seu pai e a nossa comunidade, quantas famílias que dependiam de seu pai, nãohavia outra saída.
- É realmente não havia escolha, pobre Flores porque ela não fugiu, por que ela não foi atrás de mim, mais nós combinamos…
- Mas sr. Karam … digo papai , se esqueceu que ela estava grávida ?
- É você tem razão. Pobre Flores… Como ela deve ter sofrido!! Como me sinto culpado.
Karam estava profundamente abatido, aquele dia para ele sem dúvida nenhuma trouxera tantas revelações lindas e tristes. Ele ficara conturbado, pois o seu sentimento estava dividido entre a alegria e a tristeza. Alegria de descobrir sua filha ou melhor que sua filha era Rosalinda, a jovem que ele tanto admirava que havia crescido sempre ao seu lado.
Quanto tempo desperdiçado sem que ele soubesse a verdade. . mas agora o torvelinho havia sido puxado e nada mais poderia impedir que chegasse ao termino. Karam não imagina que terríveis tramas encobriam aquela história. Choraram muitos, abraçados ficaram por muito tempo.
O manto negro da noite caira rápido e eles nem perceberam a infinidade de lindas estrelas acompanhando a enorme lua que iluminava os carroções.
- Posso dizer minha amada filha durma você precisa descansar não está com fome?
- Vou comer uns bolos que veio da casa de Antônia, mas o senhor tem razão preciso descansar. Amanhã vai ser um novo dia em nossas vidas o que o senhor pretende fazer ?
- Bem !!! Vamos concluir o que viemos fazer e ai…
- E ai o quê?
- Bem voltaremos para o acampamento e iremos atrás da outra parte da história que está faltando.
- Mais será que lá alguém sabe sobre essa história ?
- Não sei, não sei, mais eu juro que descobrirei, doa a quem doer. Por você, por sua mãe eu preciso fazer isso.
Dando um beijo na testa de Rosalinda, Karam diz boa noite e sai da carroça.
Rosalinda encostou-se a suas almofadas e ficou por minutos quietinha, absorta em seus pensamentos respirando aquela aragem que entrava em sua carroça.
A brisa suave roçava seu lindo rosto, como um carinho e ela sentia agradecida pelas dádivas recebidas.
O burburinho da cidade ia se acalmando e os ciganos já acomodados em suas carroças o som suave de violino de um cigano acalentava a noite.
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CAPITULO XI
No acampamento a rotina era a mesma sem os nossos andarilhos, os ciganos agachados a volta da fogueira, conversando e contando casos vividos, uns tocando os seus violinos, as ciganinhas sonhavam acordadas e dançavam rodopiando suas saias cheias de babados.
Esmeralda com olhos esbugalhados, calada sentada sobre um caixote de madeira, Carmecita que de longe a observava preocupada fora interrompida por Matilde que chegara em silêncio e sentou ao seu lado.
- O que você pretende fazer Carmecita ?
- Sobre o quê?
- Ora, estou vendo que está preocupada com Esmeralda.
- Não sei…
- Pense bem, pois este segredo envolve também a mim .
- Mas você não fez nada de errado.
- Como não fiz? Calei-me por todo esse tempo e a Esmeralda o que você acha que ela vai fazer ?
- Matilde, minha filha esta enlouquecida.
Neste momento Ermínia se aproxima.
- Esta noite que passou tive uns sonhos ruins…
- Que sonhos? Pergunta Matilde.
- Sonhou com seus filhos ?
- Talvez seja preocupação.
- Pode ser carmecita, foi um sonho tumultuado mas não foi com os meninos não, mas com Karam e Rosalinda, mas porque com eles? O certo seria com meus filhos.
Matilde olha para Carmecita com um olhar intrigante.
- Que estranho você não acha cita ?
Carmecita ficara pálida.
- O que foi Carmecita? Você ficou estranha, depois que eu falei isso!
Ah! Não é nada não, impressão sua Ermínia.
As ciganas se calaram ficando cada uma com seus pensamentos e sofrimentos a ouvir uma linda e triste canção.
Aquela noite os ciganos que sempre entoavam canções alegres que lembrava aventuras e caçadas estavam diferentes, um pouco tristes parecia um lamento.
A noite transcorrera para todos com muita agonia e ansiedade. E o raiar da manhã veio como um balsamo acalentador , o sol que brilhava no céu ocasionava mil matizes sobre a paisagem indiferente aos sofrimentos de todos. A cidade já estava acordada nas primeiras horas do dia e os ciganos já estavam a resolver a venda de seus animais.
A manhã passou como uma estrela cadente, o sol já estava a pino no alto do céu, quando Karam entrou no comercio de Artuzito. Com seu pisado forte sobre o assoalho de madeira chamou a atenção de Artuzito que estava mais ao fundo empilhando umas mercadorias.
- Que bons ventos o traz aqui?
- Não sei Artuzito se são bons ventos!
- Do que esta falando homem?
- Quero lhe fazer algumas perguntas sobre o sr. Floriano e sua filha.
Mas pelo que for mais sagrado em sua vida, me fale a verdade.
Artuzito que ficara pálido como uma cera fez de desentendido.
- Como ? Porque pensa que eu sei algo?
- Você sabe, não adianta negar! O que aconteceu a Flores depois que o bebe nasceu?
Diante da afirmação de Karam, Artuzito não teve como negar.
- Bem Karam, o que eu sei acho é o que todos souberam, que depois do parto ela contraíra uma moléstia que levou ao falecimento.
- Não acredito em você… você deve saber algo mais…
- Te juro que tudo que sei é o que estou dizendo.
Karam diante dessas respostas ficara cabisbaixo se despediu e saiu, do lado de fora do comércio. Karam ficara inerte por alguns minutos, com o olhar parado em algum ponto do tempo, estava
Flores e Rosas Para Você 45
determinado em descobrir o que havia acontecido, então resolve voltar a fazenda. Subiu em seu cavalo e partiu em forte galope, não era do desejo dele voltar naquela fazenda, mas não havia outra saída ele tinha que falar com Ana. Ela devia saber mais. Como já era esperada, a recepção na fazenda foi hostil pelos empregados de Floriano que estavam armados até os dentes.
- Não precisa nem apear pode voltar daí mesmo Temos ordens de não deixar você se aproximar de ninguém da família.
Neste meio prazo em meio a gritarias, Ana se aproxima.
- Jacinto, pode deixar ele descer.
- Donana são ordens!
- Eu me responsabilizo, pode deixar.
- Donana se Floriano sabe de uma coisa dessas não quero nem ta na sua pele e nem na minha.
-To dizendo pode deixar esta na minha responsabilidade, venha Karam.
- Sendo assim… Jacinto chama seus homens e sai em silêncio.
Donana com passos trôpegos entrou pela porta do fundo que dá acesso à cozinha, seguida de perto por Karam. O peso dos anos já era visível Logo que entrou procurou logo por uma cadeira para sentar
- Jandira chama as meninas e saiam me deixe só par conversar com esse homem.
- Por que voltou ?
- Dona Ana… Eu preciso saber de fato o que foi que aconteceu naquela época? Seja sincera a senhora foi testemunha o quanto o nosso amor era verdadeiro.
- Já faz tanto tempo, não vai mudar, o que passou, passou…
- É muito importante para mim, por tudo que lhe for mais sagrado, me conte.
Ana tinha lágrimas nos olhos, de maneiras aflitas esfregava as mãos.
- Karam naquela noite que levei sua filha, quando cheguei aqui na fazenda, já encontrei Flores ardendo em febre, noite e dias se passaram e essa febre não cedeu. O médico foi chamado muitas vezes mais não adiantou, ele falou pro sr. Floriano sobre sua doença, ela ficara muito fraca não agüentou…
Karam que ouvira tudo em silêncio, não agüentou e chora copiosamente.
- Vá meu filho, siga teu destino e proteja a menina Rosalinda.
Karam apanhou o seu chapéu que estava sobre a mesa e saiu amassando, ele estava transtornado, não se conformava com aquele triste destino. Voltou rapidamente para a cidade, chegando lá reuniu todos
- Amigos tudo já esta resolvido?
Todos responderam
- Sim!
- Então levantaremos acampamento, partiremos quanto antes possível.
- É melhor Karam, partirmos amanhã logo bem de madrugadinha.
- Eh! Miguel, ta certo bem cedo.
Aquela noite passou como uma tempestade de verão, tempestuosa e rápida. Seguiram viagem logo nas primeiras horas, o sol despontava com eles já na estrada. Os mais jovens estavam alegres com o lucro das vendas que havia sido melhor do que previsto.
Na carroça onde Rosalinda viajava com os meninos estavam calados, respeitando a tristeza de Rosalinda.
Juan sobre seu cavalo malhado, troteava ao lado da carroça de Rosalinda, fazendo brincadeiras para lhe provocar um sorriso. A viagem seguiu seu curso normal sem nenhuma novidade. Karam mantinha-se em silêncio, balbuciando alguma palavra só quando interpelado. Miguel que o conhecia tão bem se calou em respeito.
Flores e Rosas Para Você 46
XII CAPITULO
A FESTA DA CHEGADA
Naquele dia o acampamento amanheceu em festa, muitas comidas sendo preparadas, os viajantes já eram esperados, a qualquer momento chegariam.
As mocinhas se enfeitavam, para elas tudo era motivo de comemoração. Geraldo como todas as manhãs escovava os cavalos , junto aos outros homens.
- Esmeralda para que tanta arrumação?
- Que foi agora mamãe?
Esmeralda responde com voz irritada.
- Vai implicar até com isso agora ?
Não, não é isso, só não estou compreendendo, porque você esta tão feliz?
- Ora, meu noivo esta chegando!
- Seu noivo? Ta ficando doida minha filha ?
- Não to não mamacita, se não vai me ajudar, não me atrapalhe.
Pegando seu chale, saiu rapidamente de sua tenda , deixando sua mãe sozinha. Matilde que passa por Esmeralda, entra atrás de Carmecita
- O que está acontecendo Cita?
- Minha filha está louca Matilde, você não vai acreditar, ela está jurando que é noiva de Juan,
- Que coisa horrível, o que será que ela pretende fazer?
As duas ciganas emudeceram, neste mesmo instante ouve-se gritaria e relinchos.
- carmecita parece que chegaram, vamos lá saudá-los, venha vamos logo!
Elas se juntaram rapidamente da tenda para se juntar com os viajantes. Alegria era geral, todos falando ao mesmo tempo, as crianças entusiasmadas, cantavam para Ermínia, tudo que viram e ouviram lá na cidade.
Do Carmo alegre em ver sua amiga Rosalina abraçando-a lhe indaga sobre a viagem:
-Querida amiga, tenho tantas coisas para te contar, mas só mais tarde, você compreende né?
-Ah! Sua espertinha, quer me matar de curiosidade?
-Não, não, imagina não é isso não! To cansada e com um pouco de dor de cabeça.
Aproximou-se de Do Carmo e deu-lhe um beijo na testa e saiu, Maria do Carmo sorriu, mas sentiu que havia algo diferente com Rosalina, ficou um pouco pensativa, logo alguém gritou seu nome, e ela voltou correndo par se juntar aos jovens ciganos.
Na fazenda a vida continuava como antes como antes, Antônia estava preocupada com a súbita mudança de Ana, estava sempre calada e tristonha, às vezes percebia lágrimas rolando de seus olhos. Naquela manhã Antônia acordara decidida a descobrir o porquê de tantas mudanças, ela saiu de seu quarto passa pelo quarto de seu avô, dá uma pequena espiada ele ainda repousava ela fecha a porta bem suavemente para não acordá-lo segue para a cozinha, Antônia encontra Ana sentada pensativa.
-Nah? O que anda acontecendo?tenho percebido, uma certa estranheza m seu olhar.
-Ora!não é nada não minha menina!
Ana tenta desviar o olhar de Antônia.
- Como não é nada? Não minta para mim, a sra sabe que pode confiar.
Ana fica em silêncio e logo prossegui.
- A verdade é que depois que Karam esteve aqui minha consciência não tem deixado dormir.
- Por quê? Diga-me Nah.
- Chega de tantos segredos.
Estou cansada de tantos segredos.
Ana explode em desabafo.
- Todos pensam que sua tia Flores morreu.
- Mas, o meu avô sempre dissera que ela havia morrido.
- Realmente ela esteve muito doente mas, conseguiu reagir.
- Não estou entendendo.
- Quando ele descobriu que Flores fugira para um convento, ele foi atrás, mas Flores já temendo isso, convenceu a madre que seria o melhor para todos fazendo com que ela jurasse que
Flores e Rosas Para Você 47
ambas haviam morrido só assim salvaria a vida da sua filha. Só que em parte deu errado, pois Karam não soubera de nada. E para ele principalmente par ele ela continua morta.
- Que loucura é essa?
Antônia esta estupefata com essa revelação.
- Minha menina, é a pura verdade, estou muito arrependida de não ter falado para seu avô que ano após ano vem se amargurando com o sentimento de culpa e o Karam? Esse coitado sofreu calado a vida toda.
- E aonde esta minha tia Flores?
- No convento das Carmelitas. Ela acredita que Karam traiu seu amor, pois nunca foi buscá-la.
- Nah! Ele fora enganado, ele nunca soube de nada.
- Agora eu sei disso, mais Flores não sabe.
- Oh meus Deus ! O que fazer me diga menina Antônia.
Por segundos o silêncio tomou conta do ambiente.
- Nah temos que agir antes qye seja tarde, Rosalinda me contou que depois do seu casamento eles levantaram acampamento, se isso vier acontecer nunca mais os acharemos.
- Mas como achar esse acampamento?
- E não se preocupe eu sei onde estão agora vá descansar, deixe que cuido disso na hora certa lhe chamarei
Antônia com toda delicadeza ajuda Ana a se levantar , chama por Jandira e pede a ela que prepare uma bandeja com café, bolos e chá. Logo que Jandira preparou, Antônia pega a bandeja e sai em silêncio, em minutos ela atravessa o salão a caminho do quarto de seu avô. A medida em que se aproxima, o seu coração acelera as batidas. Mas ela tinha que ter coragem para levar em frente, o seu desejo de por fim naquela guerra de ódio que há anos se arrasta pelo casarão. Antônia bate na porta levemente e a abre.
- Vovô… já está acordado ?
- Olá minha netinha entra… que surpresa agradável!
- Vovô Floriano queria conversar um pouco com o senhor.
- Que bandeja apetitosa!
Antônia põe a bandeja sobre um criado.
- Venha para perto puxe essa poltrona.
- O que foi ? Porquê você está com esses olhinhos assustados ?
- Vovô o que sentiu ao ver sua neta Rosalinda?
- Não quero falar sobre isso.
Floriano modificou de súbito sua fisionomia, até sua voz se tornou amarga, mas Antônia encontrou forças para continuar.
- Vovô ela é como eu, o sr não se preocupou nada com ela? No que ela está sentindo e pensando?
Antes que Floriano respondesse ela continuou.
- Quando ouvi aquela triste história, em que eles foram perseguidos por seu ódio, eu não queria acreditar no que eu ouvia. Como o sr pode ser tão cruel com aquelas famílias, o sr é tão bom para mim, me perdoe por estar falando desta forma, talvez até faltando com respeito, mas foi o sr que e meu pai que e ensinaram, sobre a justiça, sobre o poder, mas também sobre o amor, principalmente o amor em família.
Floriano que fora pego de surpresa com tamanha sinceridade e firmeza de caráter que lhe faltava as palavras.
- Vovô… ainda há tempo de reparar um pouco dos erros cometidos no passado.
- Não, minha neta, não tem como voltar no tempo, você não sabe o quanto sofro por tudo que eu fiz naquele tempo eu acreditava que nada poderia me acontecer, pois era poderoso, mas a tragédia se abateu sobre mim e me fora tirada a mais linda flor da minha vida, minha querida filha.
Eu sempre culpei aquele cigano.
Floriano faz uma pausa
Mas , hoje apesar da mágoa que sinto em meu coração, já penso que se eu não tivesse sido tão orgulhoso minha filha estaria viva. Eu divido a culpa não é apenas Karam o culpado eu também fui.
Flores e Rosas Para Você 48
Antônia que ouvira seu avô com respeito e carinho tomada de nova coragem e força prosseguiu no seu intento pela paz e união da família.
- Vovozinho querido, eu sei que sou muito jovem para estar aqui a lhe dar conselhos ou lhe cobrar atitudes diferentes das quais cometeu. Eu sinto que há uma forma em que o senhor poderá modificar esta triste história que todos nós estamos envolvidos.
- Não Antônia não existe nada mais que eu possa fazer. Veja Rosalinda foi criada por ciganos não tem nenhum afeto por nós.
- Mas poderemos vovô conquistar esse afeto. Vovô o senhor precisa saber a verdade sobre a morte de tia Flores.
- Como assim ?
- Bem vovô desde aquele triste episódio que vivemos aqui no casarão eu venho observando a Ana e hoje consegui que ela revelasse para mim o que atormentava-lhe a alma.
Por longos minutos Antônia faz o relato. Floriano a ouviu estupefato toda aquela triste história.
- Minha neta, por favor, vá buscar Ana.
Floriano sentia profundo remorso o que fizera não havia perdão. O medo que implantara no coração da sua amada filha.
Antônia ao retornar nos aposentos de seu avô com Ana o encontra já resoluto no que deveria fazer.
A noite já caira e a tão esperada festa, já se inicia no acampamento. Esmeralda se esmerava para ser a mais bonita de todas; as crianças empolgadas com tantas aventuras contadas por Raul e Renam
Em um dado momento da festa todos estavam ao redor de Karam e ele aproveitou pedindo um minuto de silêncio para anunciar o casamento de Juan e Rosalinda.
- Meus queridos amigos hoje tenho um prazer maior ainda em anunciar a data do casamento de Rosalinda com Juan.
Neste momento Esmeralda se desespera e entra ao meio da roda aos gritos.
- Não, eu não aceito.
- Como não aceita?
Pergunta Karam, todos falando ao mesmo tempo criando uma pequena confusão.
- Sr. Karam ele não pode se casar com ela , porque estou esperando um filho de Juan.
Juan fica atônito com a horrível mentira e Esmeralda continua.
- Ele me prometeu amor eterno, como pode fazer isso comigo?
- Karam isso não é verdade, ela está mentindo todos sabem que sempre amei Rosalinda.
Karam que estava horrorizado com aquela revelação, mas a justiça tinha de ser cumprida era a lei e ele era o líder.
- Se isso for verdade ele casará com você Esmeralda.
Rosalinda estava desesperada ela não podia acreditar naquilo.
Karam fica uns minutos em silêncio e torna a tomar a palavra.
- Esmeralda como eu disse, se for verdade ele casa com você, mas… se for mentira e eu descobrir, terei que cumprir a lei. Justiça e justiça.
- Eu juro que estou falando a verdade, a minha mãe é testemunha eu contei a ela desde o dia que aconteceu.
Todos estavam assustados com aquela notícia tudo ficou diferente agora seria o testemunho de uma mulher que todos respeitava, não se de uma menina mimada e malvada como Esmeralda.
Neste momento Karam grita Carmecita, mas antes que ela começasse a falar, Juan desesperado começa a se defender.
- Karam você me conhece, sabe do meu sentimento por Rosalinda, e que tudo que Esmeralda está dizendo é mentira.
- Eu sei disso, mas também sei que é homem, e o seu passado de romances o condena.
Por essa razão tenho que ouvir Carmecita. Seus argumentos caíram por terra, ele estava desnorteado, com medo de perder seu grande amor. Karam fala firmemente chamando novamente Carmecita que estava muda e amarela Os ciganos se afastam dando passagem para ela, Esmeralda que estava atrás da mãe pressionava para que ela confirmasse tudo. Carmecita estava assustada, os ciganos em círculo ao redor de Karam, com tom imperativo.
- Diga-me a verdade doa a quem doer.
Todos em silêncio,Rosalinda fala lá a trás de todos.
Flores e Rosas Para Você 49
- Cita se for verdade tudo isso, eu calarei o meu amor e deixarei que eles sigam o destino, pelo que for mais sagrado para a senhora lhe peço que seja sincera. Lágrimas escorriam dos olhos de Carmecita.
- Karam você me conhece há muitos anos, eu nunca compactuaria com a mentira, nunca ouve nada entre eles, minha filha ficou louca de inveja e ciúme o amor que ela sente, tirou-lhe o raciocínio.
Neste ínterim, Esmeralda começa a gritar com sua mãe.
- Louca e mentirosa é a senhora.
Seu karam ela diz que não compactua com a mentira, ela sempre mentiu não é mamãe?
- Cale sua boca eu não lhe permito que fale mais nada.
- Como não permite, quem a senhora pensa que enganará agora?
Todos ao redor não estavam compreendendo nada do que estava acontecendo, só Matilde que sabia de todo o passado.
Karam deu um grito.
- Silêncio, pare com isso! Carmecita o que é isso ? O que ela esta dizendo?
Carmecita chorava copiosamente.
- Karam não acredite nela, acredite em mim.
- Sr. Karam pergunte a ela sobre a filha de Maria Hernandez?
Karam com os olhos assustados tentava compreender toda aquela confusão.
- Por favor, eu quero a verdade, o que esta acontecendo por aqui?
- Conte mamãe que Maria Hernandez trocou os bebes.
Neste momento Matilde se aproxima de Cita.
- Cita é melhor acabar com esse sofrimento o mistério continua atormentando a todos. O silêncio que tomou conta do ambiente é quebrado por Cita, que com lágrimas molhando o seu rosto, começa a narrar aquela sórdida história, narra tudo o que vira e o que fizera. Os ciganos horrorizados com tudo que ouviram se revoltaram falando todos ao mesmo tempo instalando o caos. Cita pede a eles paciência para que ela pudesse continuar.
- Karam me arrependo amargamente, por tudo em que fiz parte.
- Meu Deus que horror, você tem idéia do que fizeram com a minha vida. Algum dia fiz mal a vocês?
Quero que todos saibam, que essa história horrível que ouviram, em que fui vítima não somente eu mais, minha filha Rosalinda e minha querida e eterno amor Flores.
Você deveria pagar com sua vida.
Todos falavam ao mesmo tempo, pedindo punição para Carmecita e Esmeralda.
Esmeralda estava agachada segurando a saia de sua mãe e tentava esconder o rosto. Rosalinda que já sabia parte da história chorava muito. Juan tentava acalmá-la.
Pensativa Rosalinda enxugava suas lágrimas.
- Juan vou falar com sr. Karam… Ah! Digo meu pai.
- Papai já ouve muito sofrimento, não as puna com a morte. Creio que o maior castigo a elas vai ser o desprezo; o banimento delas de nossa companhia.
- Você esta certa minha filha, pois bem Carmecita e Esmeralda… Eu como líder de nossa gente tenho que uma obrigação de castigá-las para que esse mal não volte a acontecer, por estas razões que eu as expulso de nosso acampamento por toda a vida.
- E minhas filhas menores?
- Elas ficam aqui, quando raiar o dia eu não quero mais vê-las. Nunca mais cruze os nossos caminhos.
Neste momento Juan aproxima de Esmeralda.
- Esmeralda como pode mentir dessa forma sempre lhe respeitei , todos aqui sempre gostaram de vocês.
Esmeralda sem respondeu saiu gritando e puxando os cabelos , rasgando o seu vestido, ela estava enlouquecida.
Sua mãe saiu correndo atrás dela. Carmem e Manuela choravam num canto escuro perto do carroção de Karam, Rosalinda aproximou-se as abraçou; acalentando-as.
- Queridas tudo vai passar, se acalmem , vocês vão ficar comigo.
- Mas, como vamos ficar sem nossa mãe e irmã?
- Oh ! Manuela, eu sei que é muito difícil para vocês compreenderem tudo que aconteceu, mas quem sabe! Talvez com o passar do tempo o sr. Karam possa perdoá-las.
Flores e Rosas Para Você 50
- Manu não chore mais não, tudo vai passar não é Rosalinda?
- É sim, você tem razão tudo vai passar o tempo é o melhor remédio.
Matilde sai a procura de sua amiga Cita, encontrando-adentro de sua tenda.
- Cita!?!? Posso entrar ? (já entrando)
- Oh amiga lamento tanto por você por Esmeralda.
-Matilde eu já esperava, mas o que eu não esperava que fosse minha filha que fizesse isso comigo, que vergonha.
- Você não deve pensar assim, primeiro que sua filha está doente, segundo que você sabe que o que você fez foi horrível, leviano e traiçoeiro, você destruiu três vidas.
- Ora, Matilde você veio aqui para pisotear em mim ?
- Não, de maneira nenhuma, só que você não é nenhuma vítima, como quer que todos pensem.
Se Maria Hernandez errou junto com a mãe, você também errou e muito e elas já morreram só tem você para pagar.
-Matilde já que todos ficaram sabendo estou pensando em entregar a carta para Karam que eu sempre guardei. O que acha?
- Eu acho que você deveria já ter entregado , ele tem o direito de saber o que Flores lhe escreveu.
Mas agora me dê um abraço forte, querida amiga, que o destino sorria para você e sua filha.
- O que vai ser de minhas filhas Matilde ?
- Não se preocupe tudo vai dar certo, nos cuidaremos das duas.
Matilde estava arrasada em seus sentimentos por Carmecita, mas sabia que teria que passar por essa punição era a lei dos ciganos e Karam tinha sido muito bondoso, em outras épocas, teria sido diferente. Saiu da tenda e fora encontrar com Geraldo seu marido que estava junto aos outros ao lado da fogueira.
Naquela noite todos pensaram, que seria alegre como todas as outras voltas de viagens, que engano, Karam estava desnorteado; triste; sentado em uma tina de madeira; (ou tonel de madeira) fumando um charuto. Embargado de emoção, seu coração apertado que doía em seu peito, quando escutou galhinhos se quebrando ao lado dele, se voltou e viu Carmecita que se aproximava.
- O que quer mulher ?
- Por favor, me escute!
- Não quero vê-la nunca mais.
- Você tem razão em me tratar assim, eu sei que mereço tudo isso e até mais do que isso.
-Então se sabe, suma de perto de mim.
- Karam (…) guardei uma carta que a criada de Flores entregou para D. Maria naquela noite fatídica.
- E como foi parar em suas mãos?!?!?
- Eu tomei das mãos de D. Maria, era a prova contra elas para que ficassem caladas para sempre e o castigo delas eram criar Rosalinda.
- Que trama diabólica que mulheres más, e vocês chamam esse sentimento de amor.
Amor é doação, amor é sacrifício, estou horrorizado, me deixe, vá embora.
Karam percebera em seus olhos, que estava arrependida amargurada, mas estava muito magoado para perdoar. Mas o tempo cura tudo, abriu a carta que estava com o selo quebrado, puxou o lampião mais para perto, e logo reconheceu aquelas finas letras que pertenciam sua linda Flores.
“ Querido Amor de minha vida”
Junto a está carta está indo,a nossa linda filhinha Rosalinda
Estou lhe aguardando para que venha me buscar…
As lágrimas não paravam de rolar por seu rosto, que o tempo deixara, profundas marcas de sofrimento, lera até o final , apertou a carta contra o peito, e em um forte desabafo falou:
- Oh meu amor você esperou que lhe buscasse, antes que isso acontecesse você morreu. Que destino é esse que separa dois corações que se amam?!?
Rosalinda e Juan se aproximaram em silêncio, com mãos delicadas acariciava o rosto de seu querido pai, enxugava seus olhos com um lenço, Juan em silêncio , em forma de respeito o guardava, calmo e sereno ao lado de seu amor.
Flores e Rosas Para Você 51
A lua prateada as árvores, as estrelas no firmamento, parecia um manto bordado por finos dedos de uma bordadeira celestial.
Os dias seguintes prosseguiram com uma certa alegria tristonha, preparativos do casamento de Juan e Rosalinda, os ciganos comentavam entre si sobre o acontecido já com menor insistência.
O dia amanhecera com suave perfume das flores, que começaram a se abrir molhadas ainda do orvalho da noite que se findara. Algumas ciganas com trouxas de roupas na cabeça desciam para o rio para começarem a labuta do dia, criançadas corriam entre os cavalos e os mais velhos ralhavam com eles. Rosalinda cantarolava com sua voz angelical, de repente se ouve uma carruagem se aproximar, todos começaram a correr gritando o sr. Karam que desce do carroção correndo assustado sem compreender o que estava acontecendo.
- O que esta acontecendo Miguel ?
- Karam olhe quem esta chegando!
A carruagem que pe seguida por alguns cavaleiros, para diante do acampamento e de dentro desce a figura imponente e temida do sr. Floriano.
- Venho em paz, calma por favor !
- Mas o que o senhor esta fazendo aqui?
- Venho em missão de paz! Preciso falar com você Karam.
- Não tenho nada a lhe falar.
- Mas eu tenho, estou tentando reparar uma grande tragédia.
Neste momento Rosalinda se aproxima. Floriano ao ver sua neta se emociona, Rosalinda se sente constrangida e um pouco amedrontada, chega mais próxima e se aconchega a seu pai Floriano sabe que todo esse sentimento conturbado é sua culpa, por seu orgulho, tantos anos mergulhado em ódio e rancor. Floriano fez uma pausa respirou fundo
- Por favor, não tenham medo. Eu preciso falar o quanto estou arrependido de tudo, vim aqui esperando não ser tarde demais para reparar o que eu fiz.
Por favor, não digam nada ainda me escute
- Seu Floriano, não adianta nada disso, nada que o sr fale ou faça vai trazer de volta minha amada. Na voz de Karam havia muita revolta.
- Me escute por um instante… Flores não esta morta.
- Como não está ?!?!
- Vim aqui para lhe contar toda a verdade que descobri e desta forma redimir-me perante as vocês e a Deus
Floriano fez-lhes a narrativa conforme Antônia havia lhe falado. Rosalinda chorava de alegria, Karam ouviu tudo em silêncio, seu coração apertava em seu peito, nervosamente passava as mãos por sua cabeleira farta e prateada.
- Não percamos mais tempo vamos ao seu encontro.
Karam estava receoso em acreditar naquele homem, que em outras épocas fora tão perverso (Como poderia mudar rapidamente e se não fosse verdade?).
Floriano como que pudesse ler-lhe o pensamento adiantou-se.
- Sei que é difícil crer em minha mudança súbita, mas minha outra neta Antônia me fez ver como estava errado em minhas atitudes, eu não peço que me perdoe, só que me deixe reparar um pouco dos meus erros!!
- Papai… vamos aceitar a paz, não foi isso que sempre o senhor quis?
- Esta muito bem, vamos então…
Rosalinda abraçou Karam e seu olhar encontrou com de seu avô e se escondeu. Floriano compreendeu , ele sabia que demoraria ter o seu perdão, mas naquele momento ele sabia que havia feito o certo. Poderia passar cem anos, que não desistiria de conquistar o amor de todos. Karam preparou seu cavalo, alguns suprimentos , Miguel e Juan queriam lhe acompanhar.
- É melhor vocês ficarem e cuidar de todos na minha ausência.
- E quanto a mim papai posso ir,em um instante me preparo.
Karam ficara indeciso, sem saber o que fazer.
- Bem, minha filha é preciso ter coragem, pois não sabemos do que nos esperam. Mas é sua história de vida é sua mãe, é mais do que justo você ir também.
Rosalinda saiu correndo para preparar algo para levar, e seguiram viagem em seguida.
Juan ficou desolado, pois gostaria de ficar ao lado de sua noiva, Miguel pôs a mão no ombro do filho a lhe dar apoio.
Flores e Rosas Para Você 52
-
- É muito importante para Rosalinda e Karam meu filho este reencontro, são muitos anos de sofrimento.
- Eu sei meu pai, quanto tempo perdido. O que o preconceito e o ódio não faz.
XIII CAPITULO
E os dias que seguiram foram de angustia e expectativas. Enfim chegaram aos seus destinos.
O convento construção antiga todo em pedra, a atmosfera do lugar trouxera a todos um reconforto espiritual, muitas flores por toda parte, aproximaram-se. Floriano adiantou em bater o pequeno sino dependurado ao alto da porta, logo uma freira os atendeu.
Era de estatura mediana, a tez clara seus cabelos eram coberto por um manto cinza, roupas simples e bem cuidada, maneira gentil e humilde.
- Estamos procurando pela madre Rosário.
- Senhora madre Rosário alguns anos que morreu.
Karam entrou em desespero, Floriano pos a mão em seu ombro como o que acalmá-lo.
- Então a madre que está dirigindo o convento.
- É a madre Guadalupe
- Podemos vê-la?
- Mas quem devo anunciar.
- Diga a madre que sou Floriano, pai de Flores.
Quando pronunciado o nome de Flores a freira enrubeceu.
- esperem aqui por favor, já volto com a resposta.
Fechando a porta rapidamente a traz de si.
Ficaram nossos amigos em silêncio e Rosalinda afastou-se por um instante para conversar com seu Deus.
Olhando as flores ao seu redor, em pensamento se dirigiu Aquele que rege o destino de todos.
“Senhor nos trouceste em paz até este momento, permita-nos o reencontro com minha mãe. A porta se abre e a freira os manda entrar”.
- Senhores e senhorita, me acompanhe a madre vai recebê-los.
Podia-se ouvir os sinos badalarem, freiras transitando em silêncio, havia uma suave atmosfera de oração,cânticos podiam ser ouvidos. Entraram por corredores sombrios e estreitos, frios que chegavam a alma no final do corredor. Podia se ver a imagem de nossa senhora de Guadalupe, que sobre um simples pedestal de madeira, enfeitada com muitas flores brancas e amarelas abençoava a todos.
A irmã que seguia a frente com passos curtos e rápidos,para de súbito.
- Me aguardem aqui – diz em tom imperativo.
Mais adiante a irmã abre uma porta faz um aceno com a cabeça, chamando-os a entrar.
Nossos amigos adentraram uma pequena sala, ao fundo se via uma senhora sentada por trás de uma mesa.
- Entrem, sejam bem vindos, em que posso lhes ajudar?
- Senhora madre, sou o pai da menina Flores, que há muito se refugiara aqui.
A madre ia se pronunciar mais Floriano não permitiu e continuou.
- Por favor deixe que termine minha narrativa.
Flores e Rosas Para Você 53
A muitos anos atrás era eu, um homem de coração de pedra. Acreditava que tudo que fizera era pelo bem de minha filha, não importando com seu sofrimento nem das pessoas que ela amava. E ela para se proteger de minha maldade veio para esperar o nascimento de minha neta aqui.
Hoje senhora madre sou um velho arrependido de minhas ações. Preciso reparar o meu erro. Com as mãos tremulas e com a voz embargada de lágrimas, quase em suplica pedia aquela velha senhora ajuda.
O silêncio pairou sobre todos, Karam e Rosalinda emocionados com tudo que ouvira.
A madre se levantou e pediu que a seguisse, desceram pelos corredores em silêncio, sem compreender o que vinha à acontecer. Alguns minutos se passaram e chegaram a um pátio interno, onde era todo arborizado com lindas rosas de todas as matizes, por todos os lados, ao fundo se via uma pequena casa, a madre sempre em silêncio.
Antes que prosseguisse a madre lhes falou que a esperassem dentro da capela, mostrando ao lado, os três entraram fizeram um sinal da cruz. Floriano foi andando até o pequeno altar com os olhos fixos na imagem linda e serena da mãe de Jesus Sentindo que ela o entendia e perdoava os seus pecados. Rosalinda que nunca havia entrado em uma capela estava maravilhada com sua singela beleza. A madre prosseguia entre os arbustos passou pela casinha, e atrás agachada se encontra uma mulher preparando a terra para novos canteiros de flores.
- Maria preciso falar-lhe.
Aquela mulher simples se levantou, limpando as mãos em seu avental, trazia um olhar tristonho, a pele um pouco queimada do sol por suas atividades constantes no jardim.
A madre segurou suas mãos e confidenciou-lhe o que havia acontecido. Lágrimas lhe rolaram, por seu rosto. Alguns minutos já haviam passado.
Os três postados em frente a nossa senhora a guardavam alguma resposta.
A porta aberta refletia um raio de sol. A madre entra de súbito e logo é seguida por Flores.
Madre Guadalupe se afasta por respeito deixando-os a sós.
Aquela imagem da santa mãe a sua frente seu pai , Karam e sua filha lhe tirava suas forças. Anos a fio se passaram sem que ouvisse respostas as suas orações e naquele momento ela via nossa senhora com os braços abertos como a lhe ofertar os seus amores.
Floriano com passos largos se atirou aos pés de sua filha chorando, clamava por perdão. Flores abaixou e pegou-o pelas mãos:
- Levante papai, não faça assim.
Floriano se recompôs , se voltou pegou pelas mãos de Karam e Rosalinda.
- Flores minha doce filha você sabe quem é essa linda menina e tua filha, querida.
Flores abraça a filha chorando muito, a quanto esperava por estes afagos.
- Querida filhinha, meu amor.
- Mamãezinha, querida mamãe.
Floriano abraça as duas.
- Se acalmem tudo vai ficar bem.
Rosalinda afasta de sua mãe, deixando que ela equilibrasse suas emoções. Em silêncio Karam aguarda que sua vez chegasse.
Floriano segura a mão de Rosalinda e chama-a para dar um passeio para que Flores e Karam possam conversar a sós.
Flores olhando nos olhos de Karam não podia crer que era seu amor que estivesse ali na sua frente.
- Porque você demorou tanto ?
- Meu amor só agora recebi sua carta.
Abraçaram-se fortemente e se uniram em um beijo apaixonado e abençoado pela santa.
Os dois de mãos dadas saíram da capela ao encontro de sua filha.
Os dias se passaram com uma rapidez inesperada. No acampamento os preparativos eram grandes para o casamento de Karam e Flores , Rosalinda e Juan.
Aquela manhã o brilho era mais intenso que o rotineiro.
As ciganas alegres cantavam aos sons de violinos que ecoavam pela mata. Muito vinho, muita carne para a festa. Até as crianças ajudavam na decoração do lugar.
À tarde já caia quando reuniram para a celebração do casamento. A carruagem se aproxima e os violinos cessam.
Karam e Juan esperavam impacientes por suas amadas. Ouve o ruído de uma carruagem aproximando Era Floriano com as noivas e uma comitiva os seguiam. Floriano da a mão para que a mãe e a filha desçam da carruagem. Que visão maravilhosa para Karam. É como se o tempo não houvesse passado para nenhum dos dois.
Flores e Rosas Para Você 54
Ele se aproxima e a toma nos braços . Juan busca Rosalinda que tinha seus negros cabelos presos por um pente dourado sobre véu branco de renda.
Miguel representando o chefe oficializa o casamento música muita alegria todos dançavam. Floriano que fora acompanhado por Antônia olhavam emocionados os noivos se beijarem e neste instante,o olhar de Antonia cruza com o olhar de um cigano apaixonado. E a história continua...
FIM
SILVIA REIS